Ibovespa cai 0,4% e interrompe sequência de 4 altas: o mercado teme a prisão de Eduardo Cunha?

Mercado aguardava pela decisão do Copom e o debate presidencial nos EUA esta noite

Paula Barra

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SÃO PAULO – O Ibovespa aprofundou perdas nesta terça-feira (19) em dia de pregão instável, interrompendo uma sequência de quatro altas. O índice abriu em alta e chegou a superar os 64 mil pontos nesta sessão, mas perdeu força com a prisão de Eduardo Cunha gerando desconforto ao mercado. A notícia anulou a euforia vista mais cedo com os estoques de petróleo nos EUA, que ficaram abaixo das estimativas e impulsionarem os preços da commodity no exterior. O benchmark da bolsa fechou em queda de 0,43% neste pregão, a 63.505 pontos. Vale destacar que, no mês, o índice já avançou 9% e, na véspera, atingiu o seu maior patamar desde abril de 2012. O volume financeiro movimentado hoje ficou em R$ 8,155 bilhões. 

No noticiário político, o ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (PMDB-RJ) foi preso no âmbito da Operação Lava Jato. O pedido de prisão preventiva do peemedebista foi emitido pelo juiz Sérgio Moro, que conduz as investigações da Lava Jato na primeira instância. 

Segundo Alvaro Bandeira, economista-chefe da Home Broker Modalmais, há certo temor do mercado de que Cunha, para preservar a família, possa fazer delação premiada e comprometer boa parte dos políticos que assessoram Michel Temer. “Certamente, há muito o que temer (sem trocadilho), pois Cunha esteve por anos no centro da distribuição de recursos para campanhas políticas. A situação fica ainda mais frágil quando a Suíça está enviando dados da Odebrecht para os promotores da Lava Jato”, comentou.  Contudo, para Pablo Spyer, diretor da mesa de trade da corretora Mirae Asset, a prisão de Cunha foi praticamente um “não-evento” e repercute pouco no mercado. Segundo Spyer, o movimento é normal, uma vez que o índice da Bolsa havia registrado sessões seguidas de ganhos e agora tem um movimento de realização com os investidores embolsando os lucros.

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No radar dos investidores, destaque para a surpresa com os estoques de petróleo abaixo do esperado nos Estados Unidos, os dados do PIB (Produto Interno Bruto) chinês e as expectativas para o desfecho da reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), “com o mercado projetando uma queda dos juros”.

Além disso, o Departamento de Energia dos Estados Unidos informou que os estoques de petróleo no país caíram 5,25 milhões de barris na semana encerrada em 14 de outubro. Analistas consultados pela Bloomberg esperavam um crescimento de 2,2 milhões de barris. O último dado divulgado havia apontado para uma alta de 4,85 milhões de barris. Do lado da gasolina, foi registrado um crescimento de 2,47 milhões de barris. A surpresa com o indicador fez com que a commodity ampliasse ganhos no mercado internacional.Os barris tipo WTI e Brent subiram, respectivamente, 2,6% e 1,7%, a US$ 51,60 e US$ 52,57.

Com a alta dos preços do petróleo nesta sessão, as ações da Petrobras (PETR3; PETR4) registraram sua quinta sessão seguida de ganhos, acompanhados pelos papéis das siderúrgicas Usiminas (USIM5) e Gerdau (GGBR4). Os bancos, por sua vez, encerraram em queda, acompanhados pelas ações da Vale (VALE3; VALE5), que chegaram a subir 1% mais cedo.

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Apesar da pausa no rali nesta sessão, especialistas procurados pela Bloomberg veem possibilidade do índice atingir os 90.000 pontos até o fim do ano. No entanto, eles alertam para riscos da temporada de balanços frear as melhores expectativas. “Os resultados não devem vir tão bons assim. Tenho receio de que isso jogue um balde de água fria no investidor”, disse Mario Avelar, gestor de portfólio da Avantgarde Capital. A temporada de balanços inicia amanhã, com os números da Localiza e Grendene.

