Dólar impulsiona exportadoras e juros afunda imobiliárias; BB “se descola” e cai 5%

Os papéis das exportadoras dispararam nesta sessão em meio à arrancada do dólar, que chegou a atingir hoje os R$ 3,00

Paula Barra

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SÃO PAULO – A Bolsa viu investidores “fugindo” hoje em meio às tensões políticas em Brasília; com isso o Ibovespa fechou com queda de 1,63%, a 50.468 pontos. Entre os destaques estiveram os papéis da Petrobras, que sofreram com as notícias sobre a “lista de Janot”, que contém os nomes de 54 envolvidos com os casos de corrupção da estatal. A blue chip Vale também chamou atenção ao ver seus papéis fecharem no negativo em meio ao “mau humor” do mercado. 

Quem ficou nos holofotes dos investidores também foram as ações das exportadoras Fibria, Suzano e Embraer, que dispararam em meio à alta do dólar com estimativas de que cada vez mais seja necessário um ciclo mais agressivo de alta da Selic (taxa básica de juros). A Gerdau também aproveitou o movimento e liderou os ganhos nesta quarta. A siderúrgica tem 60% das suas receitas atreladas à moeda americana.

Na ponta negativa, no entanto, ainda estiveram os papéis das companhias produtoras de caminhão e ônibus, Randon e Marcopolo, respectivamente, que sofreram na Bolsa em meio às revisões de perspectivas da Fenabrave para a venda de veículos para 2015, que passou de queda de 0,58% para retração de 10%.

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Confira abaixo o que é destaque nesta quarta-feira:

Petrobras (PETR3, R$ 9,15, -3,79%; PETR4, R$ 9,21, -4,06%)
As ações da Petrobras fecharam com forte queda na bolsa em meio ao cenário de aversão ao risco, enquanto pipocam no mercado notícias sobre a “lista de Janot”, que tem 54 nomes de políticos para investigar com suspeitas de envolvimento no esquema de corrupção que assola a estatal. Alguns veículos citam que os presidentes da Câmara, Eduardo Cunha, e do Senado, Renan Calheiros, estariam entre eles.

A Petrobras tem ainda outro fator de peso: hoje, o juiz da Corte de Nova York, Jed Rakoff, deve escolher o investidor líder da ação coletiva contra a Petrobras. Um dos investidores interessados em ser o líder é a gestora de recursos Skagen, da Noruega, e o Danske Bank, da Dinamarca, que juntos têm perdas que podem chegar a US$ 267 milhões, por conta de aplicações em bônus externos da Petrobras entre 2010 e 2014. Foi o maior prejuízo que apareceu nas petições entregues na Corte. 

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Imobiliárias
As ações das imobiliárias desabaram em dia de desfecho da reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), que deve trazer uma elevação de 0,5 ponto percentual na Selic, para 12,75% ao ano. Diante da disparada do dólar, economistas já apontam cenário de juro chegando a 14% em 2015. Entre as maiores perdas do Ibovespa, aparecem as ações da PDG Realty (PDGR3, R$ 0,42, -6,67%) e MRV Engenharia (MRVE3, R$ 6,70, -5,63%). Nesta quarta de Copom os juros futuros (DI) dispararam, o que prejudica fortemente as companhias, que são historicamente endividadas. Mesmo que a dívida não seja lastreada 100% na Selic, os investidores estrangeiros não fazem a diferença e “compram” a ideia de que a taxa influencia no desempenho das companhias, o que deixa a Selic muito próxima das variações das imobiliárias na Bolsa.

Bancos
No mesmo sentido, as ações do setor financeiro também fecharam no negativo hoje em meio às incertezas políticas: Bradesco (BBDC3, R$ 36,28, -0,87%; BBDC4, R$ 36,38, -2,07%) e Itaú Unibanco (ITUB4, R$ 36,28, -0,87%) fecharam com quedas mais amenas, enquanto o Banco do Brasil (BBAS3, R$ 22,44, -5,04%) se descolou do restante do grupo, e despencou na sessão, uma vez que é um banco misto (Estado e privado) e sofre mais com notícias do radar político. 

O mercado é penalizado por questões políticas que trazem dúvidas se o governo conseguirá atingir os ajustes fiscais esperados em meio ao embate entre o PMDB e PT. Para piorar o clima de tensão, o dia coincide com a chegada da agência de classificação de risco Standard & Poor’s ao Brasil justamente para discutir as questões fiscais e como anda o País.

