O alerta não vem só do mercado: o pior está por vir para as siderúrgicas

"A luz não está no fim do túnel", disse o presidente da ArcelorMittal no Brasil, durante Congresso do Aço no último domingo

Paula Barra

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SÃO PAULO – Fosse somente o desempenho pífio das ações das empresas na Bolsa estava bom, mas o setor siderúrgico aparece viver uma de suas piores crises. A constatação foi feita pelo presidente do Conselho diretor do Instituto Aço Brasil (IABr) e presidente da ArcelorMittal Brasil, Benjamin Mario Baptista, na abertura do 26° Congresso do Aço no último domingo. 

Questões conjunturais e estruturais levaram a indústria a essa situação, que vem sendo alardeada nos últimos meses por analistas de mercado e agora ganharam peso nas vozes dos próprios CEOs (Chief Executive Officer) das empresas, enquanto os dados da indústria deixam claro o ambiente que o setor atravessa.

Ontem, o IABr refez suas estimativas para o desempenho do setor neste ano. Segundo o estudo, a produção de aço bruto deverá mostrar uma queda de 3,4% sobre o ano passado, contra uma estimativa anterior de alta de 6,4%. O volume produzido será da ordem de 33 milhões de toneladas. Um resultado que refletirá nas vendas, cujas estimativas do instituto passaram agora para uma redução de 15,6%, ante queda de 8%. 

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“A luz não está no fim do túnel”, disse o presidente da ArcelorMittal no Brasil. Atualmente, o setor está com dois alto-fornos, quatro aciarias e quatro laminadores parados. A própria ArcelorMittal se prepara para fechar no próximo mês um laminador em Piracicaba (SP), enquanto avalia a necessidade de paralisação de mais um equipamento nos próximos meses. Por conta disso, a unidade da companhia provavelmente vai adotar regime de suspensão de contratos de trabalho dos funcionários afetados, em um sistema conhecido como “lay off”. 

As estimativas da IABr são de que as siderúrgicas podem demitir mais 4 mil funcionários até o final do ano. Desde junho do ano passado, o setor já demitiu 11,2 mil funcionários, com outros 1.400 em suspensão de contratos de trabalho.

Dados que reforçam o coro que vem sendo entoado na Conferência da Indústria do Aço: essa seria a pior crise da história do setor. Ontem, o BTG Pactual fez mais um relatório salientando a cautelosa situação que as siderúrgicas se encontram, deixando previsões nada animadoras para os próximos meses.

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“O momento é ruim para os resultados do segundo e terceiro trimestre”, comentaram. No setor, a única recomendação de compra é para a Gerdau (GGBR4) , que, na visão dos analistas, já caiu muito e teria um espaço para potencial de valorização no atual patamar, apesar de ressaltarem que a recomendação não é muito “convincente” – lembrando que recentemente os próprios analistas ressaltaram que esse tem sido um dos “calls” mais sofridos do banco este ano. Do topo registrado em março até agora, as ações da Gerdau já desabaram 42% – no pior desempenho entre as siderúrgicas na Bolsa. No mesmo período, Usiminas (USIM5) caiu 17% e CSN (CSNA3) recuou 19%.

No mês passado, a próprio CEO da Gerdau, André Gerdau, admitiu que o Brasil passa por um momento desafiador e que vê grande queda de demanda da maioria dos clientes no País.

Em meio à demanda fraca no Brasil, as companhias brasileiras foram responsáveis por 28% de todos os rebaixamentos feitos pela agência de classificação de risco Fitch no segundo trimestre, sendo que um dos destaques foi o setor siderúrgico e mineração, devido à forte queda da demanda na região pelo aço e à queda dos preços do minério de ferro. Movimentos que contribuiram para rebaixamentos da Usiminas e CSN, ainda que o rating de investimentos da Gerdau tenha sido afirmado.

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Na segunda-feira, o CEO da CSN, Benjamin Steinbruch, confirmou que está explorando várias opções para reduzir o nível de alavancagem da empresa, incluindo venda de ativos, mas, pelas apurações da Bloomberg, as expectativas para essas vendas são baixas porque provavelmente as ofertas tenham um valor baixo dado que os preços do aço estão em queda livre e a economia do Brasil se deteriorando. “As razões da alavancagem vão se deteriorar significativamente em 2015 e possivelmente em 2016 se não houver uma melhoria no minério de ferro e no mercado de aço do Brasil”, disse Sean Glickenhaus, analista de dívida corporativa do UBS. Em março de 2015, o endividamento bruto da companhia atingiu R$ 32 bilhões e sua dívida líquida, R$ 20 bilhões, o que corresponde a uma alavancagem (dívida líquida/Ebitda) de 4,8 vezes. 

A situação desconfortável do setor também bate às portas da Usiminas. Para reduzir custos, a siderúrgica passou a não funcionar sua sede de Belo Horizonte (MG) desde o dia 3 deste mês. A medida vigorará pelos próximos três meses e pode ser prorrogada por igual período, visando adequar os custos de pessoal e a melhoria da competitividade da companhia no cenário atual do mercado, informou a companhia em fato relevante divulgado hoje.

Em maio, a companhia decidiu desligar temporariamente os altos-fornos 1, da usina de Cubatão (SP), e 1 da usina de Ipatinga (MG), a partir de 31 de maio e 4 de junho, respectivamente, para que a produção de ferro gusa fosse reduzida em aproximadamente 120 mil toneladas por mês. A Usiminas encerrou o primeiro trimestre com quedas de 16,5% na produção de aço, para 1,38 milhão de toneladas, e de cerca de 10% na produção de minério de ferro, para 1,46 milhão de toneladas, na comparação com o mesmo período do ano passado. O prejuízo somou R$ 235 milhões, ante resultado positivo de cerca de R$ 222 milhões nos três primeiros meses de 2014.