Ibovespa sobe 0,6% em dia de volume baixo; dólar cai e DIs sobem após Copom “agressivo”

SÃO PAULO – O Ibovespa fecha em alta nesta quinta-feira (26) depois do Copom (Comitê de Política Monetária) dar um sinal mais “hawkish” (agressivo) na decisão de ontem. O comitê manteve a taxa básica de juros em 14,25% ao ano, mas dois membros votaram por uma elevação de 50 pontos-base. Contudo, fez alguma pressão no mercado a situação política, tendo o Senado votado pela manutenção da prisão do líder do governo, Delcídio Amaral (PT-MS). Vale lembrar também que hoje é feriado nos Estados Unidos, então o volume de negociação na BM&FBovespa foi bem mais baixo do que o normal.

O Ibovespa subiu 0,60% a 47.145 pontos depois de afundar 2,94% ontem por conta das prisões do líder do governo no Senado e do CEO do BTG Pactual, André Esteves. O volume financeiro negociado hoje foi de R$ 3,976 bilhões. Já o dólar comercial zerou ganhos na última hora do pregão e terminou em leve baixa de 0,16% a R$ 3,7440 na compra e a R$ 3,7445 na venda, enquanto o dólar futuro para dezembro tinha leve variação positiva de 0,04% a R$ 3,749. No mercado de juros futuros, o DI para janeiro de 2017 subia 28 pontos-base a 15,53%, ao passo que o DI para janeiro de 2021 tinha alta de 14 pontos-base a 15,62%. Os DIs já precificam uma alta de 0,5 ponto percentual da Selic em janeiro. 

O comunicado do Copom de ontem disse: “avaliando a conjuntura macroeconômica e as perspectivas para a inflação, o Copom decidiu manter a taxa Selic em 14,25% a.a., sem viés, por seis votos a favor e dois votos pela elevação da taxa Selic em 0,50 p.p.”. Analistas de mercado viram sinal de alta na divisão de votos, lembrando que os dois que votaram contra a manutenção foram Sidnei Corrêa Marques e Tony Volpon.

Além disso, a comunicação do comitê cortou todo o segundo parágrafo, que trazia comentários tais quais “manutenção desse patamar da taxa básica de juros, por período suficientemente prolongado, é necessária para a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante da política monetária” e “Copom ressalta que a política monetária se manterá vigilante para a consecução desse objetivo”. Segundo o banco de investimentos norte-americano, Goldman Sachs, cortar a sentença sobre período prolongado foi uma mudança “claramente hawkish”.

Na mesma linha, a equipe de análise da XP Investimentos disse que é certo que o Banco Central cada vez mais eleva o tom para sinalizar a necessidade de esforço fiscal como condição para a política monetária funcionar adequadamente, e o dissenso, segundo a corretora, pode ter sido a forma do BC enviar recados. “O fato é que o BC não tem muita munição, pois quanto mais elevada a taxa de juros, mas próximos ficamos da dominância fiscal, pois os agentes econômicos passam a temer insolvência da dívida”, explica a XP em relatório ao mercado. 

Ainda de acordo com a corretora, se o BC subir a Selic em ritmo de 50 pontos-base já na próxima reunião, ele corre o risco de não conseguir parar tão cedo, e o quadro pode se agravar. “Portanto, é importante equilíbrio na comunicação”, conclui o paper. 

Prisões da Lava Jato
No front político, em votação aberta, os senadores decidiram por 59 votos contra 13 e uma abstenção que o líder do governo deverá ser mantido preso. Delcídio está na carceragem da Polícia Federal (PF) em Brasília após decisão unânime da segunda turma do Supremo Tribunal Federal (STF). Ele foi levado para a PF ontem pela manhã, na 21ª fase da Operação Lava Jato, quando também foram presos seu chefe de gabinete, Diogo Ferreira, e o presidente do banco BTG Pactual, André Esteves.

As notícias de hoje mostram que o PT deve abandonar Delcídio após a prisão. De acordo com informações do Valor Econômico, o partido pode expulsá-lo, possibilidade que é reforçada pelas declarações do presidente da sigla, Rui Falcão, de que o PT não se julga obrigado a ser solidário com Delcídio.

Indicadores
Após um rombo de US$ 3,076 bilhões em setembro, o déficit das transações correntes somou US$ 4,166 bilhões em outubro, conforme revelou nesta quinta o Banco Central. A projeção do BC para a conta corrente do mês era de um saldo negativo de US$ 4,9 bilhões ante US$ 9,319 bilhões em idêntico mês de 2014.

O resultado ficou dentro das expectativas colhidas com economistas do mercado financeiro pelo Agência Estado Projeções, que iam de déficit de US$ 2,9 bilhões a US$ 5,6 bilhões, com mediana negativa encontrada foi de US$ 3,7 bilhões.

