China arrasa mercados, Ibovespa cai 2,6% e renova mínima desde 2009 pelo 2º dia seguido

Mercado tem novo dia de queda diante de um "sell-off" global em meio a preocupações com a economia chinesa; Soros compara crise atual à de 2008

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – O Ibovespa conheceu sua sexta queda em sete pregões nesta quinta-feira (7), ao terminar o dia na mínima, com variação negativa de 2,58%, a 40.69 pontos, acompanhando o movimento pessimista dos índices nos mercados internacionais e somando perdas de 4% em duas sessões. Com isso, o benchmark da bolsa brasileira teve seu pior fechamento desde 30 de março de 2009, quando encerrou no patamar de 40.653 pontos. Das 61 ações presentes na carteira do índice, 57 fecharam no vermelho, com destaque para os papéis da Vale (VALE3; VALE5), siderúrgicas, elétricas e exportadoras. O volume financeiro negociado foi de R$ 6,04 bilhões. Seguindo a maior aversão a riscos dos investidores, o dólar comercial fechou em alta de 0,77%, cotado a R$ 4,0525 na venda.

O pessimismo do mercado em mais uma sessão tem como pano de fundo um novo “circuit breaker” na bolsa da China. Após o Banco do Povo da China estabelecer o valor de paridade do yuan em 6,5646 por um dólar, o menor nível desde 2001, o mercado acionário do país caiu 7% e as negociações foram encerradas com apenas 30 minutos de sessão. Em meio ao clima de pânico instalado, o megainvestidor George Soros disse em fórum no Sri Lanka que o país tem um grande problema de ajuste. “Eu diria que isso equivale a uma crise. Quando eu olho para os mercados financeiros, há um sério desafio que me faz lembrar da crise que tivemos em 2008”, afirmou.

No fim da manhã, os investidores receberam a notícia de que o regulador do mercado chinês suspendeu a regra de “circuit breaker” das bolsas locais. A decisão veio após o mecanismo ser acionado duas vezes em uma semana. Os reguladores chineses estabeleceram este mecanismo de circuit breaker para controlar a volatilidade dos mercados. Porém, alguns analistas avaliam que o sistema acabou gerando o efeito reverso ao gerar preocupações sobre a saúde do mercado, ao reduzir a habilidade de ver o quanto as ações poderiam cair.

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O anúncio trouxe um pouco mais de confiança ao mercado e as bolsas internacionais chegaram a responder com redução das perdas. O petróleo reagiu bem e virou, mas voltou ao campo negativo mais tarde. Nesta tarde, os barris WTI (West Texas Intermediate) e Brent até chegaram a apresentar variação positiva, mas logo voltaram a cair cerca de 1,5%. A cotação do combustível afeta muito a Bolsa, porque, segundo o sócio da Constância Asset, Cassiano Leme, mais do que qualquer informação de mercado, o que importa para o brasileiro do que sai lá fora são as commodities. “Acho que o cenário interno é muito importante, até mais determinante do que o externo. Com a recessão atual, o cenário de lucro está bastante negativo, então não é uma surpresa que o mercado esteja indo mal regularmente. As tensões da China vieram se somar a isso hoje”, explica.

Ações em destaque
As ações da Vale (VALE3, R$ 10,91, -5,95%; VALE5, R$ 8,61, -5,90%) e Bradespar (BRAP4, R$ 4,14, -6,33%), holding que detém participação na mineradora, afundaram seguindo o desempenho de outras empresas do setor no mercado internacional. Com a derrocada, os papéis preferenciais da Vale voltararam aos menores patamares de fechamento desde maio de 2005. O índice Bloomberg de commodities mostrou a 4ª queda seguida, menor nível desde março de 1999. As siderúrgicas também desabavam com o temor global: Usiminas (USIM5, R$ 1,15, -5,74%), CSN (CSNA3, R$ 3,30, -2,37%), Gerdau (GGBR4, R$ 3,80, -4,52%), Metalúrgica Gerdau (GOAU4, R$ 1,20, -6,25%).

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Sobre as siderúrgicas, ontem, o presidente do conselho consultivo do Grupo Gerdau, Jorge Gerdau, afirmou que o cenário internacional e a China são fatores “que não ajudam” o setor.

Por sua vez, as ações da Petrobras (PETR3, R$ 7,83, -2,85%; PETR4, R$ 6,26, -2,19%), que chegaram a afundar e bateram hoje o menor patamar desde 29 de abril de 2009 (no caso das preferenciais), caíram com menos violência devido ao desempenho do petróleo, que chegou a zerar durante a tarde. Na mínima do dia, o petróleo brent caiu mais de 5%, para US$ 32,16 o barril.

Rumores retornaram sobre a redução dos preços no mercado brasileiro. Na semana passada, no entanto, fonte ouvida pelo Broadcast informou que a direção da Petrobras trabalha para manter os preços da gasolina e do óleo diesel em patamares superiores aos praticados no mercado internacional. Assim, pretende gerar receita e compensar perdas passadas.

