Ibovespa tem 2ª pior queda do ano: veja os 4 motivos que explicam o pânico desta sexta

Investidores mostraram preocupação com geopolítica e política monetária norte-americana

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – O Ibovespa fechou em queda de 3,71% a 58.000 pontos nesta sexta-feira (9), fazendo a sua segunda pior desvalorização do ano, perdendo apenas para a baixa de 4,87% no dia 2 de fevereiro. Com isso, a semana da Bolsa terminou negativa: o índice recuou 2,71% nos últimos 4 pregões (lembrando que quarta-feira foi feriado e o mercado ficou fechado). A semana foi marcada pela preocupação dos investidores com os bancos centrais dos países desenvolvidos e pelas fortes variações do petróleo, que subiu mais de 4% ontem com uma redução de mais de 14 milhões de barris nos estoques da commodity em Cushing, Oklahoma (EUA), mas devolveu essa alta hoje pela percepção de que essa queda foi causada por fatores conjunturais. 

O volume financeiro negociado na Bovespa neste pregão foi de R$ 8,071 bilhões.

Enquanto a Bolsa caiu nesta sexta, o dólar disparou. O câmbio comercial fechou em alta de 2,17% a R$ 3,2781 na compra e a R$ 3,2800 na venda. Já o dólar futuro para outubro sobe 2,18% a R$ 3,302 no after-market. No mercado de juros futuros, o DI para janeiro de 2018 avança 9 pontos-base a 12,56%, ao passo que o DI para janeiro de 2021 registra ganhos de 12 pontos-base a 12,03%.

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Com o aumento do risco hoje, os bonds de 10 anos da Alemanha voltaram ao território positivo pela primeira vez desde o final de julho, mostrando uma redução drástica no apetite por risco, já que os títulos da Alemanha estão entre os ativos tidos como “portos seguros” do mercado, para onde o dinheiro vai quando há muita incerteza.

Confira abaixo os 4 motivos para a derrocada da Bolsa hoje:

1. Discurso de Rosengren
O presidente do Fed de Boston disse em discurso que para evitar um “superaquecimento” da economia norte-americana um aperto gradual na política monetária é apropriado até mesmo para manter a situação de pleno emprego que o país vive.  

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2. Coreia do Norte
O índice Kospi da Coreia do Sul caiu 1,3%; o won aparece entre moedas com maior queda contra o dólar após a Coreia do Norte fazer o teste nuclear considerado o maior da história. Sismólogos de todo o mundo registraram tremores de magnitude 4,8 a 5,3 na península da Coreia, segundo a agência Sputnik. A Coreia do Sul e o Japão têm certeza de que os tremores foram resultado de um teste nuclear na Coreia do Norte. A presidente da Coreia do Sul, Park Geun-hye, disse que que essas ações revelam a “mania” do líder norte-coreano e o ministro de Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, e o secretário de Estado norte-americano, John Kerry, expressaram preocupação com o teste. 

3. BCE
Ontem, o BCE decidiu manter as taxas de juros na zona do euro em 0%, como era esperado pela mediana dos economistas consultados pela pesquisa Bloomberg. No entanto, o mercado esperava um aumento dos estímulos, mas o BCE manteve as compras do “quantitative easing” em 80 bilhões de euros por mês. A avaliação do mercado era de que o presidente do BCE, Mario Draghi, poderia não ter alternativa a não ser estender o programa de ativos agora ou em breve. Em entrevista após a decisão de política monetária, Draghi disse que o BCE continua pronto para agir se detectar sinais de que podem haver efeitos de “segunda ordem”, que ocorrem quando famílias e empresas se acostumam à inflação baixa, de modo que trabalhadores se contentam com reajustes salariais menores e companhias relutam em aumentar o preço dos seus produtos.

4. Discurso de Lael Brainard
Na segunda-feira (12), a presidente do Fed de Washington, Lael Brainard, fará discurso, ela é a pessoa que mais influencia a chairwoman do Fed, Janet Yellen. O diretor técnico da Wagner Investimentos, José Faria Jr., ressalta que 
Brainard sempre defendeu juros baixos e que uma sinalização de que ela está disposta a subir os juros pode ser a senha para o mercado apostar que em setembro começa o aperto monetário nos EUA.

Veja mais destaques do dia
Além de Rosengren, o diretor do Federal Reserve, Daniel Tarullo, afirmou nesta sexta-feira que não descarta a possibilidade de alta de juros neste ano. O dirigente, no entanto, não quis dizer se acredita que a autoridade monetária deveria agir em sua próxima reunião, marcada para o fim deste mês. 

Em entrevista a um canal de televisão norte-americano, ele afirmou que dados mistos da economia farão com que a reunião de setembro tenha “uma discussão robusta”. Tarullo também notou que alguns indicadores de inflação avançaram levemente, mas que não há evidência sustentável de que a inflação está próxima da meta do Fed.

Apesar da fala de Tarullo, o mercado não aliviou nem um pouco e no exterior o dia foi de forte queda, com os principais índices norte-americanos registrando seus piores desempenhos desde o Brexit. Tanto Dow Jones, quanto S&P 500 e Nasdaq caíram cerca de 2,5% nesta sexta-feira seguindo as falas dos dirigentes do Fed de Boston Eric Rosenberg e de Dallas Robert Kaplan, que deram sinais de aumento de juros na maior economia do mundo. Já o petróleo desabou com a queda dos estoques sendo vista como fato isolado causado por tempestade tropical, enquanto os metais recuaram em Londres.

