“Última grande aposta” do impeachment segue com incertezas mesmo após catalisador ser ativado

Acordo de acionistas da Valepar continua envolto de incertezas, mesmo após ânimo pós-impeachment de Dilma após ativação de seu catalisador

Lara Rizério

Publicidade

SÃO PAULO – Em oportunidades anteriores, nós já havíamos destacado a importância da renovação do acordo de acionistas da Valepar e o potencial que um eventual desfecho para esse assunto terá para as ações da Bradespar (BRAP4), holding que controla a Vale (VALE3;VALE5).

O ânimo de um desfecho positivo para os papéis BRAP4 aumentaram consideravelmente à medida que aumentavam as chances do impeachment de Dilma Rousseff, que foi confirmado no final de agosto. A Bloomberg destacou que os ativos eram a última grande aposta do impeachment.  O temor de que Dilma iria desfazer o acordo de quase duas décadas – que divide o controle da Vale entre a Bradespar e outros acionistas que incluem o BNDES e um grupo de fundos de pensão liderado pela Previ, o Litel- levou os papéis da empresa para o menor nível em 13 anos em fevereiro. Mas a saída de Dilma e a perspectiva de um acordo mais favorável com Michel Temer no poder as ações se animaram e já acumulam ganhos de 100% no ano – a quarta maior alta do Ibovespa no ano. 

Porém, ao mesmo tempo que as ações BRAP4 repercutem fortemente as expectativas de que o acordo que expirará em abril de 2017 será renovado, os termos dessa negociação devem gerar volatilidade para os papéis. 

Masterclass

As Ações mais Promissoras da Bolsa

Baixe uma lista de 10 ações de Small Caps que, na opinião dos especialistas, possuem potencial de valorização para os próximos meses e anos, e assista a uma aula gratuita

E-mail inválido!

Ao informar os dados, você concorda com a nossa Política de Privacidade.

O Bradesco BBI destacou algumas incertezas sobre o acordo, que está em fase final para ser renovado. O analista Thiago Lofiego destaca matéria do Broadcast sobre o assunto apontando que algumas condições estão incertas, como o período de renovação, que pode ser de apenas dez anos (versus o último acordo de validade de 20 anos). Além disso, há expectativas por um prêmio de controle para o “excesso de participação” da Litel Participações, que pode ser negociado com os acionistas privados Bradespar e Mitsui. 

“Embora o nosso caso-base pressuponha uma renovação do acordo, o fluxo de notícias pode levar a uma maior volatilidade para as ações da Vale”, ressalta Lofiego.

Para o analista, o que realmente importa para os acionistas minoritários da Vale é a renovação do acordo. “No entanto, a renovação por 10 anos versus 20 anos é um cenário ‘menos positivo’, em nossa opinião. Enquanto nosso caso-base permanece que os acionistas da Valepar deverão permanecer como parceiros, nós pensamos que uma renovação de 10 anos não eliminaria a percepção de que a Vale poderia, eventualmente, ser totalmente controlada pela Litel, que dispõe de fundos de pensão controladas pelo Estado (principalmente Previ, Funcef e Petros)”, aponta ele.

Continua depois da publicidade

O segundo ponto trata do excesso de participação de 9% dos fundos de pensões na Valepar, que pode ser parte das negociações com parceiros privados. A Litel, por exemplo, tem um “excesso de participação” de cerca de 9% que, atualmente, não é considerado como parte do bloco de controle da Valepar. No entanto, essas ações podem recuperar o direito de voto nos casos seguintes: (1) se o acordo de acionistas expirar; (2) a Litel for dissolvida; ou (3) as ações serem vendidas a terceiros. “A preços de mercado atuais, e considerando um prémio de 10% a 30%, esta questão pode valer entre US$ 900 bilhões e US$ 1,1 bilhão”.

O Bradesco BBI, que não tem cobertura para a Bradespar, mantém recomendação neutra para as ações da Vale, ressaltando que a companhia tem feito um progresso significativo de desalavancagem através da venda de ativos e corte de custos. Contudo, os acionistas devem seguir cautelosos em meio às perspectivas de queda do minério de ferro. A recomendação para o ADR (American Depositary Receipt) da empresa é neutro, com preço-alvo de US$ 6,50 por ação.

Porém, mais além da Vale, a Bradespar deve ficar ainda mais de olho no desenrolar deste acordo: afinal, um dos principais motivos para a alta das ações da holding ter sido bem maior do que a da “célebre controlada” este ano. 

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.