Os 9 eventos que vão agitar a Bolsa na semana que vem: EUA estão entre eles

No radar ainda está a questão da briga política entre Congresso e Planalto, que continuará dando o "tom" das questões econômicas por aqui

Marina Neves

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SÃO PAULO – Nesta sexta-feira (6) outra semana agitada chegou ao fim na Bolsa. Esteve no radar dos investidores, principalmente, o aumento na taxa básica de juros, que passou a ser de 12,75% ao ano. Além disto, os dados da inflação de fevereiro também foram divulgados nesta semana e vieram acima do que era aguardado pelo mercado, apresentando alta de 1,22% mês passado, e acumulando em 12 meses alta de 7,70%, após 7,14% até janeiro.

Outro fator que ficou no radar dos investidores foi a briga política entre os membros do Congresso e do Planalto, que se acirrou após Renan Calheiros, presidente do Senado, devolver a Medida Provisória sobre a desoneração da folha de pagamento de diversos setores da economia, que havia sido anunciada pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, para restabelecer a economia brasileira.

Já na agenda macroeconômica desta semana, o mercado viu o Banco Central Europeu estipular uma data oficial para o início do programa de estímulos baseado na compra de ativos dos 19 países da zona do euro. Será na semana que vem, no dia 9. Pelo programa, o BCE comprará 60 bilhões de euros mensais em títulos para aumentar a quantidade de dinheiro disponível na economia da região. A medida se assemelha ao chamado “Quantitative Easing” realizado pelos Estados Unidos após a crise econômica de 2008.

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E no que você deve ficar de olho para a semana que vem? Confira abaixo:

1) Ata do Copom
Divulgada na quinta-feira, a ata do Copom (Comitê de Política Monetária) será o principal indicador a ser acompanhado na semana que vem, uma vez que após o aumento da taxa básica de juros, a Selic, nesta quarta-feira de 12,25% para 12,75%, o mercado poderá ter mais informações sobre o motivo do aumento. Na ocasião da divulgação da nova taxa, o Banco Central não deixou nenhum indício do motivo da elevação, como havia fazendo nos últimos aumentos, e isto trouxe uma importância a mais para a ata do comitê – mesmo que o aumento já fosse aguardado -, como explica o economista da FGV (Fundação Getúlio Vargas), Felippe Serigati.

“No final de janeiro estava muito claro que o BC faria só mais um aumento e o mercado esperava a indicação prévia do motivo da nova taxa. O Copom está abrindo espaço para mais aumentos e a indicação disto estará na ata, pois o comunicado de quarta não mostrou nada”, explicou Serigati. “Esta ata é importantíssima”, finalizou.

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Algumas casas de análise já precificam uma taxa básica de juros a 14% esse ano para conter a inflação e a crise de confiança. Adiciona-se a isso, o aumento do risco político, que põe em cheque os ajustes de Levy e coloca ainda mais pressão na política monetária. Vale mencionar que para os investidores que estão posicionados em papéis do setor de construção civil, este é um dado especialmente importante, uma vez que mesmo estas companhias não tendo suas dívidas 100% lastreadas na Selic, os investidores estrangeiros a utilizam como base principal dos juros aqui no Brasil, o que faz com que estes “fujam” dos papéis com as altas das taxas de juros.

2) Discursos do Fed
Já na segunda-feira o investidor acompanhará discursos de alguns presidentes regionais do Federal Reserve (Banco Central dos EUA), como os de Richard W. Fisher, presidente do Fed de Dallas, no Texas. Mesmo que o impacto nos mercados não seja o mesmo como no caso dos discursos de Janet Yellen, eles servem para dar indicações sobre quando ocorrerá um aumento na taxa de juros por lá. Os dados mais fortes do mercado de trabalho por lá podem resultar em um aumento na taxa de juros já no primeiro semestre, uma vez que demonstram a recuperação econômica norte-americana, como explica o economista. 

Nesta sexta, o presidente do Fed de Richmond, na Virgínia, já indicou que quer que o banco anuncie os aumentos na taxa de juros em junho. “Tendo em conta o relatório de emprego, junho me parece um dos principais candidatos para a decolagem”, disse Jeffrey Lacker em entrevista no Wharton Business Radio. O presidente regional ainda disse que quer que o Fed pare de trabalhar de forma “paciente” a partir das reuniões dos dias 17 e 18 deste mês, para que junho já se torne uma real opção.

Os dados do mercado de trabalho nos EUA foram divulgados nesta sexta, demonstrando que em fevereiro foram criados 295 mil empregos, acima dos 235 mil esperados e também acima das 239 mil vagas de janeiro, sendo que a média móvel de 3 meses agora está em 288 mil. A taxa de desemprego recuou para 5,5%, de 5,7% em janeiro, e abaixo dos esperados 5,6%.

3) Produção industrial chinesa
Os dados vindos da China são sempre importantes “termômetros” para o mercado saber como anda o crescimento do gigante asiático, mas na semana que vem este tem um peso “extra” aos investidores, uma vez que nesta semana a China cortou sua projeção para o PIB (Produto Interno Bruto) em 2015 de expansão de 7,5% para 7%, o menor nível em 11 anos. Os números de crescimento da China estão desacelerando mais rápido do que o mercado esperava, e esta desaceleração pode – ou não – ser confirmada pelos dados da produção industrial chinesa, que contarão ainda com o período de recesso por lá com o Ano Novo chinês, como explica Serigati. 

