O mercado de bonds de US$ 100 trilhões tem preocupações muito maiores que o Brexit

Investidores deste mercado de bonds precisam olhar para problemas estruturais mais profundos que afligem o mundo

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – Enquanto os  mercados globais sofriam com a saída do Reino Unido da União Europeia, o londrino Steven Major, chefe de pesquisa de renda fixa do HSBC Holdings, não via diferença entre a permanência ou saída do grupo. Para ele, o Brexit foi apenas um pequeno espetáculo e isso não afetou em nada sua visão de longo prazo para as taxas de juros e rendimentos de títulos.

Não interessa, para ele, a decisão do referendo e muito menos quem irá vencer a eleição nos Estados Unidos, mas as decisões tomadas na última década, que devem reduzir o crescimento global e manter as taxas em níveis baixíssimos durante os próximos anos. “O verdadeiro elefante na sala não é o voto do Reino Unido ou uma presidência de Trump”, disse Major. “O verdadeiro elefante na sala é que vamos ter taxas baixas e negativas por um longo período de tempo”.

Apesar da votação do Brexit ter enervado os mercados financeiros e causado um aumento na demanda por ativos de menor risco, Major diz que os investidores no mercado de US$ 100 trilhões de bonds precisam olhar para problemas estruturais mais profundos que afligem o mundo: a demografia, a explosão da dívida a nível mundial e a disparidade de riqueza entre os ricos e pobres. Taxas baixas também são uma consequência natural do excesso de endividamento do governo após a crise financeira.

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Enquanto isto deu às economias um impulso muito necessário, o peso da dívida roubou de muitos países o seu poder de compra, o que poderia ter suportado o crescimento durante a próxima década. Este mês, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico advertiu que a economia global está entrando em uma “armadilha de baixo crescimento”. E sem um captador no crescimento, não há qualquer razão para acreditar que os investidores continuarão a buscar a segurança de títulos do governo.

Para os Treasuries norte-americanos, referência global para empréstimos, Major diz que os rendimentos dos títulos de 10 anos permanecerão presos perto dos níveis atuais e irão encerrar o ano em 1,5%. Isso é abaixo de todas as outras previsões compiladas pela Bloomberg na semana passada, que, em média, mostram que Wall Street vê os rendimentos começando a subir. O título de 10 anos caiu para sua mínima em quase cinco anos na sexta-feira após a votação do Brexit e terminou a semana em 1,56%. Ele se aproximou do recorde de baixa de 1,38%, atingindo em 2012.

Em 2014, quando a maioria dos prognósticos previu que os rendimentos finalmente iriam subir com uma visão de economia mais forte nos EUA, levando o Federal Reserve a apertar sua política, Major previu os Treasuries permanecendo com demanda e os título de 10 anos caindo para 2,1%. Naquele ano, eles despencaram 0,86 ponto percentual, para 2,17%.

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Com Bloomberg

Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.