No radar dos bancos ainda, o BB nomeou Tarcísio José de Godoy à presidência do conselho no lugar de Paulo Caffarelli. Além disso, os acionistas do Santander aprovaram Sérgio Rial, ex-Marfrig (MRFG3), como presidente do conselho de administração em assembleia geral ordinária realizada ontem. O nome do executivo foi apresentado ao conselho do banco no final de janeiro, dias após sua saída da Marfrig.

Copasa (CSMG3, R$ 18,25, -10,50%)
A companhia mineira demonstra forte derrocada nesta sessão após a disparada de 45% desde o dia 11 de fevereiro. A companhia fica pressionada no início de março, que é o “mês do racionamento”, uma vez que mesmo com o governador do Estado de São Paulo, Geraldo Alckmin, negando, poderá acontecer de, se o Sistema Cantareira atingir 14% de sua capacidade até o final do mês, seja afastada a possibilidade do rodízio de abastecimento, ou o racionamento de água. A Sabesp (SBSP3, R$ 16,18, -2,47%), que também é pressionada pelo “temor” do mercado neste mês, viu suas ações fecharem no negativo na sessão de hoje.

Randon (RAPT4, R$ 3,58, -5,54%)
A Fenabrave anunciou ontem a revisão para baixo de todas as suas projeções para desempenho das vendas do setor automotivo em 2015. A entidade, que esperava queda de 0,53% na venda de veículos de 2015 ante ano passado, revisou suas estimativas para retração de 10%, previsão bem mais pessimista que a anterior
.

De acordo com a instituição, os emplacamentos de veículos novos deverão somar 2,48 milhões de unidades em 2015. O segmento de caminhões, principal produto da Randon, deverá ter o pior desempenho neste ano. A Fenabrave prevê que as vendas de pesados deverão cair 10,5% em 2015 frente a 2014, ante projeção anterior de -1,2%. De acordo com Ricado Kim, analista da XP Investimentos, a queda na venda de veículos foi o principal motivo para a derrocada dos papéis, que no ano acumulam perdas de 25%. Os papéis da Marcopolo (POMO4, R$ 2,11, -4,09%) também sofrem com os dados da Fenabrave, que para o segmento de ônibus, revisou a previsão de tombo de 0,7% para queda de 8,5%.

Exportadoras
Por outro lado, as ações das exportadoras fecharam no positivo – figurando praticamente isoladas no Ibovespa. Os papéis foram beneficiados pela disparada do dólar. A moeda americana saltou 2,13%, batendo a casa dos R$ 3,00. Entre as maiores altas da Bolsa, os papéis do setor de papel e celulose Fibria (FIBR3, R$ 39,10, +3,49%), Suzano (SUZB5, R$ 12,90, +3,20%) e Klabin (KLBN11, R$ 17,09, +3,01%), além da fabricante de aeronaves Embraer (EMBR3, R$ 25,65, +0,20%) e as ações das siderúrgicas Gerdau (GGBR4, R$ 10,43, +4,51%), CSN (CSNA3, R$ 5,23, 0,00%) e Usiminas (USIM5, R$ 4,44, +3,50%) fecharam no positivo. A Embraer e Suzano divulgam seus balanços após o fechamento do pregão. 

Sobre a Gerdau, há no radar também a divulgação do resultado. A companhia viu seu lucro líquido cair 20,1% no quarto trimestre de 2014 na comparação anual, passando para R$ 393 milhões. A receita líquida ficou em R$ 10,8 bilhões, crescimento de 5,1%. Em teleconferência, o diretor financeiro da siderúrgica, André Pires, comentou que as margens para o aço continuarão pressionadas e a economia deve contrair em 2015, mas como positivo ele ressaltou que a empresa ganha com esse cenário de desvalorização do câmbio, já que 60% de sua receita é ligada ao dólar.

Para a Usiminas, ainda vale mencionar o desempenho dos papéis ordinários (USIM3, R$ 12,22, -12,28%), que já acumulam perdas de 41% desde o dia 12 de fevereiro. Ainda é cedo para sabermos se o movimento se dá por realização das fortes altas vistas desde o final do ano passado nos papéis em meio à briga societária, ou se os investidores estão “acalmando os ânimos” e não aguardam mais por um “tag along” nos papéis, como explica Ricardo Kim.

Vale (VALE3, R$ 20,39, -1,92%; VALE5, R$ 17,66, -2,32%)
As ações da Vale seguiram o mau humor do mercado e fecharam entre as quedas hoje. Acompanharam o movimento os papéis da Bradespar (BRAP4, R$ 12,69, -2,31%), holding que detém participação na mineradora.  

