Após susto com S&P, Bolsa interrompe sete quedas e fecha em alta de 1,8%

Mercado se salvou de um dia de baixa mesmo com rebaixamento da perspectiva do seu rating soberano; cenário externo e correção foram mais fortes

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – Após a notícia do corte de perspectiva do rating do Brasil pela agência de classificação de rating Standard & Poor’s de “estável” para “negativa”, o Ibovespa chegou a afundar 900 pontos, quase zerando, mas pela tarde voltou ao movimento de repique diante das quedas nos últimos sete pregões. O índice encerrou o dia em alta de 1,78%, a 49,601 pontos, configurando como melhor pregão desde o dia 2 de junho. O volume financeiro negociado na Bovespa foi de R$ 7,212 bilhões. 

Já o dólar comercial amenizou os ganhos e teve alta de 0,14%, a R$ 3,3685 na compra e R$ 3,3690 na venda – chegando aos R$ 3,42 na máxima do dia. No mercado futuro, o dólar para agosto teve alta de 0,21%, a R$ 3,376, indo a R$ 3,4400 na máxima. Enquanto isso, o DI janeiro de 2017 subiu a 13,95% ao ano. Já o DI janeiro de 2021, mais sensível à percepção de risco, foi a 13,07%, contra 12,979% no ajuste de ontem e máxima hoje de 13,430%.

Lá fora, o cenário externo amenizou preocupaçõs, com índices como o Dow Jones e o S&P 500nos Estados Unidos subindo mais de 1%. No radar, hoje começaram as negociações da Grécia com os seus credores para um resgate de 86 bilhões de euros. Além disso, a China deu sinais de que irá continuar tomando medidas para conter a volatilidade do seu mercado, o que trouxe otimismo para o mercado de commodities e, consequentemente, para as bolsas que estão ligadas a estes produtos como é o caso da brasileira. 

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S&P
Apesar de manter a nota de crédito do País, a S&P espera que o Brasil registre uma retração da economia da 2% neste ano, enquanto em 2016 não haverá crescimento. Apenas em 2017 a agência projeta um crescimento modesto da economia.

Ao mesmo tempo, a agência reafirmou o rating da dívida de longo prazo em moeda estrangeira do Brasil em “BBB-“, o rating “A-3” da dívida de curto prazo em moeda estrangeira, a nota “BBB+” da dívida de longo prazo em moeda local e o rating “A-2” da dívida de curto prazo e moeda local. A S&P também confirmou o rating escala nacional “brAAA” e a perspectiva sobre esta nota permanece “estável”.

A S&P disse que as investigações em curso nos casos de corrupção contra políticos e empresas de alto perfil – em ambos os setores público e privado, e em todos os partidos – levaram a uma alta da incerteza política no curto prazo. A agência afirmou que este cenário coloca um grande risco nas implementações de novas políticas, principalmente nas votações do Congresso.

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Segundo a agência, desde que o rating do País foi reafirmado, em 23 de março, os riscos de um downside da nota soberana aumentaram. “O Brasil enfrenta circunstâncias políticas e econômicas desafiadoras, apesar do que nós consideramos ser uma correção política significativa durante o segundo mandato da presidente Dilma Rousseff”, afirmou a S&P em relatório.

A projeção da agência é de um para três de que o governo irá enfrentar novas “derrapagens dada a dinâmica política e que o retorno de uma trajetória de crescimento econômico mais firme vai demorar mais tempo do que o esperado”. “Revisamos a perspectiva para negativa porque, apesar das mudanças políticas atualmente em curso, que têm o apoio da presidente, os riscos de execução subiram. Em nossa visão, esses riscos derivam de ambas as frentes políticas e econômicas”, afirma a S&P.

Ações perdem força
Em uma “procura por pechinchas” por parte dos investidores, as ações que fazem parte do Ibovespa tiveram fortes altas. Caso da Petrobras (PETR3, R$ 10,98, +5,37%; PETR4, R$ 9,97, +4,84%), que fechou em alta de 5%. O mesmo movimento foi visto com a Vale (VALE3, R$ 18,09, +7,94%; VALE5, R$ 14,86, +6,14%) e siderúrgicas, que ainda registraram altas maiores favorecidas pela valorização do minério de ferro na China.

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As maiores altas, dentre as ações que compõem o Índice Bovespa, foram:

 Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 BRKM5 BRASKEM PNA 12,18 +12,47 -26,72 40,30M
 CSNA3 SID NACIONAL ON 4,18 +10,00 -19,12 28,99M
 USIM5 USIMINAS PNA 4,05 +8,29 -19,36 48,61M
 VALE3 VALE ON 18,09 +7,94 -14,70 189,79M
 BRAP4 BRADESPAR PN 9,86 +6,25 -27,47 20,95M

As ações da Braskem (BRKM5, R$ 12,18, +12,47%) também mantiveram forte alta nesta tarde e lideraram os ganhos do Ibovespa. O movimento ocorreu após derrocada de 10% ontem (pior desempenho diário do índice). Em relatório de hoje, o BTG Pactual comentou que, embora a empresa tenha uma história de tipicamente ir bem no ambiente econômico atual, graças a suas vantagens competitivas, força estrutural e receita em dólar, os desdobramentos da Operação Lava Jato são impossíveis de se prever, sendo, no momento, melhor ficar à margem da ação.

