Bolsa cai 1,4% na semana e dólar dispara 7,6% e chega a R$ 3,86 pela 1ª vez desde 2002

Índice inicia setembro como terminou agosto: em queda, puxado por incertezas no campo político e acompanhando cenário de pessimismo no plano internacional; bancos afundam com CSLL

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – O Ibovespa conheceu, entre a abertura de segunda-feira (31) e o fechamento desta sexta-feira (4), sua sétima semana de queda em dez, iniciando setembro da mesma forma que encerrou o mês anterior: com o pé esquerdo. O benchmark da bolsa brasileira fechou o acumulado dos últimos cinco pregões cotado a 46.452 pontos, o que corresponde a uma queda de 1,39%. Apenas nesta sexta, sessão que antecede o feriado de 7 de setembro, quando a bolsa ficará fechada, o índice marcou queda de 1,83%. O giro financeiro negociado foi de R$ 8,51 bilhões. Acompanhando o dia negativo para a bolsa, o dólar marcou um novo dia de fortes altas. A divisa encerrou a sessão com alta de 2,56%, cotada a R$ 3,8562 na venda, o que corresponde a uma valorização de 7,56% ante o real na semana. É o maior patamar desde 2002.

No plano doméstico, o cenário ainda é de grandes incertezas e forte pessimismo na política e na economia. Ontem, após especulações sobre se o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, permaneceria ou não no cargo, o governo fez uma força tarefa para blindá-lo e mostrar apoio para que ele continue no cargo. Os ministros Aloizio Mercadante e Edinho Silva afirmaram que “quem apostar na saída de Levy irá perder”. Porém, outro fator de tensão gerou instabilidade, com o vice-presidente Michel Temer afirmando em evento fechado que seria muito “difícil” Dilma Rousseff se manter no poder com uma popularidade tão baixa, o que gerou mal estar no governo. Também marcou o noticiário semanal a decisão do Copom (Comitê de Política Monetária) por manter a taxa básica de juros em 14,25% ao ano. A Selic é um importante mecanismo usado pelo Banco Central para controlar o avanço da inflação. Ainda na retrospectiva semanal, vale lembrar a apresentação do projeto de Orçamento referente a 2016 pelo governo, com déficit primário de R$ 30,5 bilhões – o que corresponde a 0,5% do PIB. Foi a primeira vez que isso aconteceu na história.

O movimento pessimista de maior pressão da força vendedora na Bovespa que marcou a sessão desta sexta acompanhou o sentimento dos investidores internacionais, que derrubaram as principais bolsas ao redor do planeta, seguindo os números do Relatório do Emprego nos Estados Unidos. Na maior economia do mundo, os três principais índices apresentavam quedas entre 0,7% e 1,3% até o fechamento deste texto. O Departamento de Trabalho norte-americano publicou nesta sexta-feira (4) os dados de emprego na maior economia do mundo durante o mês de agosto. A taxa de desemprego foi de 5,1%, contra expectativas de uma queda para 5,2% após o indicador bater 5,3% em julho. Foi a menor taxa desde 2008. Já a criação de empregos excetuando-se agricultura e pecuária – os famosos nonfarm payrolls – indicaram a criação de 173 mil novos empregos em agosto. As expectativas do mercado eram de que fossem criados 217 mil novos postos segundo a pesquisa da Briefing.

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O mercado sempre observa com atenção os relatórios de emprego dos EUA à espera de indicações sobre uma recuperação mais forte ou mais fraca da economia do país. Se os dados vêm mais altos do que o esperado as interpretações são de que a chance do Federal Reserve elevar os juros mais cedo este ano aumentem. Mohamed El-Erian, ex-Pimco e economista-chefe da Allianz, disse que o relatório colocou o Fed em um cenário de indefinição complexa, já que a criação de empregos veio bem abaixo do esperado ao mesmo tempo em que outros fatores – como a queda do desemprego – foram vistos como positivos.

Para Hersz Ferman, economista da Elite Corretora, o impacto dos payrolls no mercado é limitado, já que os números de criação de empregos em julho foram revisados para cima, de 215 mil para 245 mil, o que faz com que o acumulado continue positivo. “O que a gente vê é que a economia dos EUA está se recuperando bem da crise”, avalia, lembrando que este é mais ou menos o cenário com o qual os investidores já trabalhavam. Ele acredita que o desempenho da Bovespa hoje é motivado pela baixa nos mercados acionários globais, que recuam deixando para trás o rali de ontem, motivado pela perspectiva de novos estímulos do BCE (Banco Central Europeu).

Destaques do pregão
As ações da Petrobras (PETR3, R$ 9,90, -3,32%; PETR4, R$ 8,51, -2,85%) caíram forte apesar de notícia sobre mais austeridade nos gastos. Os empregados da estatal vão ser obrigados a economizar, até 2019, US$ 12 bilhões. A direção da companhia enviou comunicado interno informando que, a partir de agora, algumas despesas e vantagens corporativas – como cursos e viagens – serão suspensas e outras reduzidas.

