Prepare-se: o Fed vem aí e vai deixar a Bovespa ainda mais barata, diz estrategista do JPMorgan

O Ibovespa subiu 15% do dia 26 de janeiro até o fechamento de ontem, mas, para a estrategista do JP, não há motivo para se animar tão cedo: o fundo do poço ainda não chegou

Paula Barra

Gabriela Santos, estrategista para mercados globais do J.P. Morgan Asset Management.

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SÃO PAULO – O Brasil não está tão barato assim. O fundo do poço, embora mais próximo, ainda não chegou e não há motivo para se animar com esse rali recente da Bovespa. Do dia 26 de janeiro até o fechamento de ontem, o Ibovespa subiu 15%. “Ainda é difícil acreditar que chegamos a um ponto de inflexão”, disse Gabriela Santos, estrategista de mercado global do JPMorgan Asset Management, em entrevista exclusiva ao InfoMoney

“O Brasil não se encontra tão barato assim, no contexto de tantas incertezas. Certa melhora que vimos nas bolsas internacionais tem, sim, fundamento positivo, mas, por aqui, ainda é difícil ver uma retomada este ano. Achamos que vamos ter mais revisões negativas e perspectivas de revisões para baixo no lucro das empresas”,  disse a estrategista, que mora nos Estados Unidos há anos, mas acompanha de perto o mercado local.

Segundo ela, cada vez mais tem visto investidores institucionais conversando sobre o fundo do poço do Brasil, mas as incertezas na parte fiscal não a deixa acreditar que já chegamos. Além disso, uma virada da Bolsa dependeria de uma possível arrancada das commodities, mas que, para ela, não vai ocorrer. “Petróleo, por exemplo, não achamos que caminha para um rali. O Brent deve ficar no patamar de US$ 30,00 o barril”, disse. 

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Ontem, a commodity disparou 5%, indo para US$ 35,00 o barril, em meio às expectativas de congelamento da produção da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo). No entanto, a perspectiva para a commodity ainda não mudou, explica Gabriela. “Achamos que esse acordo [da Opep] não vai mudar muita coisa. Eles vão congelar no nível que estava em janeiro, que já estava muito alto”, disse. A opinião dela vai em linha com um relatório do Credit Suisse, divulgado nesta terça-feira, que vê o petróleo em níveis mais baixos por um período maior, estimando a commodity a US$ 36,00 o barril durante este ano. 

Segundo Gabriela, os estrangeiros ainda não viraram a mão com os mercados emergentes, especialmente com o Brasil, apesar de demonstrarem maior interesse em títulos do governo, que “tem feito um melhor trabalho para precificar a economia brasileira [do que ativos de renda variável]”. Para ela, investimentos no Brasil, por enquanto, só se for em bonds do governo. Mas se precisasse se expor à Bolsa, focaria apenas em papéis defensivos, aqueles expostos ao câmbio, além de companhias de consumo não discricionário, que são aqueles bens que dificilmente são cortados em períodos de crise. 

Dólar e o Fed
A perspectiva de que a Bolsa deverá seguir trajetória negativa se sustenta ainda na avaliação de que o dólar vai voltar a subir, depois de um início de ano praticamente estável. A guinada para cima da moeda viria com uma nova alta de juros nos EUA. “Não concordamos com a visão de que o Federal Reserve não vai elevar os juros esse ano. Talvez eles prefiram esperar até junho para um novo aumento, mas a economia americana continua forte. Não teria motivo para esperar pelo próximo ano”, avalia. 

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Por isso, ela acredita que esse rali recente da Bolsa brasileira pode ter vida curta. Segundo Gabriela, uma reversão da Bolsa poderia vir até mesmo antes de junho, trabalhando com a hipótese de alta de juro nos Estados Unidos em junho. “Essa reversão poderia vir assim que o mercado começar a perceber a intenção do Fed”. 

A opinião de subido de juros nos EUA este ano destoa de boa parte do mercado, que tem jogado para 2017 uma nova elevação na taxa. Para Gariela, o consenso do mercado está trabalhando com uma perspectiva de recessão nos EUA, mas achamos que não tem motivo para acreditar nisso. “As condições continuam muito boas para continuar a subir os juros”, disse. 

Ela acredita que o que Janet Yellen, presidente do Fed, vem comunicando ao mercado é que eles estão olhando com certa cautela ativos emergentes e commodities e querem ver a evolução dos dados dos EUA, por isso, talvez prefiram esperar até junho para voltar subir os juros. 

Nesse ponto, não teria porque não esperar por mais apreciação do dólar frente ao real e queda da Bolsa brasileira este ano, argumenta. “O que achamos injustificado é o movimento negativo visto nas Bolsas americanas e europeias neste início de ano”, disse. 

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