Fontes de resiliência, Itaú e Bradesco decepcionam no 1º tri – mas podem voltar a “brilhar”

Cenário desafiador para os bancos se concretizou nos balanços do primeiro trimestre - mas ambiente positivo pode voltar em breve, avalia BTG

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Um dos maiores temores para os investidores dos bancos brasileiros voltou à tona na última semana, com a divulgação dos resultados do primeiro trimestre de 2016 das duas maiores instituições financeiras privadas do Brasil. Isso porque os números apresentados na última quinta-feira (28) do Bradesco (BBDC4) e desta terça-feira pelo Itaú Unibanco (ITUB4) para os primeiros três meses deste ano indicam que “o futuro já começou” para essas empresas. 

Se, em outubro do ano passado, o Credit Suisse rebaixou a recomendação do setor bancário para essas empresas destacando a perspectiva desafiadora, com queda das margens financeiras, aumento do PDD (Provisão de Devedores Duvidosos) e da inadimplência com os clientes dos bancos atrasando pagamento de suas dívidas, isto parece se confirmar com os números apresentados. 

O Bradesco teve lucro ajustado de R$ 4,113 bilhões no primeiro trimestre, queda de 3,8% ante mesma etapa de 2015. O Índice de Inadimplência superior a 90 dias encerrou o período em 4,2%, 0,6 ponto percentual acima dos 3,6% do mesmo período do ano anterior. Porém, o grande destaque ficou para a a provisão específica de R$ 836 milhões no trimestre por conta de agravamento de rating de uma grande empresa.

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“A qualidade de crédito vem se deteriorando como efeito da economia fraca. Temos maior aceleração da inadimplência em pequenas e médias empresas, setor que é mais impactado pelo desempenho da economia”, destacou Carlos Firetti, diretor de relações com o mercado da instituição.

Com esse cenário, na última quinta, o Bradesco abriu em queda superior a 4% e fechou aquele dia em queda de cerca de 2%.

“Em nossa opinião, o Bradesco divulgou resultados trimestrais negativos, devido à deterioração de sua qualidade de ativos”, destaca o BB Investimentos. O Deutsche Bank ressaltou ainda que o guidance de PDD do banco, entre R$ 16,5 bilhões a R$ 18,5 bilhões, parece excessivamente otimista. “Estamos preocupados com o impacto dos níveis de provisão sobre a rentabilidade, assim como o guidance, que parece um pouco otimista dado o ambiente macro desafiador no Brasil”, afirma o Deutsche. Enquanto isso, o BB-BI destaca que a qualidade dos ativos segue sendo um assunto de preocupação para o mercado. 

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Itaú Unibanco
Enquanto isso, nesta manhã, o Itaú divulgou um aumento de 31% nas provisões para devedores duvidosos, e a exemplo do Bradesco, fechou o primeiro trimestre com lucro abaixo das estimativas dos analistas.  

As ações do banco chegaram a registrar a maior queda em mais de um mês, com baixa de 5%, depois que as provisões subiram para R$ 7,23 bilhões (US$ 2,1 bilhões) no primeiro trimestre, contra R$ 5,52 bilhões um ano antes. Os empréstimos no atacado responderam por R$ 2,91 bilhões do total, quase o dobro do valor do ano passado, “principalmente devido a provisões maiores para grupos econômicos específicos”, disse o Itaú. 

“A principal preocupação continua sendo a qualidade dos ativos”, escreveram analistas do UBS Group. Em fevereiro, o Itaú executou uma garantia junto ao fundo naval porque a empresa de plataformas de petróleo Sete Brasil não conseguiu honrar seus compromissos financeiros. O aumento da provisão do banco teve um caráter “antecipatório” e não está relacionado a uma empresa específica, disse o diretor de relações com investidores do banco, Marcelo Kopel.

O BTG Pactual, por sua vez, lembra do resultado do quarto trimestre do Itaú Unibanco, em que o guidance do banco foi revisado para baixo. Em fevereiro, logo após a divulgação do resultado dos últimos três meses de 2015, o BTG destacou: “muito pessimista ou apenas realista?”. Isso porque, pelo ‘guidance’ (projeções) revisado para 2016, o banco indicava uma contração de cerca de 20% no seu lucro por ação. Agora, neste primeiro trimestre, o BTG parece ter a resposta: “o primeiro trimestre confirma que o guidance de 2016 não era assim tão conservador como parecia”. 

“Em suma, o resultado mostrou uma piora com o aumento da inadimplência e redução na recuperação com créditos baixados, isso impactou negativamente o resultado do banco. O ponto a destacar é que o mercado já esperava uma piora no resultado do banco, primeiro por conta do resultado do Bradesco, na semana passada e também pelo anúncio de recuperação judicial da Sete Brasil”, destaca a análise da XP Investimentos. 

Apesar dos resultados fracos dos bancos neste primeiro trimestre, o mercado segue atento ao setor, que mostrou forte resiliência frente à crise econômica. “Há um longo caminho a percorrer, mas se a confiança e o ambiente melhorarem, a ação poderia manter um bom desempenho apesar dos resultados do curto prazo”, diz o BTG sobre o Itaú. 

E continua: “no geral, o mercado de ações brasileiro tem desfrutado de um desempenho impressionante nos últimos dois meses, na percepção mais aguçada dos investidores de que estamos chegando mais perto de algum tipo de solução para o atual estado de desordem política. Se mudanças mais profundas na verdade acontecerem e o Brasil apresentar melhora econômica, o Itaú estaria definitivamente entre os principais beneficiários dentro do nosso universo de cobertura. Apesar de um biênio 2016-17 desafiador em termos de qualidade de ativos, continuamos confiantes que o Itaú será capaz de entregar ROEs no longo prazo consistentemente acima do seu custo de capital próprio”, afirmam os analistas do BTG. “Dito isto, e apesar do rali de março e de abril, nós acreditamos que há potencial para a ação continuar com uma boa performance”, avaliam.

A XP Investimentos também destaca que segue positivo com o setor financeiro, particularmente com o Itaú. 


Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.