Eles têm a missão de salvar as duas maiores estatais do Brasil – e estão bastante otimistas

CEOs da Petrobras e da Eletrobras debateram no Fórum Exame 2016, em São Paulo, e apontaram os grandes desafios de implementar novas ideias em uma estatal

Thiago Salomão

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SÃO PAULO – Dois homens, mesmo destino: Pedro Parente e Wilson Ferreira Jr conquistaram notoriedade no campo econômico e corporativo e por conta disso foram chamados para liderarem a “reviravolta” da Petrobras (PETR3, PETR4) e Eletrobras (ELET3, ELET6), respectivamente, as duas maiores estatais do Brasil e que encontram-se em uma de suas maiores crises da história. Os dois estiveram juntos em um debate nesta sexta-feira (30) durante o Exame Fórum 2016, e demonstraram bastante otimismo com o futuro de suas respectivas empresas – embora tenham apresentado números que deixam muito bem evidenciado o tamanho do problema que eles assumiram.

Um dos pontos debatidos pela dupla de CEOs foi a atuação “social” das estatais, algo bem diferente do que é visto no mundo privado. Para Ferreira Jr, o social é necessário, mas ele não pode passar por cima da responsabilidade fiscal, “seja no governo federal, seja na gestão das estatais”. No caso da Eletrobras, ele diz que a “sorte” é que o problema de hoje é recuperável, mas se essa agenda de reformas viesse antes o ajuste seria bem mais tranquilo. “Agora, as consequências serão graves, e o preço será muito alto”, diz o CEO da empresa de energia, que antes já havia feito carreira na CPFL Energia (CPFE3), onde trabalhou por 18 anos.

Já Parente foi além: as funções sociais não podem superar os recursos financeiros das empresas, e ele não quis dizer apenas de dinheiro mal usado, ou seja, “o uso da empresa para outros fins” (ele fez a ressalva de que não pode entrar em muitos detalhes por causa das investigações sobre a Petrobras, mas concordou ao ser questionado sobre “roubalheiras” dentro da empresa). Como em outros eventos, Parente disse que a Petrobras foi “vítima” em todo esse processo de corrupção e elogiou o trabalho de investigação da polícia federal.

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Ineficiência e investimentos: péssima combinação…
Outro ponto normalmente criticado sobre a atuação das estatais, a falta de eficiência foi tema de debate entre os dois executivos. Ferreira Jr deu como exemplo o “11 de setembro brasileiro”, que foi a MP 579 assinada pela presidente Dilma em 2012. “Nada contra a medida, 
pois ela serviu para tornar mais regular um setor que nunca precisou se preocupar em ser eficiente. O problema foi que a Eletrobras não se preparou nem um pouco para isso, e a consequência foi uma perda de 20% em sua receita de uma hora pra outra, indo de R$ 30 bilhões para R$ 24bilhões”, explica o CEO. Somado a isso, a Eletrobras havia anunciado seu maior plano de investimentos da história na época. 

Parente, da Petrobras, mostrou em números o impacto do descasamento entre investimentos e operacional: o indicador “Dívida Líquida/Ebitda” subiu de 0,4x para 5,3x entre 2006 e 2015; o pagamento de juros saltou de US$ 1,7 bilhão para US$ 6,3 bilhões entre 2009 e 2015; e o custo de captação da empresa no mercado já chega a impressionantes 8,5% ao ano para período de 5 anos. “E boa parte desse endividamento não serve para gerar resultado algum”, ressalta o CEO da Petrobras, que também fez carreira no governo, no Banco do Brasil e na Bunge.

Outra barreira está na burocracia: o processo decisório de uma estatal é extremamente lento, seja comparando com uma multinacional ou com uma empresa familiar. “Toda decisão que tomamos precisa passar por, no mínimo, um advogado”, disse Ferreira Jr. “Só um advogado? Você tem sorte!”, rebate Parente, arrancando risos do CEO da Eletrobras. 

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… O lado bom? Tem muita coisa a melhorar!
Se por um lado o tamanho de problemas das duas estatais assustaria qualquer novo diretor, por outro lado o espaço enorme para melhorias acaba servindo de estímulo para executivos mais ousados – a velha máxima da relação proporcional entre “risco” e “retorno”. Sobre a Petrobras, Parente destacou o projeto de redução de 18% de custos até 2021, em especial o corte na área de extração – de US$ 14,6 bi para US$ 9,6 bi. Além disso, as parcerias da estatal podem alavancar em US$ 40 bi o total de investimentos para os próximos 10 anos. “Em 5 anos estaremos entre as melhores petrolíferas do mundo”, disse.

No caso da Eletrobras, que tem um grande mérito em ser ineficiente – “diferente da Petrobras, que consegue ser a mais eficiente do mundo em determinados negócios, a Eletrobras não tem eficiência em nenhuma de suas áreas”, disse Ferreira Jr -, a chance de melhora está justamente em diminuir sua mão-de-obra para se ajustar à realidade do setor. “Temos 30% a 40% de ineficiência em relação à média do setor, por isso, temos espaço para reduzir nossa mão-de-obra”, disse o CEO, comentando sobre os estímulos ao PDV (Plano de Demissão Voluntária) e às aposentadorias. 

Ferreira Jr. falou também da dificuldade em motivar um funcionário de estatal, que é preciso ser feito muito mais “no entusiasmo” do que no convencimento de que é preciso fazer mais com menos. Por isso mesmo ele diz que os jovens estão muito mais engajados com esse processo da empresa. “As pessoas precisam se ajustar ao novo negócio da Eletrobras”, concluiu o diretor.

Os 6 evevntos da Eletrobras em 2016:
> 11/10
– Arquivamento 20F nos EUA
> 21/10 – Plano para privatização das distribuidoras 
> 28/10 – Aprovação do plano diretor
> 14/11 – Divulgação do balanço 3º trimestre de 2016 + divulgação do Plano de Negócios 2017-2021
> nov/dez – Leilão da Celg
> dez – Definição sobre Angra 3

Thiago Salomão

Idealizador e apresentador do canal Stock Pickers