Os 5 eventos que explicam a queda de 6,5% da Bolsa em janeiro

Em dia marcado por primeiro déficit nas contas públicas brasileiras, PIB abaixo do esperado nos Estados Unidos e rebaixamento do rating da Petrobras, índice cai a níveis de março de 2014

Equipe InfoMoney

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SÃO PAULO – O Ibovespa fechou janeiro em queda de 6,20%, em mês marcado por risco de racionamento, primeiro déficit nas contas públicas da história, programa de estímulos na Europa, balanço da Petrobras e anúncio de medidas pelo ministro da Fazenda Joaquim Levy. Tudo isso embalado com a derrocada do setor educacional, que teve o melhor desempenho de 2014 após mudanças no Fies. Depois de passar semanas operando em uma faixa de 47.516 a 50.000, o benchmark rompeu esse suporte e fechou em seu menor nível desde março de 2014. 

Confira os 5 eventos que explicam a derrocada do Ibovespa no primeiro mês do ano:

1. Educacionais
O fim do ano de 2014 foi marcado pelo anúncio do Ministério da Educação de que as regras para a entrada de estudantes no programa de financiamento do Fies. O MEC divulgou que o aluno não poderia mais usar o Fies e o Prouni para fazer cursos em duas instituições diferentes. Com isso, as ações campeãs do setor como Kroton (KROT3) e Estácio (ESTC3) já caem 13% e 30%, respectivamente. 

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2. Apagão
O pessimismo tomou conta da Bolsa quando, em 19 de janeiro, onze estados brasileiros ficaram sem luz. O “apagão” elevou o temor de que o ano seja marcado pelo racionamento de energia, que, de acordo com diversos analistas e economistas, traria um prejuízo significativo no crescimento do PIB este ano, podendo até trazer uma recessão.

3. BCE
A Bolsa brasileira já estava tão abalada com as perspectivas cada vez mais negativas para o desempenho da economia que nem o anúncio de estímulos na Europa pôde trazer uma alta mais forte ao Ibovespa no dia 22. O benchmark fechou em alta de 0,44%, no dia em que o BCE (Banco Central Europeu) oficializou que começará um programa de compra de ativos dos 19 países da zona do euro avaliado em 60 bilhões por mês até, pelo menos, setembro de 2016.

4. Eleição na Grécia
No último domingo (25), o partido de esquerda, Syriza venceu as eleições na Grécia, trazendo aos mercados internacionais o temor de que o país saísse da zona do euro e iniciasse uma reação em cadeia. As tensões continuam no continente com a negociação da dívida entre o primeiro-ministro Alexis Tsipras e a troika (composta por BCE, Comissão Europeia e FMI).

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5. Balanço da Petrobras
Na madrugada do dia 28 de janeiro, a Petrobras divulgou seu balanço não auditado, que não trouxe, como era esperado pelo mercado, as baixas contábeis relativas aos desvios de dinheiro na companhia descobertos pela Operação Lava Jato da Polícia Federal. Com isso, as ações da estatal caíram 20% nos últimos três dias.

Nesta sexta
Hoje, sexta-feira (30), o índice caiu 1,79%, a 46.907 pontos. Entre os principais drivers do dia estiveram o rebaixamento da Petrobras pela agência de rating Moody’s de Baa2 para Baa3 e a divulgação do primeiro déficit primário nas contas públicas do Brasil na série histórica iniciada em 2001. Além disso, crescimento do PIB norte-americano menor do que o esperado, de 2,6%, ante expectativa de 3%, foi vetor de queda nas bolsas internacionais.

O Banco Central anunciou que União, Estados e municípios fecharam 2014 com déficit de R$ 32,5 bilhões, ou 0,63% do PIB. O resultado não inclui receitas e despesas com dívidas. 

Já o PIB (Produto Interno Bruto) dos EUA cresceu 2,6% no quarto trimestre de 2014, ante uma expectativa de que ele aumentasse 3%. Os índices Dow Jones e do S&P 500 fecharam estáveis apesar do dado.

De manhã, ainda houve evento no Bradesco, no qual o ministro da Fazenda, Joaquim Levy destacou a necessidade de fazer ajustes fiscais e reiterou que há apoio da presidente da República para isso: “a presidente Dilma [Rousseff] sabe do ajuste que precisa ser feito”. O ministro da Fazenda ainda falou sobre o câmbio, falando que ele tem efeito no bem estar das pessoas e que a moeda não se controla tanto assim: “não há intenção de manter o câmbio artificialmente valorizado”. 

Depois das falas de Levy, o dólar comercial passou a subir 2,95%, ficando cotado a R$ 2,6886 na compra e a R$ 2,6894 na venda. Já os juros DI para janeiro de 2016 subiam 8 pontos-base, para 12,77% apesar da decisão da Rússia de cortar a sua taxa de juros de 17% para 15%.

Ações em destaque
As ações de Petrobras (PETR3, R$ 8,04, -5,08%PETR4, R$ 8,18, -6,51%) fecharam o pregão em queda, refletindo avaliações pela agência de classificação de risco, Moody’s. A agência cortou seu rating para baa3, após cair 14% em dois dias. 

Outra ação que caiu forte foi a da Sabesp (SBSP3, R$ 13,30, -1,41%), apesar da aprovação do processo de contratação do empreendimento da interligação entre as represas Jaguari (Bacia do Paraíba do Sul) e Atibainha (Bacia do Sistema Cantareira) pelo Conselho de Administração. Segundo a companhia, o objetivo deste projeto é a recuperação e o aumento da segurança hídrica do Sistema Cantareira e, consequente atendimento da demanda por água da Região Metropolitana de São Paulo.

