Trio da Ambev pode comprar a Diageo? Analistas estão céticos – mas apontam uma saída

A possível compra da companhia de destilados Diageo pelo 3G Capital é avaliada em US$ 73 bilhões, o que gera ceticismo sobre a operação - comprar só a Guiness seria uma saída, mas que também tem outras dificuldades

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Na volta do feriado, na última sexta-feira (5), uma notícia movimentou o mercado. Segundo informações da coluna Radar Online, da Veja, o trio de brasileiros da Ambev (ABEV3), Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira, estaria em estágio inicial de estudo para comprar a Diageo. Com isso, as ações da empresa britânica, maior fabricante de bebidas destiladas do mundo, subiu 8% em Nova York (os ADS) e seguiram a alta em Londres, com ganhos de 9%.

Porém, se os mercados se animaram com essa notícia, as dúvidas dos analistas são grandes sobre se a 3G Capital realmente comprará a empresa dona de marcas como Johnnie Walker, Smirnoff, Guinness, Ciroc e José Cuervo.

Conforme destaca o analista Martin Deboo, da Jefferies, é preciso ver com uma certa dose de cautela esta notícia. Isso porque, para realizar uma leveraged-buyout (transação onde se adquire o controle acionário de empresa e uma parcela significativa do pagamento é financiada através de dívida), a 3G teria que levantar 48 bilhões de euros, ou US$ 73 bilhões, mais do que o dobro da maior operação já realizada deste tipo, em 2007, de US$ 32 bilhões. 

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Além disso, o estilo da 3G Capital tem sido a de manter uma pequena participação direta nas empresas que investe e olhar para a Berkshire Hathaway, que irá fazer o “trabalho pesado”. A 3G investiu diretamente apenas US$ 3 bilhões no Burger King, US$ 4 bilhões na Heinz e US$ 5 bilhões na fusão Heinz/Kraft. E a Diageo tem um caminho muito longo a seguir, mesmo que Warren Buffett esteja envolvido.

O que pode ser mais provável é que a 3G esteja contemplando apoiar um movimento para adquirir a Diageo pela AB Inbev, a maior cervejaria do mundo, mas que resultaria em uma alavancagem muito alta para a empresa. O fundo brasileiro tem cerca de 20% de participação na companhia.

Porém, a fusão entre as companhias de cerveja e de destilados também tem complicações por conta do modelo diferente de negócios das duas companhias, conforme destacam os analistas da Bernstein. “O modelo de produção, desafios logísticos e canais de distribuição são completamente diferentes em mercados maduros, assim como estilo de vendas, marketing e construção de marca”, afirmam os analistas.

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Confiança está baixa…
Por outro lado, o Credit Suisse elevou a recomendação para as ações da Diageo de underperform (desempenho abaixo da média do mercado) para neutro logo após a notícia, destacando que as ações já terem ficado abaixo do preço-alvo pelos analistas e um aumento das especulações impactando o preço da ação os fizeram mudar as perspectivas para a empresa.

“A Diageo está muito exposta, a confiança na gestão é baixa e, em nossa opinião, qualquer proposta seria bem recebida pelos investidores”, afirma a equipe de análise. 

Os analistas de Ambev do Credit Suisse destacam que, para esta operação ter sentido, e de forma a diminuir a alavancagem e gerar valores para o financiamento desta transação, a Diageo poderia vender seu negócio de cerveja (o que inclui a marca de cerveja Guinness), com a ABI como um candidato óbvio para adquirir esta negócios. A Guiness é a 7º maior marca de cerveja do mundo e complementaria a estratégia premium da Ambev. “No entanto, a Guinness tem um espaço bastante limitado na América Latina e, por isso, traduziria em uma pequena contribuição marginal para a Ambev”, afirmam.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.