Ontem, os papéis desabaram com informações de que o contrato de nafta firmado com a Petrobras entre 2009 e 2014 trouxe prejuízo de R$ 6 bilhões à estatal. Conforme denúncia apresentada pelo Ministério Público Federal, o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa teria recebido propina da Odebrecht para manter os preços da matéria-prima favoráveis à Braskem. 

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As maiores baixas, dentre os papéis que compõem o Índice Bovespa, foram:

 Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 GOLL4 GOL PN N2 5,80 -4,76 -61,79 12,89M
 RUMO3 RUMO LOG ON 0,93 -4,12 -46,74 22,84M
 ESTC3 ESTACIO PART ON 16,55 -3,44 -29,28 20,85M
 TIMP3 TIM PART S/A ON 8,87 -2,63 -23,41 73,26M
 KROT3 KROTON ON 9,80 -2,00 -36,48 116,66M

Do lado das quedas, as ações da Gol (GOLL4, R$ 5,80, -4,76%) operaram em queda. A companhia aérea anunciou ontem que começará desde já a reduzir a sua capacidade para recuperar os preços de passagens aéreas. 

O setor de educacionais também participou das quedas do pregão com Estácio (ESTC3, R$ 16,55, -3,44%) e Kroton (KROT3, R$ 9,80, -2,00%). No dia 23 deste mês o CMN (Conselho Monetário Nacional) elevou a taxa de juros dos financiamentos concedidos pelo Fies (Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior). A taxa subiu de 3,4% para 6,5% ao ano. A elevação de juros havia sido anunciada por Renato Janine, ministro da Educação, no final do mês passado, quando ele também apontou a abertura de 61,5 mil novos contratos durante o segundo semestre. 

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Segundo comunicado divulgado pela assessoria do Ministério da Fazenda, a elevação de juros deve-se ao cenário fiscal e à necessidade do ajuste. Ainda assim, diz a nota, o programa continuará com juro subsidiado, já que a taxa de 6,5% continua menor que a taxa de mercado. 

As ações mais negociadas, dentre as que compõem o índice Bovespa, foram:

 Código Ativo Cot R$ Var % Vol1 Vol 30d1 Neg 
 PETR4 PETROBRAS PN 9,97 +4,84 696,45M 478,73M 54.708 
 ITUB4 ITAUUNIBANCO PN 29,34 +1,84 604,57M 331,27M 57.365 
 VALE5 VALE PNA 14,86 +6,14 377,18M 301,24M 41.481 
 ITSA4 ITAUSA PN 8,08 +1,00 307,02M 129,82M 41.159 
 BBDC4 BRADESCO PN 27,30 +1,26 306,15M 195,55M 27.032 
 ABEV3 AMBEV S/A ON 18,79 +0,32 260,98M 191,01M 32.586 
 PETR3 PETROBRAS ON 10,98 +5,37 241,33M 178,11M 32.726 
 VALE3 VALE ON 18,09 +7,94 189,79M 93,29M 26.638 
 BRFS3 BRF SA ON 68,20 +1,43 169,08M 167,63M 10.736 
 CIEL3 CIELO ON 44,25 +1,75 158,13M 182,87M 13.075 

* – Lote de mil ações 
1 – Em reais (K – Mil | M – Milhão | B – Bilhão)
 

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Cenário externo
As bolsas asiáticas buscaram um movimento positivo após a derrocada do mercado chinês na véspera, mas boa parte delas fechou em queda. O governo chinês tentou acalmar o mercado, com os reguladores do país dizendo que estavam dispostos a comprar ações para estabilizar o mercado, enquanto o BC da China injetou dinheiro nos mercados e até mesmo insinuou uma maior flexibilização monetária.

Na Europa, por outro lado, o dia foi de expressiva alta, com os olhos também voltados para a China, além da temporada de resultados do segundo trimestre. No noticiário econômico, foi divulgado o PIB do Reino Unido, com crescimento de 0,7% na comparação trimestre na prévia do PIB do segundo trimestre. O resultado representa uma aceleração em relação ao primeiro trimestre, quando o PIB avançou 0,4% na comparação trimestral. Em relação ao mesmo trimestre do ano anterior a alta foi de 2,6%, sendo que ambos os resultados ficaram em linha com a expectativa do mercado.

E a Grécia segue no radar: as negociações entre o país e os credores internacionais para um terceiro resgate, estimado em até 86 bilhões de euros em três anos, começaram oficialmente hoje (28). Ao todo, 12 técnicos da Comissão Europeia (CE), Banco Central Europeu (BCE), Mecanismo de Estabilização Europeu (MEE) e Fundo Monetário Internacional (FMI) visitaram esta manhã a Secretaria-Geral de Contabilidade.

Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.