“A interligação permitirá aumentar a disponibilidade hídrica no sistema Cantareira em 5,13 m3/s (média anual)/8,5 m3/s (máxima) do reservatório Jaguari (afluente do Paraíba do Sul) para o reservatório Atibainha (do Sistema Cantareira)”, disse a companhia em comunicado. De acordo com a Sabesp o orçamento estimado é de R$ 830,5 milhões e as obras serão executadas pela empresa, que está em tratativas com o Governo Federal para a obtenção de apoio financeiro.

Além das questões envolvendo a Petrobras, ajudaram a pressionar a Bolsa as ações do setor elétrico, que passam por mais um pregão de forte queda diante do aumento do risco de um racionamento de energia. Entre as maiores quedas do índice, figuravam os papéis da Copel (CPLE6, R$ 16,84, -4,54%).

Na ponta negativa aparecia também a PDG Realty (PDGR3, R$ 0,52, -10,34%), cujas ações desabaram pelo 7° pregão seguido. Os papéis seguem pressionados por dados ruins do quarto trimestre, que mostrou queda de 30% nas vendas de lançamentos em 2014 e elevado endividamento, enquanto o mercado repercute ainda rumores de que a companhia estaria tendo dificuldades nas negociações com credores em relação às dívidas da companhia. A companhia disse ontem, no entanto, que está em negociações avançadas com seus credores para equacionamento das eventuais necessidades de rolagem a partir de março.  

Por outro lado, ações de empresas com perfil exportador subiram forte hoje em meio à grande arrancada do dólar frente ao real, que subiu mais de 2% na sequência da fala do ministro Joaquim Levy de que não há a intenção de manter o câmbio artificialmente valorizado. Nos destaques, subiram as as ações da Embraer (EMBR3, R$ 23,74, +2,77%), Suzano (SUZB5, R$ 10,87, +2,16%), Fibria (FIBR3, R$ 32,30, +3,53%) e BRF (BRFS3, R$ 63,38, +2,35%), que driblam o dia bem negativo no mercado. 

Após chegar a cair quase 2%, as ações da Vale (VALE3; R$ 18,61, +3,10%VALE5, R$ 16,55,+2, +2,22%) viraram para alta nesta tarde. A Moody’s alterou a perspectiva da Vale de positiva para estável e afirmar todos os ratings da companhia. A agência de classificação de risco afirmou que a mudança da perspectiva reflete a visão de que o perfil de crédito e as operações da empresa continuam sólidos, mas incluem uma deterioração nos fundamentos do mercado de minério de ferro e metais básicos.

O mercado também aguarda a divulgação da proposta de remuneração mínima aos acionistas essa semana e repercute o noticiário chinês. Dentre os dados da China, destaque para a receita fiscal, que alcançou 14,035 trilhões de yuans (US$ 2,2 trilhões) em 2014, um crescimento de 8,6% em relação a 2013, informou o governo chinês. Esta é a menor alta da arrecadação do país desde 1991.

As maiores baixas, dentre as ações que compõem o Índice Bovespa, foram:

 Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano
 OIBR4 OI PN 4,99 -10,57 -42,04
 PDGR3 PDG REALT ON 0,52 -10,34 -39,53
 CCRO3 CCR SA ON 15,28 -7,11 -0,84
 SANB11 SANTANDER BR UNT 12,45 -6,95 -6,23
 BVMF3 BMFBOVESPA ON 9,10 -6,76 -7,61

As maiores altas, dentre os papéis que compõem o Índice Bovespa, foram:

 Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano
 FIBR3 FIBRIA ON 32,30 +3,53 -0,65
 VALE3 VALE ON 18,61 +3,10 -15,06
 EMBR3 EMBRAER ON 23,74 +2,77 -2,86
 BRFS3 BRF SA ON 64,38 +2,35 +2,24
 GGBR4 GERDAU PN 9,11 +2,24 -4,91

As ações mais negociadas, dentre as que compõem o índice Bovespa, foram:

 Código Ativo Cot R$ Var % Vol1
 PETR4 PETROBRAS PN 8,18 -6,51 695,09M
 ITUB4 ITAUUNIBANCO PN 32,90 -1,41 581,35M
 BBDC4 BRADESCO PN 33,73 -2,99 354,44M
 KROT3 KROTON ON 12,30 -4,28 342,14M
 CIEL3 CIELO ON 40,00 -0,55 324,58M
 ABEV3 AMBEV S/A ON 17,63 -0,23 318,35M
 BRFS3 BRF SA ON 64,38 +2,35 287,63M
 PETR3 PETROBRAS ON 8,04 -5,08 280,95M
 VALE5 VALE PNA 16,55 +2,22 264,38M
 ITSA4 ITAUSA PN 9,14 -2,04 210,26M

* – Lote de mil ações
1 – Em reais (K – Mil | M – Milhão | B – Bilhão)
 

Cenario externo
Enquanto isso, o dia foi de baixa para as bolsas europeias apesar de uma leve recuperação dos preços do petróleo. Entre os dados econômicos, destaque para a taxa de desemprego que recuou para 11,4%, atingindo seu valor mínimo desde agosto de 2012. Enquanto isso, as vendas no varejo da Alemanha subiram pelo terceiro mês consecutivo. Em dezembro, houve alta de 0,2% em relação a novembro, no cálculo sazonalmente ajustado, informou nesta sexta-feira o escritório de estatísticas do governo. O resultado ficou abaixo da previsão dos analistas consultados pela Dow Jones Newswires, de alta de 0,5%.

Ainda logo pela manhã, a taxa de juros básica da Rússia foi novamente alterada. De modo surpreendente, o banco central do país euroasiático reduziu a taxa de 17% para 15%, depois de uma elevação forte de 10,5% para 17% na última reunião. 

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