As maiores baixas dentre as ações que compõem o Ibovespa são:

Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 CSAN3 COSAN ON 42,08 -3,88 +75,64 51,98M
 RUMO3 RUMO LOG ON 6,65 -3,06 +6,57 71,70M
 CSNA3 SID NACIONALON 10,32 -2,73 +158,00 73,07M
 MRFG3 MARFRIG ON 5,81 -2,52 -8,50 13,74M
 NATU3 NATURA ON 32,72 -2,33 +40,78 38,38M

As maiores altas dentre as ações que compõem o Ibovespa são:

Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 BVMF3 BMFBOVESPA ON 18,23 +2,24 +69,52 190,80M
 KROT3 KROTON ON 16,90 +1,93 +79,37 429,52M
 RENT3 LOCALIZA ON 41,72 +1,76 +71,05 65,54M
 GGBR4 GERDAU PN 10,15 +1,30 +118,96 208,04M
 PETR4 PETROBRAS PN 17,62 +1,15 +162,99 1,13B
* – Lote de mil ações
1 – Em reais (K – Mil | M – Milhão | B – Bilhão)

Dólar vira para queda
O dólar comercial fechou em queda após chegar a subir mais de 0,4% no começo do dia. A moeda americana recuou 0,44% ante o real, cotada a R$ 3,1690 na venda e R$ 3,1676 na compra, acompanhando o movimento de desvalorização em comparação com outras moedas, como o peso mexicano. Especialistas em câmbio acreditam que também contribua para a virada do dólar nessa sessão a possibilidade de o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ) voltar atrás e decidir pautar a votação do projeto que altera as regras para a lei da “repatriação”, ampliando o prazo que se encerraria ao final deste mês.

“Pode ter relação. A expectativa de entrada de um volume relevante de recursos traz esse potencial [de provocar uma queda na cotação da moeda americana ante o real]“, diz Cassiano Leme, gestor da Constância Asset. Apesar disso, ele faz uma ressalva: “É sempre difícil distinguir esses movimentos no ambiente que tivemos de aumento de apetite a riscos, inclusive envolvendo moedas emergentes”.

Visão similar tem José Faria Júnior, diretor de Câmbio da Wagner Investimentos. Para ele, possíveis mudanças na lei de regularização de ativos de origem lícita mantidos no exterior não são o principal fator a mexer com a cotação do dólar. “Não acho que seja especificamente só isso. Em nossa opinião, o Copom de hoje pode até ser benéfico para o dólar”, diz.

O especialista acredita ainda que o primeiro movimento de corte da Selic pode ter consequência inversa da convencional valorização da moeda americana frente ao menor retorno. “Um corte mais rápido dos juros corrobora com a percepção de que o crescimento do país vai ser ainda maior no ano que vem”. Além disso, diz Faria Júnior, uma eventual redução de 50 pontos-base na Selic poderiam sinalizar um processo exitoso do ajuste fiscal, já que essa é uma das variáveis observadas pelo Banco Central em sua atuação. No entanto, ele faz um alerta: “Evidentemente que a continuação nos cortes começa a pesar em algum momento, sobretudo quando o Fed subir os juros”.

Agenda brasileira
O noticiário doméstico está bastante movimentado, com destaque para a decisão de política monetária. Em sua terceira reunião em novo formato e liderada por Ilan Goldfajn, os membros do Copom irão se reunir das 14h30 às 18h20 desta quarta para deliberar se cortam ou não a Selic. O resultado sai na quarta após este período e deve marcar o início do ciclo de corte de juros. Porém, o mercado segue indeciso se teremos uma redução mais forte, de 0,50 ponto percentual, ou branda, de 0,25 p.p.. Além disso, fica a expectativa pelo comunicado, que promete trazer detalhes sobre como o BC está vendo a economia no momento e o que planeja fazer com a Selic no futuro.

Nesta quarta-feira, a CNT (Confederação Nacional do Transporte) também divulgou o primeiro levantamento sobre a avaliação do governo Michel Temer após a efetivação do peemedebista no cargo. A avaliação da gestão do peemedebista foi positiva para 14,6% dos entrevistados, contra 36,7% de avaliação negativa. Para 36,1%, a avaliação é regular e 12,6% não souberam opinar. A aprovação do desempenho pessoal do presidente atinge 31,7% contra 51,4% de desaprovação, além de 16,9% que não souberam opinar.  A margem de erro é de 2,2 pontos percentuais com 95% de nível de confiança. Foram ouvidas 2.002 pessoas, em 137 municípios de 25 Unidades Federativas, das cinco regiões.