Educacionais
As ações das educacionais fecharam entre altas e baixas nesta sessão: Estácio (ESTC3, R$ 16,98, -1,77%), Kroton (KROT3, R$ 9,80, -2,49%), Anima (ANIM3, R$ 15,33, -6,18%) e Ser Educacional (SEER3, R$ 11,66, +8,06%). A Estácio teve sua recomendação rebaixada para market perform (desempenho em linha com a média) pelo Itaú BBA.

Sobre o setor de educação, uma matéria do Valor aponta que as instituições de ensino superior que têm alunos com Fies (programa de financiamento estudantil) vão receber ao longo dos próximos quatro anos o pagamento de quatro parcelas relativas ao exercício de 2015. De acordo com a publicação, o governo teria discutido a possibilidade de ser feito um anúncio consistente e definitivo sobre as novas regras do programa, mas a ideia não prosperou. 

Ainda sobre o setor, a Justiça Federal de Rondônia concedeu decisão desfavorável a uma instituição de ensino que contestou mudanças no Fies. O juiz Herculano Martins Nacif decidiu que deve ser retirada a “trava” que limita os reajustes de mensalidade de alunos no Fies. A decisão de Rondônia é a primeira favorável depois que diferentes companhias de ensino privado, sindicatos e outras instituições que representaram o setor passaram a contestar o limite de reajuste na Justiça.

Marfrig (MRFG3, R$ 4,45, -4,91%)
Após divulgação do resultado do quarto trimestre, o Bradesco BBI cortou suas estimativas para a Marfrig, levando em considerando uma visão mais cautelosa sobre as operações de carne bovina e impacto da depreciação do real sobre sua dívida. O preço-alvo do banco para os papéis da companhia passou de R$ 6 para R$ 5. A recomendação segue em manutenção. 

CSU Card System (CARD3, R$ 3,31, +10,33%)
As ações da small cap CSU Card System, empresa de prestação de serviços de tecnologia, dispararam hoje em meio às incertezas sobre a medida que reduz o benefício fiscal da desoneração da folha de pagamento, após a devolução pelo presidente do Senado, Renan Calheiros, da MP ontem e a reação de Dilma Rousseff na apresentação de um projeto de lei com o mesmo teor. A medida, que foi anunciada na última sexta-feira, colocou pressão em diversas ações da Bolsa, principalmente na CSU Card System, uma das mais prejudicas. No pregão de sexta e segunda-feira, as ações da companhia desabaram 13,6%. Hoje, elas praticamente alcançam a cotação de abertura de sexta. 

Ontem, a companhia enviou um comunicado ao mercado informando que estimava que a redução da desoneração da folha de pagamentos poderia impactar seu Ebitda (Lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) em 6% a 7,7% em 2015. A estimativa levou em consideração a elevação da alíquota referente à contribuição para a Previdência sobre a receita bruta de 2% para 4,5%, faixa na qual a CSU se enquadra.

ALL (ALLL3, R$ 5,10, -3,77%)
A ALL e Rumo tiveram decisão favorável da Antaq (agência que regula o transporte aquaviário) à mudança do conselho – parte do processo da fusão entre as empresas. 

Multiplus (MPLU3, R$ 35,15, +1,10%)
A companhia informou na terça-feira que no dia 27 de fevereiro assinou contrato de compra da parte da Aimia nas ações da Primash Fidelidade, joint venture formada entre a empresa e a Aimia Newco, sociedade controlada pela Aimia. De acordo com o comunicado, a aquisição foi para fins de “posterior encerramento das atividades atualmente desenvolvidas pela Prismah, as quais, se for o caso, poderão eventualmente vir a ser desenvolvidas diretamente pela companhia”. O comunicado ainda informa que a Multiplus passou a deter o direito de comercializar a plataforma de fidelidade da Aimia. 

BB Seguridade (BBSE3, R$ 31,70, -3,21%)
A companhia informou ontem a renúncia do presidente do conselho de administração da companhia Alexandre Correa Abreu, no dia 10 de fevereiro, Raul Francisco Moreira irá o substituir para o cargo até a próxima assembleia geral de acionistas. Outro nome escolhido foi o de José Maurício Pereira Coelho, que assumirá o cargo  de vice-presidente do conselho de administração da BB Seguridade após a renúncia de Ivan de Sousa Monteiro.