Procurador se diz “incomodado” com queda da ação do Bradesco: em nenhum momento solidez foi questionada

MPF concedeu entrevista coletiva para detalhar denúncia apresentada contra o Bradesco e também destaca que Santander está sendo investigado

Lara Rizério

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SÃO PAULO – O Ministério Público do Distrito Federal detalhou nesta tarde em coletiva a denúncia sobre a Operação Zelotes. O MPF confirmou a denúncia contra o presidente do Bradesco (BBDC4), Luiz Carlos Trabuco, e o diretor de Relação com Investidores do Bradesco, Luiz Carlos Angelotti. Nesta manhã, o juiz Vallisney de Souza Oliveira, da 10ª Vara da Justiça Federal, em Brasília, aceitou denúncia oferecida pelo MPF.  Com isso, Trabuco e os demais denunciados passam à condição de réus em ação penal sobre o caso, investigado na Operação Zelotes.

Durante a coletiva, o procurador da República do Ministério Público Federal (MPF) no Distrito Federal, Frederico Paiva, disse que “fica incomodado” com a queda no valor das ações do banco Bradesco após aceitação de denúncia pela Justiça em caso que envolve a instituição. Segundo ele, estão sendo denunciadas pessoas, e não o banco. “A empresa tem que ser respeitada”, afirmou. Paiva ressaltou que em nenhum momento a solidez do Bradesco foi questionada. 

As ações PN do Bradesco fecharam em queda de 4,45%, a R$ 27,50, enquanto a ON teve queda de 2,88%, a R$ 28,66. Além disso, o Santander Brasil (SANB11), que operava próximo à estabilidade, passou a registrar queda de 2% depois de ser citado pelo MPF, levando a uma baixa de 2,5% em cinco minutos. O órgão afirmou que o banco Safra e o Santander também estão sendo investigados na Zelotes.  Contudo, minutos depois, os papéis amenizaram as perdas e fecharam em queda de 1,24%; vale destacar que, no início de maio, a Procuradoria da República do Distrito Federal já havia apresentado denúncias envolvendo o Santander e outras duas empresas sob a acusação de pagarem ou negociarem propina com integrantes do Carf. O MPF ainda afirmou ser possível que tenhamos outras denúncias ainda este ano. Segundo Paiva, o caso Santander não é semelhante ao do Bradesco, já que não foram feitas interceptações telefônicas. “Não conseguimos chegar ao contato do Santander”, disse, ressaltando que foram constatadas ofertas de atos de corrupção feitas por agentes públicos.

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A decisão do juiz
Na decisão sobre o Bradesco, o magistrado determina que os envolvidos sejam citados para apresentarem defesa às acusações num prazo de vinte dias. “Nesse juízo preliminar, não vislumbro qualquer elemento probatório cabal capaz de informar a acusação, sem prejuízo da análise particularizada com a eventual contraprova”, escreveu ele.

Os executivos do Bradesco são suspeitos de negociar com um grupo que comprava decisões no Carf, espécie de tribunal que avalia débitos de grandes contribuintes com a Receita Federal. Além de Trabuco, se tornaram réus da ação penal Luiz Carlos Angelotti, diretor de Relação com Investidores do Bradesco; Domingos Figueiredo de Abreu, diretor vice-presidente; e Mário da Silveira Teixeira Júnior, ligado ao Conselho de Administração do banco.

Em nota, o Bradesco “reiterou a sua convicção de que nenhuma ilegalidade foi praticada por seus representantes e, em respeito ao rito processual, apresentará oportunamente seus argumentos ao Poder Judiciário.”

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O procurador Rodrigo Paiva afirma que a relação do Bradesco com a organização criminosa que atuava no Carf já durava mais de dez anos. Em cinco vezes desde 2004, o Bradesco foi abordado pela organização criminosa e aceitou participar, havendo um esquema para tentar mascarar o repasse de valores. “Conseguimos identificar quem eram os contatos dentro do Bradesco e temos provas muito robustas. E havia um esquema para tentar mascarar o repasse de valores”, afirma. O MPF destacou que Trabuco tinha plena ciência e que dois diretores da instituição participavam ativamente.

O MPF afirma que o eixo da organização tinha a sua base em São Paulo. “Não se pode atribuir a pessoas tão qualificadas o tributo da ingenuidade. Prevejo defesa do banco que vai alegar que executivos não sabiam com quem estavam lidando; contudo, defesa está muito bem amparada em quesito de provas. Não há apenas evidências, há documentação”, afirmou Paiva. A Polícia Federal reiterou que existia a anuência direta do presidente e dos diretores do banco. 

De acordo com o procurador, ainda que não participasse diretamente das reuniões entre diretores do Bradesco e a chamada organização criminosa, Trabuco “fazia intervenções”. Segundo ele, o executivo chegou até a passar nas reuniões e tecer comentários. Ressaltou ainda que há citação do nome do presidente pelos investigados em diversas ocasiões. “O Trabuco, para assumir a presidência do Bradesco, ingênuo ele não é”, afirmou.

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Veja quem são os denunciados:

Eduardo Cerqueira Leite, servidor da Receita

Mário Pagnozzi Júnior, consultor e advogado

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José Teruji Tamazato, consultor e advogado

Jorge Victor Rodrigues, ex-conselheiro do Carf

Lutero Fernandes do Nascimento, servidor da Receita

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Jefferson Ribeiro Salazar, ex-servidor da Receita

Luiz Carlos Angelotti, diretor de Relação com Investidores do Bradesco

Domingos Figueiredo de Abreu, diretor vice-presidente do Bradesco

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Luiz Carlos Trabuco, presidente do Bradesco

Mário da Silveira Teixeira Júnior, ligado ao Conselho de Administração do Bradesco

(Com Agência Estado) 

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.