Brasil deve sofrer sell off em breve, alerta gestor que cita risco do “mercado torcedor”

O impeachment foi só a "cereja do bolo" que as agências esperavam para rebaixar o rating do Brasil, diz Paulo Clini, da Western Asset

Paula Barra

Publicidade

SÃO PAULO – O Brasil sofrerá uma onda de rebaixamentos em breve e será inevitável um “sell off” (forte pressão vendedora) no mercado. “O timing é incerto, mas ele virá. A discussão que ouvimos é que é quase certo que as outras agências de rating puxarão o País para grau especulativo”, disse Paulo Clini, que já passou pela cadeira de gestor da Western Asset Management e atualmente é diretor de investimentos da gestora, em entrevista ao InfoMoney.

Para ele, o impeachment foi só a “cereja do bolo” que as agências esperavam para rebaixar o rating do Brasil. “Com ou sem impeachment, o processo é muito sério. Não é só uma questão de Joaquim Levy [ministro da Fazenda] conseguir implementar o ajuste fiscal”.

A opinião de Clini vem respaldada por diversos agentes econômicos que estiveram presentes no 7° Fórum anual de especialistas locais e internacionais da Western Asset, na última sexta-feira. “Quando você traz incerteza não melhora a perspectiva, você piora”, disse Roberto Sifon-Arevalo, diretor de ratings soberanos e finanças públicas para América Latina da Standard & Poor’s, durante o evento. “A única certeza, no momento, é que o cenário é incerto para o Brasil”, disse, comentando que ainda há uma série de questões a ser resolvidas aqui para dar luz aos próximos passos.

Masterclass

As Ações mais Promissoras da Bolsa

Baixe uma lista de 10 ações de Small Caps que, na opinião dos especialistas, possuem potencial de valorização para os próximos meses e anos, e assista a uma aula gratuita

E-mail inválido!

Ao informar os dados, você concorda com a nossa Política de Privacidade.

Quando ocorrer o rebaixamento das demais agências (lembrando que atualmente apenas a Standard & Poor’s cortou o rating do Brasil para grau especulativo), por mais que os agentes econômicos saibam que a probabilidade é grande, vai trazer uma forte venda forçada de fundos estrangeiros, que não podem aplicar em país sem grau de investimento, comenta Clini. No radar, o mercado aguarda os próximos passos da Fitch Ratings e Moody’s. “É uma questão de tempo para vir. Mesmo que alguns já tenham uma exposição pequena, ela vai virar zero, e isso terá um impacto imediato”, disse Clini.

Para ele, apesar do efeito imediato, o impacto para frente deve ser menor do que quando a S&P retirou o grau de investimento do Brasil, em setembro. “Você esperava que essa discussão ocorresse agora e eles fizeram em setembro. Agora a surpresa vai ser menor, olhando para o CDS (Credit Default Swap) de cinco anos do País, que é negociado em cerca de 450 pontos-base, o que já traz uma percepção de que o segundo downgrade virá e reforça a visão que pode provocar um efeito menos acentuado”, avalia. “Já estamos sendo precificados, de certa maneira, como um país de grau especulativo”. Ainda assim, “o mercado não ficará insensível a isso”. 

Caminhando para um 2016 ainda pior?
O que acredito é que o grau de incerteza do cenário econômico, que já era alto, aumentou ainda mais com a política, disse. “Eu olho para a economia e penso como o empresário reage a isso. Diante de tanta incerteza, ele trava as decisões e, consequentemente, você piora o cenário econômico, que tem reflexos nos investimentos. Então, esse aumento de incertezas têm implicações. O investidor já tava com dificuldade de entender quais eram os cenários possíveis, quando você adiciona a questão impeachment, você piora”.

Continua depois da publicidade

Para ele, atualmente, o grau de incerteza está parecido com o que era no início da década de 90. “O cenário que vivemos hoje me lembra a época do impeachment de Fernando Collor, perto de quando iniciei minha carreira, quando os mercados ficavam oscilando conforme os depoimentos do dia na comissão para avaliar o pedido no Congresso”, disse. 

Voltamos para um evento binário, em que um cenário pode ser muito bom e outro muito ruim, relembrando também o que ocorreu ano passado na Bolsa, durante a eleição presidencial. Quando as pesquisas mostravam um cenário mais favorável para vitória da oposição, o mercado subia, enquanto o favoritismo do atual governo reforçava um sentimento negativo. “Isso é muito ruim, porque eventos assim você não consegue distribuir probabilidades. Você não consegue fazer apostas com convicção. Ou você perde muito ou ganha muito. É pior ainda porque tem a incerteza sobre o tempo”, avalia

Clini reforça que, diante desse momento, o melhor a se fazer é assumir risco com cautela, dado que os resultados para o mercado podem ser muito diferentes – a depender do impeachment. 

Segundo ele, a gestora não realizou nenhum movimento abrupto após a aceitação do pedido de impechament, na semana passada, porque já estavam adotando uma postura muito cautelosa. Maior parte em renda fixa e, dentro desse universo, optando por uma exposição maior aos produtos pós-fixados do que os pré-fixados.

“Eu, como investidor, não consigo ver clareza no cenário. Um investidor que não é profissional pode até apostar em um lado e dar a sorte de ganhar, mas esse tipo de aposta deve ser evitada, já que nem os próprios especialistas conseguem apontar uma direção. Se for para fazer assim, talvez seja mais fácil ganhar dinheiro jogando em um cassino”, brinca. Clini encerra a conversa com uma das frases mais ditas durante a entrevista: “esse cenário inspira cautela”.

É hora ou não é de comprar ações da Petrobras? Veja essa análise especial antes de decidir: