Entenda por que o melhor setor da Bolsa em 2014 já caiu mais de 40% em 2015

No fim do ano passado foram anunciadas mudanças no Fies, principal fonte de receita das empresas no setor; o InfoMoney explica como cada empresa é afetada por essas alterações

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – Há pelo menos 2 anos, o setor educacional é o com melhor desempenho na Bolsa, liderando com facilidade as maiores altas, dentro e fora do Ibovespa. Durante as eleições – assim como em seu discurso de posse – a presidente Dilma Rousseff (PT) destacou a educação no País, chamado o Brasil de “pátria educadora”. Isso só serviu para animar ainda mais os analistas com o setor. Mas tinha uma pedra no meio do caminho.

Falar em estimular a educação é simples, o problema é olhar para as contas públicas e ver que, urgentemente, é preciso fazer um corte de gastos. É então que temos o anúncio feito no penúltimo dia de 2014, alterando algumas das regras do Fies, programa de financiamento estudantil do governo e uma das maiores fontes de receita das 4 empresas de educação listadas na Bovespa. Para se ter uma ideia, o Fies responde por 49% das receitas totais da Ser Educacional (SEER3), 44% da Kroton (KROT3), 40% da Estácio (ESTC3) e 38% da Anima (ANIM3).

O medo dos investidores com o setor é tão grande que as perdas destes papéis chegam a 40% apenas este ano. A Kroton vê suas ações acumularem perdas de 19% em 2015, atualmente cotada em R$ 12,59 – em sua mínima do dia, a R$ 11,93, os papéis chegaram ao seu menor valor desde maio de 2014 -, enquanto a Estácio já se desvalorizou 28% nos sete pregões do ano, para R$ 17,10, chegando a bater sua mínima de outubro de 2013. Já a Ser é a mais afetada até agora, com queda de 40% neste período, a R$ 17,98, chegando ao menor valor desde outubro de 2013. Enquanto isso a Anima caiu 35%, cotada a R$ 22,99, batendo seu menor valor desde abril do ano passado no intraday.

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Até agora, dois grandes problemas foram apontados para justificar o pessimismo que o mercado está tendo com essas companhias. O primeiro é que, a partir de agora, as empresas com mais de 20 mil alunos usando empréstimos do programa poderão vender seus créditos do programa em um intervalo mínimo de 45 dias, ante 30 anteriormente. Ou seja, o governo pagará para as instituições apenas 8 mensalidades, em vez das 12 atuais. Por exemplo, em um curso de quarto anos, a faculdade passa agora a receber 16 mensalidades apenas após o aluno beneficiado se formar, e isso em um prazo de dois anos.

Enquanto isso, outra nova regra estipula que os estudantes precisarão tirar no mínimo 450 pontos no Enem para terem acesso ao Fies, e não poderão zerar a prova de redação. Isso pode fazer com que a quantidade de alunos beneficiados pelo programa caia, o que também poderia aumentar a evasão de alunos das faculdades ou mesmo diminuir o número de matrículas. Além disso, os candidatos não poderão mais receber o benefício simultâneo do financiamento com recursos do Fies e de bolsa do Prouni. A exceção vale para bolsa parcial, mas apenas quando ambos os benefícios se destinarem ao mesmo curso e na mesma instituição de educação superior.

Mas qual empresa seria a mais prejudicada?
Com cada empresa tendo seu modelo de negócio diferente, o impacto em cada uma pode não ser o mesmo. Por exemplo, a Kroton, que registrou a maior alta do Ibovespa nos últimos dois anos, é quem mais usa o Fies, mas tem uma vantagem sobre as outras companhias, já que cerca de 30% de sua geração de caixa vem do EAD (Educação à Distância) e de cursos pré-vestibular, e ambos não são atingidos pelo programa de financiamento do governo.

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A outra empresa que faz parte do Ibovespa, a Estácio, já segue o caminho oposto, e sempre tentou não se expor muito ao Fies. De acordo com o blog Veja Mercados, assinado por Geraldo Samor, em uma carta interna a seus colaboradores, o CEO da Estácio, Rogério Melzi, disse que “durante três anos, Virgilio [Gibbon, CFO da empresa] e eu fomos duramente questionados pelo mercado sobre os motivos que nos levaram a ser ‘mais lentos’ na adoção do FIES. Curiosamente, esse mesmo mercado que agora nos ‘pune’ por conta das mudanças no FIES”.

Fora do índice, a mais penalizada até agora é a Ser Educacional, que também é a mais “nova” na Bolsa entre as empresas do setor. O medo envolta da companhia está por seu negócio ser concentrado no Nordeste, onde são registradas as notas mais baixas do Enem. Na região, mais de 50% dos alunos de escolas públicas (que representam mais de 80% dos alunos das instituições de ensino superior listadas na Bolsa) têm notas abaixo de 450, ou seja, não conseguiriam atingir o mínimo para terem direito ao Fies.

Por fim, a Anima seria uma das mais ameaçadas já que recentemente ela adquiriu duas instituições, a Universidade Veiga de Almeida e a Unijorge. Com isso, a empresa zerou seu caixa, conquistado com o IPO, além de aumentar seu endividamento para 2,5 vezes sua geração de caixa. Além disto, Samor destaca em seu blog, que para esta aquisição a Anima fez um empréstimo-ponte que terá que ser refinanciado no mercado de capitais, agora provavelmente a um custo mais alto.

Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.