E se a Grécia falar “não”, como o mercado acordará na segunda-feira?

Votação pode decidir se a Grécia receberá outro resgate financeiro em troca de mais medidas duras de austeridade ou se mergulhará mais fundo em uma crise

Paula Barra

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SÃO PAULO – A população grega votará no próximo domingo (5) se aprova ou rejeita o novo plano de austeridade proposto pela União Europeia. Com a Bolsa de Valores e os bancos fechados durante toda a semana, os saques em caixas automáticos racionados e comércio travado, a votação pode decidir se a Grécia receberá outro resgate financeiro em troca de mais medidas duras de austeridade ou se mergulhará mais fundo em uma crise. 

Com a pauta aquecida durante o final de semana, as dúvidas aumentam sobre como os mercados acordarão na próxima segunda-feira. Para especialistas, um calote grego, isto é um “não” no referendo, pode trazer um pânico inicial, mas o risco de contágio para outros países da região é menor do que há alguns anos e, consequentemente, os seus desdobramentos no Brasil. Enquanto um “sim” poderia – ainda assim – trazer incertezas, por conta das últimas declarações do ministro das Finanças, que falou que deixa o cargo e chegou a afirmar que preferiria “cortar um braço para fora”. 

Até o momento, as pesquisas apontam que o “sim” está vencendo, ou seja para fazer o acordo. Uma nova pesquisa publicada nesta sexta-feira (3) pelo instituto Alco aponta uma pequena vantagem do “sim, com 44,8%, contra 43,4% para o “não”. Neste caso, o ministro das Finanças, Yanis Varoufakis, disse que renuncia o cargo. Embora não sido tão enfático, o primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, pediu na quarta-feira que os gregos votem “não” no referendo. Tsipras não aceita a proposta de ajuda financeira da Europa porque ela impõe mais medidas de austeridade, o que, segundo ele, aprofundaria a crise da Grécia. 

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Para o vice-presidente da Comissão Europeia, Valdis Dombrovskis, em entrevista ao jornal alemão Die Welt, um “não” no referendo grego de domingo não vai reforçar o poder de negociação de Atenas perante os credores e, ao contrário, pode enfraquecer o diálogo. “Seria errado supor que um ‘não’ reforçaria a posição de negociação grega. É o oposto”.

E se o “não” prevalecer?
O risco maior nesse cenário, claro, é se o “não” prevalecer, um cenário menos provável pelas ultimas pesquisas, e que poderia colocar a Grécia no caminho para sair da zona do euro. Mas ainda assim, não deve trazer um grande impacto nos mercados internacionais. “A chance de um risco sistêmico na Grécia é muito menor do que há alguns anos. Provavelmente podemos ver um impacto negativo no curto prazo com a recusa da população a um acordo, mas não vejo como uma grande preocupação ao mercado interno”, disse o gestor da Humaitá Investimentos, Frederico Mesnik. 

O temor de um calote grego já não assusta tanto o mercado porque os bancos europeus já reduziram bastante a exposição à Grécia, porque outras economias consideradas vulneráveis do bloco, como Espanha, Portugal, Irlanda, estão caminhando na direção de colocar suas contas em dia. “No Brasil, podemos ver um aumento da aversão ao risco, com desvalorização do real, mas vejo como um impacto temporário, disse o economista Silvio Campos Neto, da Tendências Consultoria. “Vai virar uma bola de neve, mas contida dentro da Grécia”, pontuou Mesnik.

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Na segunda-feira, primeiro pregão pós-anúncio que a Grécia faria o referendo, dando a entender que um acordo era cada vez menos viável com os credores, o Ibovespa caiu 1,86%, um desempenho que pode ser usado como termômetro para como o mercado reagirá na próxima segunda-feira, enquanto o Dow Jones, um dos principais índices acionários norte-americanos, caiu 1,95%. 

… mas e se disserem “sim”?
O mercado está muito enxuto nesta sexta-feira com o feriado nos Estados Unidos, que manteve as bolsas fechadas por lá, então um “sim” grego pode trazer uma reação positiva, mas ainda assim sem grandes impactos para o Brasil, comentou Mesnik. Entretanto, incertezas amenizariam qualquer manifestação de ânimo dos mercados. Isso porque uma aceitação abriria as portas para negociação, mas tem que lembrar que a proposta em si é nula, sem efeito, portanto, seria a volta para o planejamento. 

“Não esperaríamos uma mudança de postura das autoridades gregas, mas ainda não sabemos como eles reagiriam, dado as últimas declarações. Os desdobramentos são imprevisíveis. O desfecho mais provável seria uma renúncia de Yanis Varoufakis“, comentou Neto. 

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Ainda assim, um cenário como esse poderia ter um impacto imediato no câmbio, levando a uma queda do dólar no Brasil. Neste caso, o diretor de câmbio da Wagner Investimentos, José Faria Júnior, comenta: “se isso ocorrer, nós iremos novamente recomendar a compra do dólar”.