Uma desaceleração na produção industrial chinesa poderá trazer para o mercado incertezas sobre o que o governo de lá fará para conter a degradação dos números, como explica o economista da FGV. O mercado passa a especular, mesmo que seja apenas rumor, de que o próprio governo fará uma compra de ativos. Em janeiro ninguém cogitava isso. Em resumo, com uma desaceleração mais intensa, o mercado espera o que o governo chinês vai fazer”, finaliza. Uma compra de ativos é o mesmo que está acontecendo na Europa e que já foi encerrado nos EUA – o chamado Quantitative Easing, ou QE, que é um programa que visa reaquecer a economia.

A desaceleração econômica na China traz impactos fortes nos ativos da Vale (VALE3; VALE5), e por isso os dados de produção industrial costumam ser acompanhados com uma lupa pelos investidores. O gigante asiático é o principal destino do minério de ferro produzido pela blue chip, e a desaceleração leva a uma queda nas compras vindas de lá, o que traz pressão para a mineradora na Bovespa.

4) Estoques de petróleo
Outra questão importante, mas que não deve trazer nenhuma novidade ou surpresas, é o estoque de petróleo, que mostra como está a relação de oferta e demanda da commodity, que vê seus preços caírem forte nos mercados externos em meio à crise de muita produção e pouca oferta. A briga entre os países participantes da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) influencia bastante nestes dados, como explica Serigati. Os países da Opep têm discutido bastante a redução da produção por parte da Arábia Saudita, um dos gigantes da organização; no entanto, o país se recusa a produzir menos o que estende o impasse entre os participantes, pressionando ainda mais os preços. “Não será uma surpresa se o número demonstrar um aumento”, finaliza.

5) Varejo dos EUA
A economia norte-americana tem demonstrado forte recuperação, com dados como os de mercado de trabalho por lá comprovando o que o mercado tem visto. Com a economia por lá reaquecida, o que o mercado acompanha agora são os dados de varejo, que demonstrarão se mesmo com a recuperação econômica os consumidores estão se sentindo mais seguros para comprarem mais, ou não, disse Serigati. 

6) Mercado de trabalho brasileiro – FGV
Os indicadores do mercado de trabalho compilados pela FGV devem trazer uma desaceleração, no mesmo sentido que os dados do IBGE já tem mostrado, explica o economista. “O número de pessoas desocupadas está aumentando, e o rendimento médio de trabalho está desacelerando”, complementa. Os dados de mercado de trabalho são importantes para que os investidores saibam como está a economia e como está a confiança dos empregadores quanto ao cenário atual.

7) Varejo do Brasil
Os dados do varejo brasileiro, assim como os de mercado de trabalho, devem demonstrar desaceleração. No entanto, ao observar outros setores como a indústria e o mercado agropecuário, os dados do varejo ainda são os que demonstram uma desaceleração bem mais amena, como explica o economista da FGV. “É um dado importante pois poderemos ver se o varejo continuará desacelerando mais devagar, ou se vai despencar como temos visto em outros setores brasileiros”, complementa.

8) Briga política
Mesmo que fora da agenda macroeconômica, a briga política que temos visto aqui no Brasil entre o Congresso e o Planalto ainda seguirá como um fator bastante importante na semana que vem, após Renan Calheiros, presidente do Senado ter devolvido a Medida Provisória 669 sobre a desoneração da folha de pagamento para vários setores da economia, que havia sido anunciada na sexta-feira passada pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy. A MP 669/15 havia sido anunciada como mais uma medida do governo para reduzir gastos com mão-de-obra e estimular a economia. 

Políticos do mesmo partido de Renan alegaram que o “não” veio pelo descontentamento do presidente com o fato de ter conseguido menos espaço no governo e pelas – até então – possibilidades do nome do presidente aparecer nas investigações da Operação Lava Jato, que investiga os casos de corrupção e irregularidades na Petrobras. 

A presidente Dilma Rousseff, logo após o ocorrido, assinou um projeto de lei urgente para a desoneração, uma vez que Renan a vetou como medida provisória. Esta briga entre os poderes tem agravado cada vez mais a questão econômica aqui no Brasil, já que os projetos que tentam ser realizados pelo ministro da Fazenda para restabelecer a economia estão sendo vetados, o que influencia cada vez mais nos dados negativos que temos vistos por aqui. 

9) Petrobras
Após ter seu rating cortado pela agência de risco Moody’s, a Petrobras (PETR3; PETR4) continua vivendo período de “temor” no mercado, sem saber quais serão as próximas decisões das outras companhias de risco como S&P e Fitch. Semana passada, analistas do BTG Pactual escreveram em relatório que a perda do grau de investimento por mais uma agência prejudicaria a capacidade de a Petrobras refinanciar grandes montantes de dívidas, levando à necessidade de uma grande capitalização. Segundo o UBS, o corte do rating significa mais de 200 pontos base no custo de financiamento da empresa com novas dívidas.

Nesta quinta-feira a estatal ainda informou ao mercado que o juiz da causa movida contra a estatal em Nova York nomeou Universities Superannuation Scheme como autor líder da ação conjunta. Ainda de acordo com comunicado da petrolífera. Ontem ainda, o advogado-geral da União, Luís Inácio Adams disse que a Petrobras deverá ser responsável por definir o valor do ressarcimento a ser pago à estatal por empresas investigadas na operação Lava Jato e que teriam causado prejuízos à petroleira devido a sobrepreços em contratos.