Ibovespa fecha em queda com tensão política e juros; dólar supera R$ 3

Queda do índice foi atenuada por ambiente positivo do exterior após o anúncio do início do programa de estímulos na Europa

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – O Ibovespa fechou em queda nesta quinta-feira (5) diante de um quadro político incerto, que é parcialmente atenuado pelo otimismo nas bolsas internacionais. Tanto índices europeus como norte-americanos subiram em meio a anúncio do início do programa de estímulos na Europa. Decisão do Copom (Comitê de Política Monetária) de elevar os juros em 50 pontos-base para 12,75% ao ano também permanece no radar. 

O Ibovespa fechou em baixa de 0,20%, a 50.365 pontos, com o volume negociado na Bovespa atingindo R$ 5,109 bilhões. Enquanto isso, o dólar comercial novamente subiu forte, fechando com ganhos de 1,03%, a R$ 3,0100 na compra e R$ 3,0115 na venda. A pressão do cenário político incerto – que aumenta a tensão sobre os ajustes fiscais -, acabou anulando qualquer benefício sobre a alta de juros.

Ao mesmo tempo, as bolsas internacionais subiram após fala do presidente do BCE (Banco Central Europeu), Mário Draghi, de que o programa de compra de ativos de países da zona do euro avaliado em 60 bilhões de euros por mês começará na semana que vem. Draghi também elevou a previsão do PIB (Produto Interno Bruto) da região, para 1,5% em 2015; 1,9% em 2016 e 2,1% em 2017. 

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O cenário político conturbado também continua no radar dos investidores. Na quarta-feira o presidente do Senado, Renan Calheiros, devolveu a Medida Provisória 669, das desonerações, impondo mais dificuldades ao ajuste fiscal proposto pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy.

Para o analista da Guide Investimentos, Luís Gustavo Pereira, o mercado segue incerto, com uma tendência lateral muito forte. Para ele, o quadro político continua pesando no campo negativo apesar do cenário externo se manter como vetor de alta na sessão. A projeção menor de crescimento da China, segundo ele, é algo que já era esperado pelo mercado e que representa uma expansão nominal ainda bastante robusta. 

Do lado do BCE, a reunião mostrou que a autoridade monetária está contente com o impacto que o QE terá junto ao mercado, avalia Ignácio Crespo, economista da Guide Investimentos. Mais que isso, as previsões de crescimento da economia trouxeram otimismo aos investidores.

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Conforme os detalhes do plano de Draghi foram sendo revelados durante a entrevista coletiva, o prêmio que os Treasuries dos Estados Unidos oferecem sobre os títulos da dívida alemã chegaram aos maiores níveis em 25 anos. Crespo lembra que os bonds alemães já caíram 20% no ano, seguindo a tendência da maior parte dos títulos do continente. Enquanto a Europa inicia um programa de relaxamento monetário para aumentar a disponibilidade de moeda para as famílias, os EUA se encontram perto de fazer o inverso. O Federal Reserve está debatendo um aumento nas taxas de juros pela primeira vez desde 2006. 

Ações em destaque
Nos destaques do noticiário corporativo, a Petrobras (PETR3PETR4) segue no holofote do mercado. Segundo à Bloomberg, a estatal deve ter aval da União para captação de até US$ 19 bilhões, o que equivale a R$ 60 bilhões que o mercado calcula que precise para preservar seu caixa. De acordo com uma matéria do Valor, o caixa da petroleira teria caído US$ 20 bilhões em fevereiro. As ações da empresa subiam 1%.

Outro grande destaque desta sessão ficou com a Embraer (EMBR3), que viu seus papéis afundarem na Bolsa em meio à decepção do mercado com os resultados da companhia. Em teleconferência, a empresa ainda disse que ainda está tentando receber pagamentos atrasados do governo brasileiro que contribuíram para o fluxo de caixa negativo de 2014.

Já a Cosan (CSAN3) acabou fechando em queda, mesmo se beneficiando da notícia de que o governo aumentou a quantidade de etanol que pode ser misturada à gasolina de 25% para 27%. Segundo o BTG Pactual, conjugado o aumento com as medidas do governo que encareceram a gasolina como a elevação dos preços em novembro e a volta do imposto Cide, o setor sai beneficiado. A medida ainda criará uma demanda entre 800 milhões e 900 milhões para o etanol, o que equivale a 4% do mercado do setor. 

As ações da Vale (VALE3; VALE5) caíram mais de 4% depois da previsão de crescimento da China para 2015 ficar em 7%, a menor em 11 anos.

Estados Unidos
O número de norte-americanos que entraram com novos pedidos de auxílio-desemprego subiu inesperadamente na semana passada e a produtividade fora do setor agrícola recuou mais do que o esperado no quarto trimestre.

Os pedidos iniciais de auxílio-desemprego aumentaram em 7 mil, para 320 mil, segundo dados sazonalmente ajustados na semana que terminou em 28 de fevereiro, informou o Departamento de Trabalho nesta quinta-feira. Economistas consultados pela Reuters esperavam que o número recuasse a 295 mil na semana passada.

Em um relatório separado, o órgão informou que a produtividade caiu a um ritmo de 2,2 por cento no quarto trimestre, em vez do ritmo de 1,8 por cento divulgado no mês passado.

Ásia
As ações asiáticas recuaram nesta quinta-feira (5) seguindo o movimento de baixa de Wall Street na sessão anterior e repercutindo a previsão de crescimento mais baixa para a China este ano. A maior economia da região colocou como objetivo para seu PIB (Produto Interno Bruto) em 2015 uma expansão de 7%, o menor alvo de crescimento para o país em 11 anos e significativamente menor que a de 7,5% estabelecida para o ano passado. 

A Bolsa de Xangai recuou 0,96%, a 3.248 pontos.

Ainda assim, o otimismo gerado pelo abrangente afrouxamento monetário sustentou outros mercados acionários da região. O índice japonês Nikkei fechou com alta de 0,3 por cento e o índice da Kospi da Coreia do Sul encerrou a sessão estável.

“Estrangeiros estão continuando suas compras apoiados pela maior liquidez global após medidas de estímulo do BCE”, disse o economista da Daishin Securities Lee Kyung-min.

Europa
No velho continente, as bolsas apresentavam alta depois do presidente do BCE (Banco Central Europeu), Mário Draghi, anunciar que o programa de compra de ativos dos países da zona do euro aos moldes do “Quantitative Easing” será iniciado na semana que vem.  

Ainda na Europa, o Banco Central da Inglaterra decidiu manter as taxas de juros em 0,5% e o programa de compra de ativos em 375 bilhões de libras (US$ 572,4 bilhões) após reunião de política monetária nesta quinta-feira, conforme previsto por analistas.

Ao mesmo tempo, os preços do barril do petróleo subiam, trazendo alta às ações do setor energético na região.

(Com Reuters)

Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.