Dados da China
Ontem às 22h30 (horário de Brasília), a China divulgou dois índices de inflação, o PPI (Índice de Preços ao Produtor), que caiu 0,8% depois de queda de 1,7% no mês anterior e expectativa de recuo de 0,9% na base anual. Já o CPI (Índice de Preços ao Consumidor),desacelerou para 1,3% em agosto na comparação com o mesmo período do ano anterior, no ritmo mais fraco desde outubro de 2015; a expectativa era de que o índice subisse 1,7%, após avanço de 1,8% no mês anterior. 

IPCA
O IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), avançou 0,44% em agosto, em linha com as projeções dos economistas e frente à alta de 0,52% no período anterior, informou o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) nesta sexta-feira (9). Em 12 meses, o avanço da inflação foi de 8,97% contra os 8,74% registrados no período anterior. Para o acumulado em 12 meses, a expectativa da mediana dos analistas era de um avanço nos preços em torno de 8,98%. No acumulado do ano o crescimento da inflação é de 5,42%.

Ações em destaque
As ações da Petrobras (PETR3, R$ 15,50, -5,43%; PETR4, R$ 13,51, -4,99%) caíram, corrigindo os fortes ganhos dos últimos pregões. A queda do petróleo reforçou esse movimento, com o barril do WTI (West Texas Intermediate) caindo 4,18% a US$ 45,63, ao passo que o barril do Brent recuou 4,34% a US$ 47,81.   

As maiores baixas, dentre as ações que compõem o Índice Bovespa, foram:

 Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano
 CMIG4 CEMIG PN 8,87 -7,41 +56,42
 CYRE3 CYRELA REALTON 9,83 -6,74 +34,55
 CSNA3 SID NACIONALON 8,65 -6,49 +116,25
 BBDC4 BRADESCO PN EJ 28,72 -5,53 +66,30
 PETR3 PETROBRAS ON 15,50 -5,43 +80,86

Já as ações da Vale (VALE3, R$ 16,86, -5,23%; VALE5, R$ 14,49, -4,73%) e da Bradespar (BRAP4, R$ 9,89, -4,90%) estenderam as perdas da véspera, acompanhando o movimento dos preços do minério de ferro. A commodity cotada no Porto de Qingdao, na China, fechou em queda hoje de 0,62%, a US$ 57,78 a tonelada. 

As maiores altas, dentre os papéis que compõem o Índice Bovespa, foram:

 Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano
 FIBR3 FIBRIA ON 23,41 +2,90 -54,09
 SUZB5 SUZANO PAPELPNA 10,82 +0,93 -40,85


Entre as altas estiveram as exportadoras de papel e celulose. Fibria (FIBR3, R$ 23,41, +2,90%) e Suzano (SUZB5, R$ 10,82, +0,93%) fecharam com ganhos por conta do desempenho positivo do dólar. Por possuírem suas receitas na moeda norte-americana, essas empresas têm as suas rentabilidades aumentadas quando há valorização da divisa dos EUA ante o real.

As ações mais negociadas, dentre as que compõem o índice Bovespa, foram:

 Código Ativo Cot R$ Var % Vol1
 PETR4 PETROBRAS PN 13,51 -4,99 582,79M
 ITUB4 ITAUUNIBANCOPN ED 35,25 -3,79 478,17M
 BBDC4 BRADESCO PN EJ 28,72 -5,53 368,13M
 ABEV3 AMBEV S/A ON 19,75 -1,25 340,88M
 BVMF3 BMFBOVESPA ON 16,93 -4,57 329,53M
 VALE5 VALE PNA 14,49 -4,73 324,77M
 BBAS3 BRASIL ON 22,84 -5,35 251,71M
 ITSA4 ITAUSA PN ED 8,30 -4,60 231,82M
 JBSS3 JBS ON 11,67 -1,27 193,14M
 CIEL3 CIELO ON 32,25 -2,01 180,67M

* – Lote de mil ações 
1 – Em reais (K – Mil | M – Milhão | B – Bilhão)
 

Agenda política
Por 44 votos favoráveis, 6 contrários e uma abstenção, o Plenário aprovou na quinta-feira o Projeto de Lei de Conversão (PLV) 20/2016, proveniente da Medida Provisória (MP) 726/2016, que reduziu de 39 para 24 o número de ministérios na nova estrutura do Executivo federal. A medida, que promove uma reforma administrativa na administração pública direta, foi editada nos primeiros dias do governo interino de Michel Temer. A proposição será agora encaminhada à sanção presidencial. Além disso, por falta de consenso entre os líderes partidários nesta quinta-feira (8), o Plenário do Senado não votou requerimentos de urgência para os projetos que reajustam em 16,3% os vencimentos do procurador-geral da República (PLC 28/2016) e dos ministros do STF (PLC 27/2016). 

Além disso, ontem, o ministro do Trabalho, Ronaldo Nogueira, informou em reunião com sindicalistas, que a reforma trabalhista deve ser encaminhada ao Congresso Nacional até o fim deste ano. Entre as medidas em pauta, está a proposta que formalizará jornadas diárias de até 12 horas. Atualmente, contratos de trabalho com jornadas superiores a oito horas diárias são frequentemente questionados pela Justiça do Trabalho, que ainda não reconhece formalmente a jornada mais longa.

Por fim, destaque para a reunião do presidente do Banco Central Ilan Goldfajn com executivos da Ibiuna Investimentos, investidores liderados pelo Credit Suisse, e executivos da BBM Investimentos, do Santander e da Western Union, no BC em SP. 

Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.