Quem não der importância ao mercado externo “deixará dinheiro na mesa”, diz JPMorgan

Em entrevista para o InfoMoney, o chefe da área de vendas do banco, Giuliano de Marchi, afirmou que o brasileiro deve procurar investir no exterior, e que eleições nos EUA podem ser uma oportunidade para isso

Lara Rizério

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SÃO PAULO – No final de junho, os mercados globais foram inundados com mais um dose de incerteza. A tensão do mercado com o futuro da economia global e o ânimo com a continuidade da política de flexibilização monetária por parte dos Bancos Centrais, o “Brexit” adicionou mais uma dose de incerteza aos investidores a partir do último dia 23 de junho. O Reino Unido, por uma margem apertada de 52% dos votos, optou por sair da União Europeia, e todos os agentes estarão olhando com lupa os próximos acontecimentos. Dependendo de como as negociações andarem e dos próximos passos, os mercados podem ter uma forte reação – seja para cima ou para baixo. Como se defender nestes momentos? 

“Estamos navegando em territórios não navegados ainda. Há muita opinião sendo colocada pelo mercado, mas é uma experiência nunca antes vista por ele”, avalia Giuliano De Marchi, chefe da área de vendas do JPMorgan Asset Management em entrevista ao InfoMoney. Para ele, a volatilidade pós-Brexit veio para ficar, entre ganhos com as possíveis medidas a serem tomadas pelos Bancos Centrais pelo mundo e os temores de riscos com a economia global em meio ao processo de saída do Reino Unido da UE, e por isso tentar adivinhar a “direção” pode custar muito caro.

Além disso, o head de vendas do JP lembra de outro foco de volatilidade importante: as eleições nos Estados Unidos. Mas dentro dessa incerteza do mercado, novas oportunidades de investimento deverão surgir. “Olhar para o mercado internacional não é só importante, é fundamental. E o investidor brasileiro que não fizer isso está deixando o dinheiro na mesa”, afirma De Marchi. 

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Confira a entrevista abaixo:

InfoMoney – No final de junho, os mercados tiveram uma forte reação ao Brexit, que não era esperado e foi recebido como uma “bomba” pelos investidores mundiais. Passada toda a turbulência do dia do Brexit, qual a sua avaliação sobre a situação atual?

Giuliano de Marchi –  Estamos navegando em territórios nunca antes navegados ainda. Há muita opinião sendo colocada pelo mercado, mas é uma experiência nunca antes vista por ele. O que isso significa do ponto de vista do mercado? Pela primeira vez, há um país com possibilidade real de sair da União Europeia. Essa foi uma decisão basicamente tomada como um voto anti-imigração.  Não é um problema exclusivo da União Europeia, mas é uma situação nova. Isso tomou uma força que a União Europeia pode forçar o Reino Unido a tentar sair o mais rápido possível para não gerar uma reação em cadeia. 

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Do ponto de vista econômico, o Brexit é muito ruim para todo mundo, ninguém ganha com isso. As empresas do Reino Unido vão sofrer muito. A Inglaterra perdeu muito poder de compra, os preços dos ativos despencaram no Reino Unido e com isso se perde o interesse internacional por imóveis e o valor dos ativos por um todo perde valor. 

IM – E como foi o posicionamento do JPMorgan neste cenário de forte volatilidade?

GdM – Como gestores, a forma como nos posicionamos é interessante. Há fundos mais direcionais que sofreram e tiveram queda após o Brexit. Agora, nos nossos fundos mais macroeconômicos – e há um específico que é o multimercado global que opera em diversos mercados – houve uma valorização. A gente já via o Brexit como um risco de cauda e que era cada vez maior. O fundo multimercado Global Macro Opportunities  foi muito bem nos dias após o Brexit; depois do Brexit, ele subiu 2,8% aqui e, lá fora, 2,7% em dólar. Quem estava bem preparado ganhou muito dinheiro. Nós tínhamos opções de mercado acionário tanto britânico quanto global e isso favoreceu a gente bem. A gente conseguiu se proteger desse movimento. É ruim no longo prazo para a economia como um todo; mas, se você tiver bem posicionado, consegue se favorecer.

IM – Quanto há de gestão nesse fundo e quais as estratégias adotadas para ganhar no cenário de turbulência com o Brexit?

GdM – O fundo Global Macro Oportunities tem US$ 6 bilhões no exterior e é o nosso principal multimercado lá fora e o trouxemos recentemente para o Brasil. É o fundo que mais cresceu na plataforma de Luxemburgo no último ano. Aqui no Brasil a gente tem uma versão com mais ou menos R$ 50 milhões sob gestão e que está disponível a partir de um investimento mínimo de R$ 50 mil. Ele é um dos melhores multimercados globais hoje em dia. Na versão em reais, o objetivo é render “CDI + 4%” e, no exterior, “dólar + 7%”. Estamos super felizes com o resultado e é uma forma diferente das pessoas participarem do mercado global mas trazendo à taxa de juros local ainda.

