Carta de um amigo

O CEO da XP Investimentos, Guilherme Benchimol, escreve carta de despedida ao amigo Kléber Hollinger, o antigo dono da corretora Americainvest que morreu na última quinta-feira

Equipe InfoMoney

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“Velho (apelido carinhoso que demos ao nosso querido Kléber Hollinger),

Você transformou nosso sonho em realidade. Quem, em sã consciência, venderia uma corretora para um grupo de garotos, que nunca havia feito nada parecido, e ainda deixaria todo seu patrimônio garantindo essa operação? Apenas você Mr. K – outro apelido, que dessa vez, ele mesmo se colocou.

Foram anos maravilhosos de parceria.

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Foi inesquecível nossa negociação para formalizar a aquisição da sua empresa. Nós, no “auge” dos nossos 30 anos de idade, cercados de inúmeros advogados, acreditando que trocaríamos minutas por dias. Você apenas entrou na sala, nos olhou nos olhos, e falou: “se vocês quiserem me sacanear, sempre haverá uma maneira, não vou ler o contrato”. Em seguida, pegou a caneta, rubricou todas as páginas e assinou. Depois disso, reuniu os 3 funcionários da antiga Americainvest e disse: “agora quem manda são esses caras. Vou para Paris!”.

Na época, fiquei estarrecido, mas após todos esses anos, eu aprendi. Esse era o Klebinho.

Todo mundo sabia que você havia ganho bastante dinheiro com o IPO da Bolsa, mas ainda vimos você “batendo ponto” na XP até 2010 – mais de 3 anos depois da nossa aquisição em 2007.

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Ter você por perto era diversão garantida, uma aula de vida. Em todos esses anos, não consigo lembrar de tê-lo visto triste. Pelo contrário, sempre encontramos você com alguma palavra de apoio, nos ajudando a acreditar, naquilo que, talvez, nem nós acreditássemos.

“Toca Gui, vai pra cima deles”, era essa a frase que eu mais gostava de ouvir. E isso, muitas vezes, era tudo que eu precisava para colocar os planos em prática, afinal se o Velho está me dizendo, é porque deve estar certo.

A única coisa que você sempre fez questão de abrir mão, era a nossa reunião de terça-feira, às 7h30 da manhã: “essa eu vou pular”, nos repetia toda semana.

Lembro dos nossos jantares: eu, Júlio, Ana Clara, Marcelo, Loyola, Marchetti, Xoule, Rossanão e muitos outros. Como era bom ter você por perto. A regra era clara: falar de negócios, só depois de pedir a conta.

Nos últimos anos, estivemos afastados, mas na nossa Expert (convenção anual da XP), convidei você para passar o fim de semana com a gente em Atibaia. Na mesma hora, escutei um “fechado”. “O Velho adora uma bagunça”, foi a frase que veio em seguida.

Foram 3 dias maravilhosos. Você se divertiu muito, aliás, como sempre.

Almoçamos com o FHC, tomamos café com o Abílio Diniz e, à noite, bebemos algumas cervejas, assistindo ao show de Jota Quest.

Na entrega dos prêmios dos nossos melhores escritórios, você apareceu de jaqueta de couro, parecia um “motoqueiro selvagem”. Todos pegaram no seu pé e, tenho certeza, era exatamente o que você queria. O Velho era diferente e adorava escancarar isso para todos.

Na época, não poderia imaginar, mas acho que isso tudo isso era parte de uma despedida, que aconteceria meses depois.

Nos últimos dias, você voltou a adoecer, mas não queria aborrecer ninguém. Foi em paz, sem chamar atenção.

Velho, você lutou e venceu, em todos os sentidos que poderiam existir. Tenho orgulho de dizer que sou seu amigo e que aprendi muito ao seu lado. O céu está em festa e nós, tristes com a sua ausência, mas temos certeza que você continuará nos protegendo, seja onde estiver.

Nós da XP, temos orgulho de termos tido você como sócio e amigo.

Beijos da XP”

Guilherme Benchimol