Passado um abril de euforia, o que o mês de maio reserva para os investidores?

Entrada de investidores estrangeiros foi um dos fatores que ajudaram a puxar a arrancada do Ibovespa no mês passado, mas essa "estadia" pode não durar muito tempo

Paula Barra

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SÃO PAULO – O Ibovespa deixou um primeiro trimestre praticamente no zero a zero para trás e engatou em abril uma arrancada de 10% puxada pela forte entrada de investidores estrageiros no mercado brasileiro, que levou as ações da Petrobras (PETR3; PETR4) e Vale (VALE3; VALE5) para disparada de até 48% no mês. Depois dessa euforia no mercado, maio pode chegar um pouco mais calmo. Visão compartilhada pelo sócio-gestor da Humaitá Investimentos, Frederico Mesnik, e o economista da Garde Asset Management, Daniel Weeks. 

“O próximo mês não deve ser tão bom. O movimento de abril foi muito influenciado pelo mercado externo, com os juros ainda muito baixos e a liquidez abundante. Os pilares internos ainda estão fracos e toda a euforia gerada em cima do Levy deve passar. O mercado já precificou seu discurso”, comentou Weeks. Segundo ele, o mundo lá fora está ficando mais conturbado e a economia brasileira traz preocupação, deixando um desconforto maior para que a entrada de estrangeiros seja tão forte. Os dados fiscais do Brasil, não apenas os que saíram ontem (que decepcionaram), estão ruins, e isto pode acabar tirando um pouco o otimismo que o mercado depositou no ministro da Fazenda, Joaquim Levy, durante o mês de abril. 

Dentre os indicadores divulgados na quinta-feira (30), o setor público mostrou um superávit primário de R$ 239 milhões em março, bem abaixo das estimativas de R$ 5 bilhões. Mesmo com o resultado positivo no mês passado, em 12 meses, as contas públicas ainda acumularam um déficit de R$ 69,249 bilhões, o equivalente a 0,7% do PIB (Produto Interno Bruto).

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Um resultado que deixa cada vez mais distante um ajuste fiscal, impactando diretamente na expectativa do juros, pondera Bruno Gonçalves, analista da WinTrade. Com a economia patinando, o cenário torna-se cada vez mais complicado para a entrega dos 1,2% do PIB do superávit. Isso pode voltar à pauta de que Levy não conseguirá ser o salvador da pátria, aumentando a responsabilidade sobre o Banco Central. 

Os próximos movimentos do BC ainda trazem controvérsias, mas o que parece uma unanimidade é que a autoridade monetária continuará restringindo o crédito e mais um aperto na Selic, ao menos, deve aparecer na próxima reunião. Para Weeks, a ata do Copom que será divulgada na próxima quinta-feira deixará isso mais claro, mas até lá ele trabalha com um cenário-base de mais uma alta de 0,5 ponto percentual, levando o juro para 13,75% ao ano. (Confira outras perspectivas para a Selic, clicando aqui). “Vamos esperar a ata, mas acredito que o BC repetirá o discurso mais duro em relação à inflação”, disse.

O que o mês de maio deve mostrar?

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Com tudo isso na conta, o mês de maio não deve ser de tanta euforia. O aumento dos preços das commodities e as expectativas de que o Federal Reserve (Fed), o BC dos EUA, atrasará o aumento de sua taxa de juros impulsionou o ganho nos ativos. Os investidores estrangeiros também migraram para o Brasil depois que a Petrobras (PETR3; PETR4) reportou seus primeiros resultados auditados desde agosto e que Dilma escolheu o chefe do maior partido de sua base aliada para liderar as negociações com o Congresso. Mas, a qualquer sinal de aumento da percepção ao risco, os investidores poderão ir embora tão rapidamente quanto vieram, disse Bernd Berg, do Société Générale em Londres à Bloomberg. 

As taxas de juros nos EUA eventualmente subirão e o governo do Brasil poderá não conseguir diminuir o orçamento de forma suficientemente rápida para satisfazer as empresas de rating de crédito. A ameaça de um rebaixamento aumentou no mês passado, quando a Fitch Ratings reduziu a perspectiva do rating de crédito do Brasil para negativo, citando os desafios para encher os cofres do governo em meio a uma economia estagnada.

O PIB (Produto Interno Bruto) mais fraco dos Estados Unidos no primeiro trimestre divulgado na última quarta-feira pode até ter trazido um alívio momentâneo nos mercados, mas esse enfraquecimento da economia parece mais ser temporário, argumenta Weeks, levando a crer que não terá como escapar de uma subida de juros ainda esse ano. “Mas tudo vai depender ainda do Payroll, que sairá na próxima sexta-feira (8), que é um numero muito sujeito à volatilidade”, complementa.

Argumentos que vão em linha com o pensamento de Mesnik, de que a arrancada do mercado em abril não teve justificativa. “O mercado subiu muito por conta da Petrobras e Vale, papéis que tiveram movimentos muito exagerados, e a economia brasileira não está boa, além de termos um Levy já bem precificado”, comenta, dando a entender a essa alta não veio para ficar. 

“A economia está fraca, a inflação alta e o Congresso está atrapalhando o fiscal. Não tem muito o que fazer. O mercado deve devolver. O índice subiu muito nesses últimos dois meses”, comenta. 

E para esta semana, no que ficar de olho? 

Além da ata do Copom, que ganha ainda maior relevância com a proximidade do fim do ciclo de alta da Selic, a agenda doméstica da próxima semana está carregada de indicadores econômicos, com destaque para os dados de inflação, em especial o IPCA de março, na sexta-feira. Para o Bradesco, o índice deve exibir forte descompressão, para 0,76%, reagindo à dissipação do reajuste dos preços administrados, principalmente de energia elétrica.

Também serão conhecidos na quinta-feira o IGP-DI de abril, que deve mostrar desaceleração para 0,9%, segundo o Bradesco. No radar ainda, a próxima semana terá a divulgação da balança comercial de abril na segunda-feira.

Do lado externo, o destaque fica com a divulgaçao do Payroll nos Estados Unidos na sexta-feira. Na Europa, serão conhecidos os índices PMI Markit da Indústria de transformação na segunda, e o composto na quarta, em leitura final. Já na Ásia, o destaque fica também com o PMI Markit da indústria de transformação na segunda e o composto na terça. Na sexta-feira, serão divulgados ainda os índices de preços ao consumidor e ao produtor de abril na China.