Os números levam em conta a nova metodologia do BC para as estatísticas de Setor Externo. Com as mudanças adotadas pela instituição, a série histórica foi reduzida e há dados disponíveis somente a partir de janeiro de 2014. Anteriormente, as informações iam até 1947.

Além da conta corrente, hoje também foi dia de divulgação do resultado primário do Governo Central em outubro. Conforme dados divulgados pelo Tesouro Nacional, no mês passado, as contas, que reúnem dados do Tesouro, Previdência Social e Banco Central, foram negativas em R$ 12,279 bilhões, o pior resultado desde 1997, quando se iniciou a série histórica. O resultado equivale a um déficit de 0,69% do PIB.

O número de outubro veio pior do que a mediana das expectativas do mercado financeiro, que, segundo levantamento do AE Projeções, indicava um déficit de R$ 10,000 bilhões. As expectativas iam de um déficit de R$ 15,400 bilhões a um superávit de R$ 2,700 bilhões.

Com isso, o resultado primário dos dez primeiros meses do ano é deficitário em R$ 33,004 bilhões. É o pior desde o início da série histórica. Em 12 meses, o superávit do Governo Central acumulado é de R$ 39,1 bilhões – o equivalente a 0,68% do PIB. O resultado em 12 meses também é o pior da série histórica.

Ações em destaque
As ações de bancos se recuperaram após as fortes quedas de ontem em meio a preocupações de que a prisão do presidente do BTG pudessem causar um impacto sistêmico. Subiram Itaú Unibanco (ITUB4, R$ 28,32, +1,47%), Bradesco (BBDC3, R$ 25,40, +2,42%; BBDC4, R$ 22,37, +2,19%) e Banco do Brasil (BBAS3, R$ 17,85, +2,59%). 

As maiores altas, dentre as ações que compõem o Índice Bovespa, foram:

Do mesmo jeito, a Vale (VALE3, R$ 14,19, +0,92%; VALE5, R$ 11,76, +0,51%) registrou ganhos apesar da queda do minério de ferro. A commodity spot com 62% de pureza e entrega no porto de Qingdao caiu 0,20% a US$ 43,98. 

As maiores baixas, dentre os papéis que compõem o Índice Bovespa, foram:

Já as ações da Petrobras (PETR3, R$ 9,70, +0,41%; PETR4, R$ 7,92, +0,25%) operaram entre perdas e ganhos após as fortes perdas da véspera com os desdobramentos da Lava Jato. De acordo com profissionais do mercado de renda variável, tais eventos afetam a confiança no mercado pois envolvem pessoas relevantes nas cenas política e financeira, assustando inclusive investidores estrangeiros, que vinham sustentando ganhos recentes do Ibovespa apesar dos fundamentos negativos para as ações.

Por lado, entre as quedas ficaram as ações da JBS (JBSS3, R$ 13,48, -1,89%) após a notícia de que uma auditoria do TCU (Tribunal de Contas da União), divulgada na quarta-feira, revelou indícios de “tratamento privilegiado” por parte do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) ao grupo – dono de marcas como a Friboi –, em empréstimos e outras operações financeiras. De forma preliminar, o TCU estima que uma única operação tenha gerado um prejuízo de R$ 614 milhões ao banco, em valores de 2008. O pedido para que a auditoria fosse realizada partiu da Câmara dos Deputados.

O BNDES informou, por meio de sua assessoria de imprensa, estar “tranquilo quanto à regularidade das operações” com o grupo JBS. O BNDES disse “considerar o fato de o trabalho do TCU não ser conclusivo, uma vez que a auditoria levantou indícios”.

As ações mais negociadas, dentre as que compõem o índice Bovespa, foram:

^* – Lote de mil ações 
¹ – Em reais (K – Mil | M – Milhão | B – Bilhão) 

Cenário externo
A Europa viu suas bolsas subirem seguindo a cotação das commodities e com a expectativa dos investidores de que de mais estímulos sejam anunciados na reunião do BCE (Banco Central Europeu) da próxima semana.

Já as bolsas asiáticas tiveram um dia misto, com o índice japonês Nikkei em leve alta de 0,49%, enquanto as bolsas chinesas devolveram os ganhos iniciais e terminaram em queda nesta quinta-feira, com o recuo das ações de empresas com menor valor de mercado compensando a forte recuperação nas ações de empresas relacionadas a matérias-primas. O índice de Xangai recuou 0,34% e Hang Seng caiu 0,04%. O setor de matérias-primas era o único ponto positivo no mercado que, no geral, esteve fraco. As indústrias desse setor de matérias-primas foram inspiradas pela alta nos preços do zinco, após a maior fundição de zinco da China anunciar um corte na produção de 500 mil toneladas em 2016.

(Com Agência Estado)

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