Já do lado das altas, as ações da JBS (JBSS3, R$ 11,00, +5,77%) destoavam do movimento restante do mercado com uma alta surpreendente de 5%, depois de forte queda na véspera em meio aos desdobramentos da Lava Jato, mas tendo como pano de fundo hoje um relatório do BTG Pactual. No Ibovespa, somente ela, as educacionais Kroton e Estácio, além das ações preferenciais da Petrobras mostravam alta hoje, dentre as 61 ações do índice.

O relatório do BTG Pactual revisou para baixo projeções para resultado do quarto trimestre da empresa, vendo números agora abaixo do consenso do mercado, assim como cortou o preço-alvo do papel de R$ 26,00 para R$ 20,00.

As maiores baixas, dentre as ações que compõem o Índice Bovespa, foram:

 Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 RUMO3 RUMO LOG ON ES 4,55 -12,84 -27,08 4,60M
 SBSP3 SABESP ON 16,62 -6,37 -12,20 33,36M
 BRAP4 BRADESPAR PN 4,14 -6,33 -17,03 8,09M
 GOAU4 GERDAU MET PN 1,20 -6,25 -27,71 27,48M
 OIBR4 OI PN 1,65 -6,25 -15,38 7,91M

As maiores altas, dentre os papéis que compõem o Índice Bovespa, foram:

 Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 JBSS3 JBS ON 11,00 +5,77 -10,93 163,89M
 RADL3 RAIADROGASIL ON 37,62 +1,29 +6,03 97,42M
 CYRE3 CYRELA REALT ON 7,36 +0,55 -1,87 41,26M
 CIEL3 CIELO ON 34,40 +0,38 +2,41 217,97M

As ações mais negociadas, dentre as que compõem o índice Bovespa, foram :

 Código Ativo Cot R$ Var % Vol1 Vol 30d1 Neg 
 ITUB4 ITAUUNIBANCO PN ED 24,76 -1,90 435,71M 390,36M 37.246 
 BBDC4 BRADESCO PN EJ 18,40 -2,02 380,77M 213,52M 34.395 
 PETR4 PETROBRAS PN 6,26 -2,19 359,18M 255,24M 28.804 
 KROT3 KROTON ON 9,27 -1,07 267,67M 90,12M 23.091 
 ABEV3 AMBEV S/A ON 16,85 -2,66 259,47M 155,69M 26.810 
 VALE5 VALE PNA 8,61 -5,90 255,72M 165,53M 30.764 
 CIEL3 CIELO ON 34,40 +0,38 217,97M 120,95M 25.456 
 JBSS3 JBS ON 11,00 +5,77 163,89M 72,14M 28.668 
 BRFS3 BRF SA ON EDJ 52,02 -3,93 156,14M 127,13M 14.206 
 BVMF3 BMFBOVESPA ON 10,39 -4,15 153,40M 89,61M 31.893 

* – Lote de mil ações
1 – Em reais (K – Mil | M – Milhão | B – Bilhão)
 

Cenário doméstico
Medida pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a Produção Industrial referente a novembro do ano passado caiu 2,4%, ante expectativas de queda de 1,1% em relação a outubro segundo o consenso de mercado. O indicador já havia recuado 0,7% no período anterior. Na comparação anual, a produção industrial teve uma retração de 12,4%, contra 10,3% esperados e 11,2% de queda registrados em outubro.

Enquanto isso, no noticiário político, o ministro-chefe da Casa Civil, Jaques Wagner, afirmou que o governo não elabora um pacote de medidas para ser lançado neste início de ano. “Há uma expectativa, que na minha opinião não vai corresponder, de que sairá uma grande notícia. Não estamos mais em tempo de pacotes e não tem nada bombástico”, disse. “Parece que as pessoas estão esperando a grande notícia, o coelho na cartola, mas não tem coelho na cartola”, acrescentou.

Ainda no cenário político, o vice-presidente da República, Michel Temer, disse ontem a deputados aliados que a tese de impeachment da presidente Dilma Rousseff perdeu força e que a destituição não deve ocorrer. Imbuído deste pensamento, ele decidiu, segundo a coluna Painel, da Folha de S. Paulo, recuar da articulação pelo impedimento para obter em troca a neutralidade do Planalto no pleito pela presidência do PMDB em março.

Conseguindo uma unidade da sua sigla em torno do seu nome, o vice-presidente teria a possibilidade de não sair queimado tanto em caso de impeachment quanto em uma eventual permanência de Dilma no cargo. Em caso de impedimento, ele teria a Presidência da República nas mãos, e em caso de fracasso do processo, ele poderia refazer as pontes com o governo.

Além disso, o Banco Mundial divulgou ontem suas perspectivas econômicas para este e o próximo ano e vê no Brasil um grande risco para a América Latina. Segundo o relatório, o País deve registrar uma queda de 2,5% em 2016, enquanto para ano que vem a projeção é de alta de 1,4%. Apesar disso, o Banco afirma que Brasil e Venezuela irão puxar a estagnação da região nos próximos meses. Em 2015, o Banco estima que a economia brasileira tenha sofrido uma contração de 3,7% – no relatório de junho, a queda prevista era de 1,3%.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.