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Na semana, destaque para as perdas registradas pelos papéis do setor financeiro, com Banco do Brasil (BBAS3, R$ 17,04, -4,43%) e Bradesco (BBDC3, R$ 24,39, -4,17%; BBDC4, R$ 22,36, -4,24%) liderando as quedas do segmento, com respectivas desvalorizações de 9,27%, 7,58% (ON) e 6,87% (PN) entre segunda e sexta. As maiores baixas, no entanto, foram vistas por Hypermarcas (HYPE3, R$ 15,16, -4,35%) e Localiza (RENT3, R$ 21,50, -1,33%), com respectivas perdas de 10,93% e 10,42% no acumulado da semana.

As maiores baixas, dentre as ações que compõem o Índice Bovespa, foram:

 Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 SANB11 SANTANDER BR UNT 14,70 -5,59 +11,35 60,46M
 ECOR3 ECORODOVIAS ON 6,39 -5,33 -36,95 11,40M
 SBSP3 SABESP ON 14,96 -4,90 -10,29 30,41M
 TIMP3 TIM PART S/A ON 8,34 -4,69 -27,99 37,47M
 CPFE3 CPFL ENERGIA ON 15,13 -4,66 -15,56 25,77M

Também os papéis da Vale (VALE3, R$ 18,24, -2,62%; VALE5, R$ 14,73, -3,09%) fecharam em queda, em movimento de correção após subirem 4% ontem. Já as ações de exportadoras de papel e celulose, como Fibria (FIBR3, R$ 55,95, +2,21%) e Suzano (SUZB5, R$ 19,30, +2,06%), subiram puxados pelo desempenho do dólar. O câmbio depreciado beneficia essas empresas, que possuem suas receitas denominadas na divisa norte-americana.

As maiores altas, dentre os papéis que compõem o Índice Bovespa, foram:

 Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 USIM5 USIMINAS PNA 3,46 +8,13 -31,11 37,67M
 GOLL4 GOL PN N2 4,49 +6,40 -70,42 11,45M
 ELET6 ELETROBRAS PNB 8,44 +6,16 +4,38 79,57M
 CSNA3 SID NACIONAL ON 4,03 +4,68 -22,02 39,83M
 BRKM5 BRASKEM PNA 15,51 +4,37 -6,68 49,97M

Já os papéis da Eletrobras (ELET3, R$ 5,09, +1,19%; ELET6, R$ 8,44, +6,16%) fecharam em alta, mesmo com os preferenciais se despedindo do índice. A companhia anunciou que sua controlada Eletronorte reapresentou à Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) o laudo de avaliação dos ativos de transmissão de energia elétrica existentes em 31 de maio de 2000, para fins de indenização das instalações da denominada Rede Básica Sistema Existente (RBSE) e demais instalações de transmissão (RPC). O novo valor pleiteado, e sujeito à aprovação do órgão regulador, é de R$ 2,926 bilhões, na data base de dezembro de 2012. Segundo a empresa, o atual valor contábil residual dos referidos bens é de R$ 1,733 bilhões.

No acumulado da semana, ganharam destaque, além do setor de papel e celulose, as altas das siderúrgicas, com CSN (CSNA3, R$ 4,03, +4,68%), Usiminas (USIM5, R$ 3,46, +8,13%) e Gerdau (GGBR4, R$ 6,07, +2,36%) acumulando respectivos ganhos de 19,94%, 16,50% e 15,62%.

As ações mais negociadas, dentre as que compõem o índice Bovespa, foram :

 Código Ativo Cot R$ Var % Vol1 Vol 30d1 Neg 
 ITUB4 ITAUUNIBANCO PN ED 26,42 -4,07 573,54M 556,81M 36.812 
 VALE5 VALE PNA 14,73 -3,09 478,64M 316,43M 40.906 
 ABEV3 AMBEV S/A ON 19,85 +1,12 460,80M 276,63M 35.566 
 BRFS3 BRF SA ON 71,55 +0,07 360,85M 187,09M 15.183 
 PETR4 PETROBRAS PN 8,51 -2,85 287,97M 442,04M 36.930 
 BBDC4 BRADESCO PN EJ 22,36 -4,24 283,07M 314,79M 31.679 
 VIVT4 TELEF BRASIL PN EJ 40,29 -0,76 225,08M 113,29M 18.449 
 VALE3 VALE ON 18,24 -2,62 217,84M 134,59M 18.478 
 CIEL3 CIELO ON 37,03 -2,04 186,56M 187,07M 14.903 
 BBSE3 BBSEGURIDADE ON 27,37 -3,86 168,60M 120,47M 13.711 

* – Lote de mil ações
1 – Em reais (K – Mil | M – Milhão | B – Bilhão) 

Outros destaques
As bolsas asiáticas ampliaram as perdas nesta sexta-feira com o relatório de emprego nos Estados Unidos ofuscando sinais do Banco Central Europeu de que está disposto a tomar mais medidas para fortalecer a economia europeia. O dia foi de queda nas bolsas europeias, com baixas na casa dos 2% também de olho nos dados dos EUA após o rali da véspera em meio ao ânimo com o BCE.

Na Alemanha também esteve no radar a queda de pedidos às fábricas, mostrando um dinamismo menor do que o esperado na maior economia da zona do euro. Rendimentos dos treasuries e títulos europeus acompanham baixa das bolsas antes dos dados americanos.

O índice japonês Nikkei fechou com queda de 2,15% após recuar 3,2% anteriormente na sessão, para uma mínima de sete meses de 17.608 pontos. Já o Hang Seng, de Hong Kong, caiu 0,45% com receios de que a queda seja retomada quando Xangai voltar do feriado na segunda.

Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.