7% de queda em 4 dias: afinal, por que as ações de Itaú, Bradesco e BB não param de cair?

Ações dos bancos registram expressivas quedas nesta semana, com dificuldades em fazer ajuste fiscal aumentando rumores sobre alternativas para manter meta de superávit

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Tido como um dos setores mais resilientes ao cenário econômico ruim e registrando lucros recordes no primeiro trimestre de 2015, os bancos agora passam a sofrer de forma mais contundente à desaceleração da atividade brasileira.

Porém, as maiores quedas registradas nesta semana são atribuídas à busca do ministro da Fazenda Joaquim Levy pelo ajuste fiscal. Em meio aos rumores de novas medidas para atingir o tão “sonhado” 1,2% do superávit primário em relação ao PIB (Produto Interno Bruto) e às complicações que o Congresso vem impondo sobre o assunto, as ações de instituições bancárias vêm sofrendo. 

Os três maiores bancos brasileiros amargamm fortes perdas nesta semana e fecharam na quarta sessão seguida de queda. Na semana, as ações do Itaú Unibanco (ITUB4) registraram queda acumulada de 6,87%, enquanto o Bradesco (BBDC4) viu seus papéis caírem 7,90% e o Banco do Brasil (BBAS3) tem queda de 6,06% desde segunda-feira. 

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E há duas medidas em debate para promover o ajuste fiscal que podem prejudicar os bancos. Em primeiro lugar, está o possível aumento da alíquota da CSLL (Contribuição Social do Lucro Líquido), que já vem sendo cogitado pelo mercado desde o início de abril. Contudo, os rumores voltaram a ganhar força no mercado, ainda mais por conta das dificuldades para cortar gastos no Congresso.

Se antes a expectativa era de um aumento da alíquota da CSLL de 15% para 17%, agora cogita-se uma elevação para 20%. Segundo informações do jornal O Estado de S. Paulo, o aumento da CSLL foi discutido por Levy com deputados de várias bancadas esta semana e o PSD se ofereceu para apresentar o projeto para um aumento para 20%. 

Caso confirmada, uma alíquota de 20% em relação à CSLL seria ainda mais negativa para os bancos. Quando inicialmente discutiu-se a possibilidade de o percentual ficar em 17%, estimamos um efeito redutor entre 3,0% e 3,5% para o lucro líquido dos bancos. Se levarmos em conta uma elevação para 20%, este impacto negativo seria da ordem de 7,5% a 8%. Por ora, mantemos nossa posição favorável em relação aos grandes bancos listados, pelo potencial de geração de retorno em várias frentes, além do próprio crédito, como serviços e seguros. No entanto, entendemos que alterações que impactem a lucratividade tornam-se um limitador na remuneração aos acionistas”, destaca a Concórdia Corretora. 

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Em segundo lugar, o governo também estuda o fim da dedutibilidade dos juros sobre capital próprio do Imposto de Renda, que resultaria num ganho de até R$ 15 bilhões, ressalta a XP Investimentos. Também foi sinalizado pelo ministro Joaquim Levy a taxação da LCA e LCI para que estes títulos deixassem de ter vantagem tributária em relação aos demais instrumentos de renda fixa, rumor este que estava sendo aventado desde o final do ano passado

Em dezembro do ano passado, o rumor de tributação de dividendos e a extinção dos juros sobre capital próprio fizeram a Bolsa afundar. Na época, o então ministro da Fazenda Guido Mantega destacou que não havia enviado uma proposta deste tipo

Impacto do fim do JCP
Segundo relatório do BTG Pactual, com o fim do JCP, incentivo fiscal criado em 1995 com a finalidade de impulsionar o mercado de ações, o Itaú e o Bradesco sofreriam uma retração de 8% no lucro. Já Banco do Brasil (BBAS3) teria o maior impacto do que os bancos privados, de 10%, enquanto a BM&FBovespa (BVMF3) poderia ter seu lucro caindo mais de 10% por alguns anos. Já quem sairia ilesa seria a Cielo (CIEL3), com impacto de quase zero.

A CSLL poderia ser cobrada já neste ano, enquanto as outras mudanças ficariam para 2016.

“Em suma, o setor deve permanecer pressionado até que seja divulgado o tamanho do corte no orçamento, a ser divulgado até o fim da semana”, destaca a XP Investimentos. A expectativa é de que o corte fique entre R$ 70 bilhões e R$ 80 bilhões.

A ordem é ter cautela
Em meio a esse cenário, a XP Investimentos segue recomendando cautela com relação ao setor e mantém a preferência pelo Itaú.

Vale lembrar que, no início da semana, o BTG Pactual divulgou relatório destacando cautela com bancos e que a “aversão ao risco pode ser vista agora em todo lugar”.

Depois da divulgação dos resultados, a percepção é de que as condições pioraram para empréstimos no segmento imobiliário e para os consumidores no segundo trimestre, destacando relatório do Banco Central sobre as atuais condições de crédito no Brasil. 

Segundo aponta o BC, as condições de crédito no primeiro trimestre foram de fato mais fracas do que o esperado anteriormente e as perspectivas para o segundo trimestre de 2015 se deterioraram ainda mais. 

Além da procura de crédito menor, houve menor oferta e menor aprovação de crédito. Em termos de “aprovações” para empresas os dados reais do primeiro trimestre foram mais fracos do que o esperado o que, segundo o BTG, podem ser reflexos da Operação Lava Jato e o fato de que várias empresas entraram com pedido de recuperação judicial. Os analistas do BTG tem recomendação de compra apenas para o Itaú e, dentre o segmento financeiro, coloca Cielo e BB Seguridade (BBSE3) como as top picks no Brasil. 

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.