A última pesquisa CNT/MDA, datada de 8 de junho, mostrou avaliação positiva do governo de 11,3% e avaliação negativa de 28%. Para 30,2%, a avaliação era regular e 30,5% não souberam opinar. A aprovação do desempenho pessoal do presidente atingiu 33,8% contra 40,4% de desaprovação, enquanto 25,8% não souberam opinar.

Ainda na agenda política, destaque para as votações na Câmara. Com quase quatro horas de discussão e obstrução dos partidos de oposição ao governo, a Comissão Especial da PEC 241 na Câmara dos Deputados aprovou ontem a redação final da matéria para que possa ser enviada ao plenário da Casa e ser votada em segundo turno. A proposta de emenda à Constituição limita os gastos públicos pelos próximos 20 anos e tem a votação final em plenário marcada para os dias 24 e 25 deste mês. Foram 21 votos a favor e 7 contra. O Congresso ainda aprovou cinco projetos de créditos suplementares para diversas áreas que somam R$ 3,253 bilhões.

Também chama atenção a percepção dos analistas do Bank of America Merril Lynch de que, diante da melhora na crise política e de sinais de avanço econômico, o Brasil tem se tornado a maior “convicção” de investidores estrangeiros entre as principais economias emergentes. Tal avaliação se traduz em expectativa de investimentos no País, o que pode marcar uma mudança no perfil de fluxo de recursos, marcado até então por negócios mais “especulativos” nos mercados financeiros.

No entanto, a chegada de capital no Brasil não deve ser um “tsunami de dinheiro”, como muitos esperavam antes do impeachment de Dilma Rousseff. Para os profissionais do banco, a entrada de recursos deve ser gradual. “O Brasil é, de fato, a maior convicção entre os emergentes globais”, afirmou o chefe de estruturação e vendas de derivativos, Nuno Martins, em entrevista ao Broadcast.

PIB da China
O PIB (Produto Interno Bruto) da China teve expansão anual de 6,7% no terceiro trimestre, segundo dados publicados hoje pelo Escritório Nacional de Estatísticas do país. O resultado veio em linha com a expectativa de analistas consultados pelo The Wall Street Journal e manteve o mesmo ritmo de crescimento do segundo trimestre. Na comparação com o segundo trimestre, o PIB chinês avançou 1,8% entre julho e setembro, considerando-se ajustes sazonais. Entre abril e junho, a segunda maior economia do mundo também havia expandido 1,8% ante o primeiro trimestre.

Já a produção industrial da China cresceu 6,1% em setembro ante igual mês do ano passado, mostrando desaceleração ante o acréscimo anual de 6,3% observado em agosto, segundo dados publicados hoje pelo Escritório Nacional de Estatísticas do país. O resultado veio abaixo da expectativa de 16 analistas consultados pelo The Wall Street Journal, que previam aumento de 6,4% na produção.

EUA
Na noite de quarta ocorre o terceiro e último debate entre Hillary Clinton e Donald Trump, candidatos democrata de republicano, respectivamente, na corrida pela Casa Branca. Após vitória da democrata nos dois primeiros encontros e os recentes escândalos envolvendo Trump, a expectativa é que o clima seja ainda mais quente neste debate já que será a última chance do republicano reverter o cenário que começou a se instaurar e que deve levar à vitória de Hillary. O debate começa às 23h (horário de Brasília), na universidade de Nevada em Las Vegas, e será moderado por Chris Wallace, âncora do Fox News Sunday.

Ainda no noticiário americano, o Federal Reserve divulga o Livro Bege, que dispõe sobre as condições econômicas, às 16 horas. O Livro Bege é um relatório sobre a atualidade econômica norte-americana, publicado pelo Fed. Os doze Federal Reserve Banks, os bancos centrais regionais, coletam informações sobre a situação econômica de suas áreas de atuação.