Ibovespa “esquece” petróleo e sobe 0,6% de olho nos EUA; DIs desabam com relatório do BC

Bolsa contraria movimento da manhã e avança com dado dos EUA e vitória de Hillary em debate ofuscando derrocada das commodities

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – O Ibovespa fechou em alta nesta terça-feira (27), após passar a maior parte do pregão em queda. No radar, as bolsas dos EUA registraram ganhos de 0,7% depois de um dado acima do esperado da confiança do consumidor e em meio a interpretações de que a candidata democrata à presidência dos EUA, Hillary Clinton, venceu o debate ontem. Mais cedo, a bolsa chegou a cair 1,11% por causa da fala do ministro do Petróleo iraniano, Bijan Zanganeh, indicando indisposição em congelar a produção da commodity. 

Por aqui, a alta dos bancos ofuscou a queda da Petrobras em meio à perspectiva de que o Banco Central corte as taxas de juros em outubro, reforçada pelo Relatório Trimestral de Inflação.   

O benchmark da Bolsa brasileira teve alta de 0,57%, a 58.382 pontos. O volume financeiro negociado na Bovespa foi de R$ 5,664 bilhões. No mesmo horário, o dólar comercial fechou em queda de 0,51%, cotado a R$ 3,2295 na compra e a R$ 3,2310 na venda. O dólar futuro para outubro cai 0,35% a R$ 3,233 no after-market.

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No mercado de juros futuros, o DI para janeiro de 2018 recua 6 pontos-base a 12,16%, ao passo que o DI para janeiro de 2021 opera em baixa de 13 pontos-base a 11,58%, também no after-market. A queda foi provocada pelo Relatório Trimestral de Inflação, no qual o Banco Central reduziu as projeções de inflação para menos de 5% em 2017, assumindo um tom mais “dovish” (moderado, no sentido de cortar taxas).  

Segundo o economista da Leme Investimentos, João Pedro Brugger, o mercado “ignorou” pela manhã a vitória de Hillary Clinton no debate de ontem na tv norte-americana, mas passado o pânico com o petróleo causado pelas falas do ministro iraniano, o quadro mais favorável nas eleições dos EUA se sobrepôs. “Essa alta é um movimento de ajuste do mercado seguindo o exterior”, explica. 

Uma vitória de Trump seria considerada negativa por conta de algumas contradições no seu projeto de política econômica, como a instalação de um maior protecionismo, que não parece combinar com o liberalismo econômico que ele diz defender. 

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Opep
O Irã quer aumentar a produção petrolífera para 4 milhões de barris por dia, disse Bijan Namdar Zanganeh em entrevista à Bloomberg TV. O terceiro maior produtor da Opep (Organização dos Países Produtores de Petróleo) — com produção diária de 3,6 milhões de barris no mês passado — conversará com outros integrantes no Fórum Internacional de Energia na capital argelina e é possível que o grupo possa chegar a um acordo formal sobre a oferta na reunião de novembro, em Viena, disse ele.

“Não está na nossa agenda chegar a um acordo nesses dois dias [, em Argel]“, disse Zanganeh. “Estamos aqui para o fórum e temos uma reunião informal consultiva na Opep para trocar ideias. Nada mais”. 

Debate dos EUA
Também no radar dos investidores, destaque para o debate entre os candidatos à presidência dos Estados Unidos, Donald Trump e Hillary Clinton. O mercado tenta interpretar quem teria sido o vencedor da disputa da noite de segunda-feira. Em entrevista ao portal americano CNBC, Adam Sarhan, CEO da Sarhan Capital, observou que, embora um número de especialistas aponte para vitória da candidata do partido democrata, houve de pesquisas indicando melhor desempenho do partido republicano. Segundo levantamento realizado pela CNN, 62% dos eleitores consultados disseram que Hillary venceu o debate; para outros 27%, a vitória foi de Trump.

Confiança do consumidor
A confiança do consumidor nos EUA cresceu em setembro de 101,8 pontos para 104,1 pontos. A expectativa mediana dos economistas era de que houvesse uma queda para 98 pontos. 

Relatório de Inflação
Na agenda doméstica, o RTI ou Relatório Trimestral de Inflação mostrou que as expectativas do Banco Central para o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) em 2017 caíram de 4,7% para 4,4% no cenário referência, enquanto o cenário de mercado marcou um recuo de 5,5% para 4,9%. Em entrevista ao InfoMoney, Evandro Buccini, economista da Rio Bravo Investimentos, afirmou que a projeção abaixo dos 5% indica que o Banco Central deverá cortar juros em outubro. Ele aposta que a inflação de setembro já será favorável para tal movimento da autoridade monetária brasileira.

“A evolução dos preços evidencia processo de desinflação em curso. Os índices de preços, embora desacelerassem no trimestre encerrado em agosto, registraram inflação acima das expectativas para o período, refletindo arrefecimento de preços em intensidade inferior ao padrão sazonal. A despeito desse comportamento recente, as perspectivas são de continuidade do processo de desinflação nos próximos trimestres”, dizia o texto do Banco Central.

“No entanto, a velocidade de desinflação permanece incerta. No âmbito externo, o cenário ainda apresenta interregno benigno para economias emergentes. No entanto, as incertezas sobre o crescimento da economia global e, especialmente, sobre a normalização das condições monetárias nos Estados Unidos da América (EUA) persistem”, pondera o relatório divulgado pela autoridade monetária.

