Especialistas afirmam: a China não fez o que o mercado precisa, e sim o que ele queria

Corte de taxas na China era algo que o mercado estava esperando, mas não é suficiente para ajudar na recuperação econômica; a virada de Wall Street hoje foi uma prova disso

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – O mundo todo esperava por medidas do governo chinês, e sem nenhum anúncio na segunda-feira, os mercados globais desabaram. Então o governo “atendeu” às expectativas e nesta terça comunicou o corte na taxa de compulsório e da taxa de empréstimos, empolgando os investidores – pelo menos até o meio da tarde. Mas será que as medidas chinesas realmente são capazes de sustentar altas do mercado?

O InfoMoney conversou com diversos especialistas sobre o assunto, mas Wall Street já foi suficiente para mostrar o que o próprio mercado acha. Desde o pré-market, os índices americanos disparavam, chegando a subir mais de 2% durante a tarde. Porém, faltando menos de uma hora para o fim do pregão e tudo começou a virar. No fim, Dow Jones e S&P 500 caíram 1,3%.

Mas por que isso aconteceu? Simples, porque os investidores perceberam o que especialistas indicavam desde a manhã de hoje: os anúncios da China estão longe de serem suficientes para ajudar o mercado. “É normal o mercado ter um impulso positivo. Sempre que temos esses anúncios, os investidores demoram um pouco para analisarem o que ele realmente significa”, explica o economista da Austin Rating, Alex Agostini.

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Segundo ele, atualmente “volatilidade é o nome do jogo”, sendo que o mercado está sempre “buscando mais”, querendo alguma notícia, estímulo ou anúncio para decidir seu rumo, principalmente por conta da tensão econômica – e no caso do Brasil, política. Agostini explica que a notícia, do lado econômico, tem seus pontos positivos, mas os investidores sempre levam em conta o “lado emocional” também, e neste caso, faltou confiança do governo chinês.

Para o professor de economia do Insper, Roberto Dumas Damas, não havia um motivo para os investidores esperarem pelos estímulos. Segundo ele, os anúncios do governo “Não mudam nada. É uma medida paliativa que o governo chinês utiliza apenas para administrar o transatlântico rumo ao rebalanceamento de seu modelo de crescimento econômico”.

Ele explica que a China passa por um período de remodelação do seu crescimento econômico para passar a desenvolver o consumo da sua população, mas o mercado insiste em não acreditar nisso e criar expectativas. “Ainda não caiu a ficha [do mercado]. O pessoal precisa perceber que a renda do trabalhador chinês já está subindo. Outra medição desta remodelação [da economia] está no aumento do setor terciário (serviços) em detrimento do secundário (indústria)”, afirma Dumas.

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Em relatório divulgado nesta terça, a equipe de análise do Bradesco destaca que ajuste para baixo dos mercados se deve aos fatores estruturais que, dificilmente, serão revertidos com políticas de estímulo. 

Segundo eles, duas perguntas ficam no ar diante dos movimentos recentes dos mercados financeiros: “será que o governo do país aumentou a tolerância a taxas menores de crescimento no curto prazo (em relação à meta de expansão do PIB de 7%) e/ou não consegue mais intervir na economia como antes? Ou o mercado se deu conta de que as intervenções têm limite e desistiu de esperar que os estímulos levem a uma recuperação da economia nos trimestres à frente?”

Conforme destaca o diretor de pesquisas e estudos econômicos do Bradesco, Octávio de Barros, parece precipitado responder a essas questões  apenas à luz do comportamento dos mercados financeiros nessas últimas semanas, até porque hoje o banco central do país reagiu, anunciando a redução do depósito compulsório e da taxa de juros. Porém, afirma, os sinais negativos vindos do gigante asiático demandam alguma reflexão no momento, incluindo o fato de que os problemas da China são estruturais.

Tanto para Agostini, quanto para Dumas e a equipe do Bradesco, a conclusão que fica é que o mercado hoje não assimilou de verdade o que a medida da China significa, a alta ocorreu simplesmente porque era algo que os investidores queriam. A tendência para os próximos dias é que os mercados globais registrem forte volatilidade, enquanto todos analisam e tentam projetar realmente qual será o futuro. Mas é unânime que apenas o anúncio de hoje está longe de ser o que o mercado precisa.

Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.