Gringos travam batalha com locais e ganham em abril: para onde irá o fluxo agora?

Enquanto os "gringos" entraram pesado no Ibovespa, os locais preferiram vender; mas, em abril, foram os estrangeiros que dominaram o rali da Bolsa, com saldo positivo de R$ 7,6 bilhões, o maior em mais de dois anos

Paula Barra

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SÃO PAULO – A Bolsa brasileira foi palco de uma verdadeira batalha entre investidores estrangeiros comprados e locais vendidos em abril. Enquanto os “gringos” entraram pesado no Ibovespa, os locais adotaram postura pessimista. No final, quem acertou em cheio o ponto certo do mercado foram os gringos, que dominaram o rali da Bolsa, fechando o mês com saldo positivo de R$ 7,6 bilhões – o maior em mais de dois anos -, ajudando a levar o principal índice da Bolsa para alta de 9,9%. 

O motivo do fluxo de capital externo foi simples: farra de liquidez pelo mundo, uma taxa de juros reais elevada (uma das maiores do mundo) com risco soberano relativamente baixo e uma visão de que o cenário não era tão ruim como parecia no Brasil. O país não iria explodir, principalmente após a indicação do ministro Joaquim Levy, para a Fazenda, e a Bolsa já tinha caído demais. O ponto extra veio com o câmbio desvalorizado, que deixou as ações brasileiras ainda “baratas” aos olhos do estrangeiro. 

Uma somatória de fatores que resultou no forte injeção de capital estrangeiro na Bolsa. “Os estrangeiros acertaram. Souberam identificar com precisão o momento de extremo pessimismo, algo que os investidores locais não conseguem enxergar, até porque parte desse movimento era justificado pelo movimento global de valorização do dólar”, disse Marcelo Kayath, diretor responsável de Renda Fixa e Variável para America Latina do Credit Suisse, ao Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado.

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Ou seja, eles viram a oportunidade e souberam aproveitar enquanto o mercado estava lá embaixo. Mas esse cenário ficou para trás e agora a Bolsa já voltou aos níveis de outubro do ano passado – próxima do topo do “rali eleitoral”. Enquanto isso, os fundamentos econômicos continuam os mesmo e os lucros das empresas brasileiras não devem melhorar. Nesta semana, a pesquisa Focus, do Banco Central, mostrou que analistas projetam uma queda de 1,18% do PIB (Produto Interno Bruto) em 2015 e de uma expansão de 1% em 2016. 

Um cenário que deixa dúvida se esse fluxo veio para ficar. Na contramão disso, aparecem os locais, que não deixaram, por nenhum momento, de estar pessimistas sobre o Brasil – travando uma batalha de igual para igual com os estrangeiros no acumulado do ano. O saldo de estrangeiros e locais em 2015 está em R$ 17 bilhões para cada lado, porém com os sinais completamente invertidos.   

Em relatório para cliente divulgado hoje, o Credit Suisse aponta que a Bolsa brasileira não está “barata” em termos de múltiplos, sendo negociada com um prêmio de 7% em relação a outros emergentes, enquanto as expectativas sobre os lucros seguem negativas. 

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Os emergentes em geral, não só o Brasil, foram alvos de uma grande corrida de investidores, mas isso não significa que o cenário não seja de cautela para esses mercados, dado que há uma expectativa de que os Estados Unidos elevem os juros em setembro, enquanto o preço das commodities (importante motor da economia desses países) segue com visão bearish (pessimista) no médio prazo. No caso do Brasil, por exemplo, o Credit segue com recomendação underweight (exposição abaixo da média). 

Com tudo isso na conta, fica a grande questão: os estrangeiros seguirão “empurrando” o mercado brasileiro para cima? O Credit lembra que, apesar do saldo expressivo em abril, o fluxo de capital estrangeiro tem sido destaque no segundo trimestre nos últimos quatro anos na Bolsa brasileira – mas que, com exceção da leve alta em 2012, o índice fechou todos os outros anos em queda. Um dos fatores que pode explicar essa sazonalidade em abril é que, historicamente, o estrangeiro se recolhe a partir do final de maio e início de junho. No mais, o que analistas vêm dizendo é que enquanto a ”farra” de liquidez durar (ou seja, enquanto os juros lá fora continuarem baixos), o dinheiro deverá continuar migrando para os emergentes.

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