Para 2016, as projeções sofreram uma leve elevação ante as apostas anteriores, saltando de 6,9% para 7,3% no cenário referência, e de 7% para 7,3% no cenário mercado. Apesar disso, a percepção do mercado foi de que as chances de se reduzir juros cresceram — o que é visto pelo movimento dos contratos de DI nesta sessão.

PEC do teto de gastos
Ainda na agenda doméstica, destaque para a reunião do presidente Michel Temer com líderes da base aliada na Câmara e no Senado para discutir projetos de interesse do governo e que estão em tramitação no Congresso Nacional, dentre eles a PEC 241, que limita o crescimento das despesas públicas ao avanço da inflação no ano anterior. A primeira reunião, prevista para esta terça-feira, às 20h, no Palácio do Alvorada, tem confirmada, segundo a assessoria de Temer, a participação de ministros. Esta será a primeira vez que o presidente reunirá sua equipe na residência oficial do Alvorada, de onde a ex-presidente Dilma Rousseff se mudou há algumas semanas.

Lava Jato
Segundo informações da Folha, apesar de ser aconselhado por assessores a demitir seu ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, o presidente Michel Temer avaliou que tomar essa medida seria uma admissão oficial de que seu assessor vazou uma operação da Lava Jato e decidiu mantê-lo no cargo. No domingo, Moraes afirmou que haveria mais uma etapa da Lava Jato esta semana, o que acabou ocorrendo na segunda-feira e culminou com a prisão de Antonio Palocci. Com essa “antecipação”, proposital ou não, o governo foi acusado de usar a operação politicamente.

Ações em destaque
Dentro do setor mais pesado no Ibovespa, o financeiro, bancos grandes subiram. Itaú Unibanco (ITUB4, R$ 36,26, +1,14%), Bradesco (BBDC3, R$ 28,67, +0,46%; BBDC4, R$ 29,97, +2,08%) e Banco do Brasil (BBAS3, R$ 22,88, +0,84%) avançaram. Juntas, as quatro ações respondem por pouco mais de 22% da participação na carteira teórica do nosso benchmark.

As maiores altas, dentre as ações que compõem o Índice Bovespa, foram:

 Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano
 ECOR3 ECORODOVIAS ON 8,94 +2,76 +75,64
 ESTC3 ESTACIO PARTON 18,76 +2,74 +38,89
 KLBN11 KLABIN S/A UNT N2 17,38 +2,18 -24,88
 MULT3 MULTIPLAN ON N2 63,37 +2,13 +68,17
 BBDC4 BRADESCO PN 29,97 +2,08 +73,54

Os papéis da Vale (VALE3, R$ 17,60, +0,92%; VALE5, R$ 15,25, +0,46%) também acabaram a sessão em alta após caírem durante boa parte da manhã. O movimento foi na contramão da queda do minério de ferro com 62% de pureza cotado no Porto de Qingdao, na China, que registrou perdas de 0,24%, a US$ 56,63 a tonelada. 

As maiores baixas, dentre os papéis que compõem o Índice Bovespa, foram:

 Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano
 GOAU4 GERDAU MET PN 3,41 -3,67 +105,42
 USIM5 USIMINAS PNA 3,43 -2,83 +121,29
 QUAL3 QUALICORP ON 18,46 -2,38 +38,02
 PETR4 PETROBRAS PN 13,12 -2,09 +95,82
 PCAR4 P.ACUCAR-CBDPN 54,94 -1,68 +31,29

Por outro lado, as ações da Petrobras (PETR3, R$ 14,65, -0,34%; PETR4, R$ 13,12, -2,09%) caíram, em meio à forte queda dos preços do petróleo no mercado internacional. O contrato do petróleo Brent recuou 3,09%, a US$ 46,45 o barril, enquanto o WTI (West Texas Intermediate) caiu 2,87%, a US$ 44,60 o barril. O desempenho refletiu declarações do Irã de que não quer acordo em Argel e não congelará sua produção de petróleo. O ministro do petróleo do país, Bijan Namdar Zanganeh, disse, em entrevista à Bloomberg, que o país irá aumentar sua produção para 4 milhões de barris de petróleo por dia.  

As ações mais negociadas, dentre as que compõem o índice Bovespa, foram:

 Código Ativo Cot R$ Var % Vol1
 PETR4 PETROBRAS PN 13,12 -2,09 752,93M
 ITUB4 ITAUUNIBANCOPN 36,26 +1,14 453,17M
 BBDC4 BRADESCO PN 29,97 +2,08 355,05M
 ITSA4 ITAUSA PN 8,53 +1,43 201,75M
 VALE5 VALE PNA 15,25 +0,46 199,18M
 BVMF3 BMFBOVESPA ON 16,84 +0,72 184,40M
 BBAS3 BRASIL ON 22,88 +0,84 150,81M
 ABEV3 AMBEV S/A ON 19,70 +0,41 142,35M
 PETR3 PETROBRAS ON 14,65 -0,34 118,35M
 GOAU4 GERDAU MET PN 3,41 -3,67 109,43M

* – Lote de mil ações 
1 – Em reais (K – Mil | M – Milhão | B – Bilhão)

Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.