Ibovespa deve viver dias de tensão entre Lava Jato, Grécia e Congresso

Expectativas sobre a Grécia devem tirar Fed do foco do mercado na próxima semana

Paula Barra

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SÃO PAULO – Um noticiário movimentado promete não dar trégua para o Ibovespa na semana que vem, que opera desde o início do mês praticamente lateralizado. As máximas e mínimas marcadas na última semana de maio ainda não foram ultrapassadas pelo índice que entrará agora na sua última semana de junho. Dias de calmaria, no entanto, prometem ter fim em uma agenda replete de indicadores econômicos, referências políticas, negociações externas e, por fim, o desenrolar da Operação Lava Jato, que já deixou marcas no pregão desta sexta-feira (19). 

Começando pela parte internacional, a Grécia será o grande foco da próxima semana, ofuscando, ao menos por um tempo, o assunto sobre a probabilidade de alta de juros dos Estados Unidos ainda esse ano. O presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, convocou uma reunião de emergência dos líderes da zona do euro para a próxima segunda-feira (22 de junho) para discutir a situação da Grécia. Embora um eventual “default” do governo grego esteja no cenário do mercado, uma saída do país da zona do euro não está contemplada nos preços dos ativos e poderia aumentar a aversão ao risco.

A Alemanha disse que nenhum acordo poderá ser selado sem concordância dos credores. A Rússia comunicou que está disposta a emprestar dinheiro para a Grécia se for solicitado, algo que ainda não ocorreu. A situação caminha para um desfecho, que deverá ocorrer no final do mês. Dia 30 de junho é a data limite do pagamento da Grécia ao FMI (Fundo Monetário Internacional) e data final do acordo atual. “A questão sobre a Grécia estressou os mercados essa semana e seguirá em pauta na semana que vem, desocupando um pouco os mercados com o assunto sobre o Federal Reserve”, disse o analista Ricardo Kim, da XP Investimentos.

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Já no cenário interno, o mercado vai digerir os desdobramentos da Operação Lava Jato, que também prometem trazer bastante pressão à Bolsa, comentou. Hoje, as ações da Petrobras (PETR3, R$ 14,51, -1,95%;PETR4, R$ 13,17, -2,0%) e bancos Bradesco (BBDC3, R$ 27,30, -1,72%; BBDC4, R$ 28,20, -1,94%) e Itaú Unibanco (ITUB4, R$ 34,39, -1,12%) caíram forte, com o maior impacto sentido pelos papéis da Braskem (BRKM5, R$ 12,40, -10,40%), em meio à notícia da prisão dos presidentes da Odebrechet e Andrade Gutierrez. “Um assunto que abala o mercado como um todo, já que traz preocupações sobre as instituições brasileiras e os investimentos em infraestrutura do País, já que estamos falando das maiores empreiteiras do Brasil”, comentou Kim. 

Saiba mais em: Por que as prisões da Lava Jato são ruins para a Bovespa?

Além disso, o mercado vai ficar atento às votações no Congresso. Em meio à tumultuada visita dos senadores brasileiros à Venezuela, a votação sobre o projeto de lei que reduz as desonerações da folha de pagamento foi adiado para a próxima quarta-feira. Essa é a última proposta do governo do ajuste fiscal. O projeto aumenta de 1% ou 2% para 2,5% e 4,5% as alíquotas incidentes sobre a receita bruta das empresas de 56 setores da economia que deixaram de contribuir com 20% da folha de pagamentos para o INSS. 

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Ainda no noticiário político, o Senado pretende alterar a fórmula apresentada por Dilma Rousseff para a previdência. A Câmara diz que poderá derrubar o veto porque o novo percentual somente entrará em vigor daqui a dois anos. Tensões no Congresso que podem ajudar a trazer volatilidade ao mercado. 

Aliado a isso, dados ruins da economia divulgados hoje trazer mais apreensão sobre o Brasil. O dia iniciou hoje com a inflação acima do esperado, crescimento da economia abaixo do previsto (foi divulgado o IBC-Br, considerado a prévia do PIB) e a pior criação de vagas de trabalho em um mês desde 1992.

“Com crescimento abaixo do previsto e com o ajuste fiscal incompleto, o ministro Joaquim Levy terá que alterar a meta do superávit primário para convencer as agências de rating de manterem o país com grau de investimento”, comentou o economista da Wagner Investimentos, José Faria Júnior, lembrando que a Moody’s vem visitar o País em julho e deverá tirar uma nota. “Essa deterioração macroeconômica deve continuar no radar”, destacou Kim. 

E os indicadores econômicos?

Sobre os indicadores econômicos, o Bradesco destaca o relatório de inflação no Brasil sobre o segundo trimestre, que será divulgado na próxima quarta-feira (24). Diante da surpresa com a inflação nas últimas divulgações do IPCA e da sinalização de continuidade do processo de aperto monetário, importante o mercado ficar de olho nas projeções atualizadas do Banco Central.

O BC divulgará também as notas à imprensa de maio do setor externo, na segunda-feira, e de política monetária e de operações de crédito na terça-feira. Economistas do Bradesco esperam déficit de US$ 4,7 bilhões e investimentos diretos no País de US$ 4,3 bilhões. 

Além disso, na quinta-feira será revelada a pesquisa mensal de emprego do IBGE, que deverá apontar elevação da taxa de desemprego para 6,7% em maio. 

Na agenda externa, destaque para as leituras preliminares de índices PMIs da indústria de transformação de junho na China e Estados Unidos, na segunda e terça-feira, respectivamente. O índice composto do Euro de junho também será conhecido na terça-feira.

Nos EUA ainda serão conhecidos os índices de atividade do Fed Richmond de junho, na terça-feira, nova leitura do PIB do primeiro trimestre, na quarta, e o índice de confiança da Universidade de Michigan de junho, na sexta. Na Área do Euro, será divulgada ainda a confiança do consumidor de junho na segunda, e a pesquisa de sentimento econômico IFO, na quarta-feira.