Risco de crise de crédito não acabou: a dor de cabeça de R$ 434 bi dos bancos brasileiros

Em relatório, Credit Suisse reforça que risco de crise de crédito foi mitigada, mas não eliminada e aponta alta exposição dos bancos brasileiros à dívida de empresas

Lara Rizério

(Shutterstock)

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SÃO PAULO – A economia brasileira apresenta sinais de recuperação e os bancos devem ser um dos principais beneficiários deste cenário, como muitos analistas vêm apontando nos últimos meses. Indicadores antecedentes dos dados de crédito, melhora dos níveis de confiança, entre outros fatores, mostram um cenário de recuperação, apontam analistas. Mas as instituições financeiras enfrentarão um caminho bastante desafiador antes de se se recuperarem, ainda mais levando em conta a alta alavancagem delas às grandes empresas. 

Em relatório, o Credit Suisse foi buscar nas informações dos próprios balanços das empresas qual é a exposição dos bancos a elas. Os dados mostram melhora e o risco de uma “crise de crédito” está atenuada. Porém, não eliminada. 

“A expectativa de recuperação econômica e a possibilidade de corte na taxa de juros atenuaram o risco de cauda associado ao grande setor empresarial brasileiro, pelo menos no curto prazo. Já a possibilidade de uma recessão econômica se estendendo por 2017, combinado com um potencial de menor atividade no mercado de capitais e alta alavancagem corporativa poderiam gerar uma crise de crédito”, apontam os analistas. 

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No balanço das empresas, os analistas encontraram uma amostra de R$ 1,5 trilhão de dívida bruta (versus a dívida total do sistema de R$ 2 trilhões). Este montante trilionário de dívida reforça a preocupação de que o alto nível de alavancagem deve continuar pressionando a recuperação dos bancos nos próximos dois anos. Com isso, a melhora do custo de risco deve ser mais modesta do que nos ciclos de recuperação anteriores. 

“Estimamos uma dívida ‘problemática’ no segmento em R$ 818 bilhões. Desse valor, acreditamos que R$ 434 bilhões pertencem ao sistema bancário com créditos tradicionais e títulos”, aponta a equipe. “Como resultado, os ativos do sistema bancário estão mais expostos do que nunca, com uma carteira líquida de crédito problemático respondendo por 55% do total do sistema, bem acima da média histórica de 31%”, apontam. 

Além disso, de acordo com as estimativas, as provisões para grandes corporações cobrem apenas 19% dos R$ 818 bilhões. “O maior nível de empresas com a relação entre a dívida líquida e o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) acima de três vezes foi no segundo trimestre, quando chegou a 56,5% (bastante acima da média de 33,2%). Esses números explicam o aumento de provisões dos bancos e o pico na renegociação dos créditos e rolagem de dívida nos últimos trimestres”.

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As empresas, em junho de 2016, chegaram a um índice de alavancagem de 2,7 vezes a relação entre a dívida líquida e o Ebitda dos últimos doze meses, excluindo a Petrobras. Apesar da melhora frente a relação de 2,9 vezes de dezembro de 2015, o número segue bem acima da média história de 1,6 vez dos últimos quinze anos. 

Além disso, a preocupação com as dívidas de empresas não se limitam a um setor apenas: dos 15 setores analisados, 8 deles tem relação dívida líquida e Ebitda acima de 3 vezes e nove deles apresentam relação entre Ebit e despesa com juros abaixo de 1,5 vez. Os setores mais endividados são o de metais básicos (9,8 vezes), construção civil (9,3 vezes), automobilístico (6,1 vezes) e petróleo e gás (3,9 vezes).

Isso torna o setor corporativo brasileiro o mais alavancado da América Latina, com uma relação mediana de 3,23 vezes a dívida líquida sobre o Ebitda, ante 2,72 vezes do Peru, 2,65 vezes da Colômbia, 2,16 vezes do Chile, 2,05 vezes do México e 1,46 vez da Argentina. 

Mas o que fazer para reduzir a alavancagem?
Em meio a esse cenário de grande dívida das empresas, é preciso uma retomada do crescimento econômico e uma queda na taxa de juros para a queda da alavancagem. Porém, ela deve ocorrer gradualmente. 

“No nosso cenário-base de PIB crescendo 1,8% em 2017-2019 e Selic média de 12%, não esperamos que setor corporativo registre um múltiplo de 2 vezes a dívida líquida em relação ao Ebitda antes de 2019”, apontam eles. 

Para um período de três anos, a estimativa é de que, a cada 1 ponto percentual de mudança no PIB, a alavancagem do segmento é alterada em 30%, enquanto que o impacto de 1 ponto na Selic é de 8%. O mercado de capitais também pode ajudar. Contudo, se as empresas levantarem a mesma quantidade de capital que em 2015-16 – R$ 40 bilhões por ano começando em 2017 -, a alavancagem seria reduzida em apenas 14%. 

E, neste ambiente complicado, quais são as melhores opções para se investir no setor bancário? No Brasil, o Credit segue destacando preferência pelo setor privado em relação aos bancos públicos, dada a maior base de capital, maior colchão de provisionamento e potencial de ganhos de participação de mercado. O Bradesco (BBDC4) é o top pick do Credit, seguido por Itaú Unibanco (ITUB4), com recomendações outperform (desempenho acima da média do mercado) e neutra respectivamente. Já Banrisul (BRSR6) tem recomendação neutra e o Banco do Brasil (BBAS3) possui recomendação underperform (desempenho abaixo da média do mercado).

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.