IM – Voltando para o cenário político mundial, muito se teme que o populismo tenha voltado à tona para ficar, sendo o melhor exemplo Donald Trump nos EUA. O Brexit foi só o início e a expectativa é de maior volatilidade à frente?

GdM – Acho que o cenário vai ser volátil, mas não vejo isso acontecendo em larga escala. Explico por que: essa questão de populismo é um assunto que veio para a pauta e é muito importante para o mundo nos próximos 3 a 5 anos. Mas não é a primeira vez que essa questão imigratória e populista está em discussão no mundo.

Como eu disse, a conversa sobre o Brexit não é uma conversa simples, tem muito mais desvantagens econômicas do que vantagens. No entanto, é uma oportunidade para rever os conceitos da UE. As eleições na Espanha pós-Brexit mostraram um resultado que fortaleceu o lado populista, mas não foi maioria, ou seja, conseguiu-se controlar essa questão. 

IM – Neste sentido, as eleições nos EUA também podem ser uma oportunidade para o investidor brasileiro se posicionar? 

GdM – Sem dúvida. Estamos longe ainda, não é amanhã a eleição, e há dois cenários de opções pós-eleições. Se Donald Trump ganha, apesar de não acreditarmos nisso, é um cenário completamente diferente se Hillary Clinton ganhar. Vamos com certeza nos posicionar para isso. Vai ter gente que vai ganhar dinheiro e gente que vai perder; ou seja, há uma oportunidade grande. O investidor brasileiro deveria participar disso sim e é possível conseguir bons resultados, como foi o caso do Brexit. 

Não é só importante os brasileiros olharem para além do mercado nacional, é fundamental. O investidor que não fizer isso está deixando o dinheiro na mesa. E hoje em dia há esses veículos como é o caso do fundo macro, com uma diversificação global que investe em reais aqui e traz os juros, CDI mais o retorno do fundo lá de fora, o que não existia no Brasil há 6 meses. É fundamental que todo investidor tenha isso em mente. É uma mudança radical do conceito e principalmente para a proteção de ativos em longo prazo, é fundamental a diversificação.

IM – Enquanto Bancos Centrais pelo mundo indicam que podem rever a política monetária nesse cenário tão conturbado, o BC brasileiro indicou que pode manter o juros por um período mais alto. Isso pode representar uma oportunidade pro Brasil esse período de turbulência? 

GdM –  Neste momento, não temos posição em Brasil. Após o Brexit, o cenário é mais incerto para o crescimento global, as pessoas têm mais incertezas, estão se perguntando onde investir. Além disso, há um cenário de baixo crescimento, em que se olha pra oportunidades ao redor do mundo e o Brasil é o que paga os juros mais altos. O Brasil ainda é um lugar incerto com toda a questão política. Porém, quando o Brasil tiver mais claridade sobre o que vai acontecer do ponto de vista político, é normal que os investidores internacionais voltem, e o País é mais interessante nesse ponto de vista de juros. Como a taxa atual no Brasil é fora de qualquer padrão mundial, passa a ser interessante para o investidor de curto prazo.

O Brasil hoje conta com 1% do PIB mundial em investimentos; já lá fora, a Europa deixou de ser tão interessante e os EUA estão crescendo menos. Onde o investidor procurará alocar seu dinheiro? “Vou para o Brasil, [minha alocação] era só 1% [do total], aumentarei para 2%”. Para esse investidor, é somente 2%, mas para o Brasil já é 100% a mais. É um pouco do que aconteceu no boom das commodities, o dinheiro volta para o País. O Brasil é positivo numa visão de médio prazo. Mas queria que fosse positivo do ponto de vista estrutural, em investimento direto, empresas, criação de empregos. Assim, passaria a ser relativamente mais interessante do que operar somente pensando nos altos juros. 

IM – E você acredita que pode ter um maior investimento direto com esses programas de concessão que estão por vir, seja via privatizações ou pelo dinheiro chinês?

GdM – Tenho certeza, o Brasil tem 200 milhões de habitantes, qual economia no mundo é do tamanho do país e tem a carência do Brasil? É um mercado muito grande. Eu sou otimista com o Brasil no médio prazo, mas precisa ter mais segurança e qualidade das regras. O Brasil tem uma carência violenta de infraestrutura, demanda por esse tipo de coisa. Se conseguir clarear as regras e o cenário não vejo porque não ter essa demanda; essa demanda é forte no Brasil nos próximos anos.

No caso do nosso fundo, ele não tem posição no Brasil, mas acreditamos muito no País no médio e longo prazos, temos uma operação grande aqui no Brasil como gestão e administramos R$ 23 bilhões, uma posição bem grande, fora as posições internacionais.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.