Inadimplência e CSLL: acabou o céu de brigadeiro dos bancos? Diretor da Fitch responde

Apesar de avaliar ambiente operacional dos bancos como muito desafiador, Rafael Guedes ressaltou a força das instituições financeiras brasileiras, sobretudo as privadas

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – Os ventos hoje sopram mais contrariamente aos bancos do que alguns anos atrás. Essa é a percepção do diretor-executivo da Fitch Ratings no Brasil, Rafael Guedes, para o sistema financeiro brasileiro em reflexo de um cenário macroeconômico mais adverso, além de expectativas de aumento do custo do crédito para as instituições. As declarações foram dadas na manhã desta quarta-feira (27), em evento organizado pela Americas Society/Council of Americas em parceria com a Amcham Brasil (Câmara Americana de Comércio), em São Paulo.

“O crescimento do crédito vai ser certamente mais baixo neste ano. Estamos falando de 8%, que é inflação. Esperamos crescimento real do crédito real de zero. Quanto à inadimplência, estamos mais pessimistas que o mercado. Vemos um aumento de 30% no custo de crédito para os bancos em relação aos anos anteriores”, afirmou Guedes em entrevista a jornalistas. Para ele, há uma perspectiva negativa para o setor bancário brasileiro, já sinalizada pela Fitch em 2013 e reiterada no ano passado, apesar dos ratings dos bancos brasileiros estarem estáveis nos apontamentos da agência de classificação de riscos.

“O ambiente operacional dos bancos é muito desafiador e negativo. Não que isso vá levar a problemas específicos“, observou o diretor da Fitch Ratings no Brasil. Para evitar alardes exacerbados, no entanto, Guedes ressaltou a força das instituições financeiras brasileiras, sobretudo as privadas. Segundo ele, o setor é uma das forças, um gatilho positivo para a segurança da avaliação sobre o crédito brasileiro.

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Questionado sobre a recente elevação de 15% para 20% na CSLL Contribuição Social sobre o Lucro Líquido, imposto que incide sobre os resultados financeiros dos bancos, o diretor da Fitch – que já também já atuou na UBS em Zurique – afirmou que se trata de mais um fator que luta contra o sistema financeiro neste momento.

“É mais um vento contrário para os bancos, mas eles são extremamente eficientes, bastante lucrativos. Pegando Bradesco e Itaú, eles têm histórico de retorno sobre o patrimônio acima de 20%. Essa é uma característica do sistema bancário brasileiro: ter bancos fortes extremamente lucrativos, em um sistema relativamente simples, desenvolvido, altamente tecnológico e com grandes retornos”, elogiou Guedes.

Percepção sobre o Brasil
No cenário macroeconômico brasileiro, o especialista defende que os problemas estruturais do País precisam ser resolvidos com reformas que ainda não estão sendo apresentadas. Desde o começo do ano, a agência de classificação de risco alterou suas perspectivas para negativas. A mudança de humor da Fitch está ancorada em um cenário de baixo crescimento por razões estruturais, problemas fiscais com déficit significativo e piora da qualidade das contas externas, e uma crise política gerada pela fragmentação do Congresso, apuração de escândalos de corrupção e baixa popularidade da presidente Dilma Rousseff. 
Isso tudo, conforme observou, deságua na baixa confiança de investidores, empresários e consumidores – indicador sensível da saúde de uma economia e seu andamento.

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Com base na tese de que dificilmente o Brasil será agraciado por mais um momento tão favorável à venda de commodities nos próximos anos, Guedes destacou as matérias-primas do agronegócio como as mais promissoras em oposição às industriais. Quando questionado sobre qual commodity teria demanda maior que oferta no futuro próximo, uma surpreendente resposta arrancou aplausos do público: “Ética”.

Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.