O que esperar das 10 maiores empresas da Bovespa em 2015?

Encerrando o ano com desempenhos bastante diferentes, empresas como Petrobras e Vale entram em 2015 repleta de dúvidas, enquanto bancos e Cielo estão entre as principais recomendações

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – Mais um ano termina e a Bolsa não entregou o retorno que os investidores queriam. Com queda acumulada de cerca de 4% em 2014, mais uma vez o Ibovespa perdeu para a renda fixa em rentabilidade, em um ano marcado principalmente pelas eleições presidenciais – e todas as consequências que as idas e vindas de candidatos trouxeram ao mercado de ações.

Entre as maiores empresas da Bolsa, 2014 foi bastante contraditório: muitas delas seus menores patamares da década – como é o caso de Petrobras e Vale, enquanto outras foram renovando suas máximas históricas na Bolsa, como os bancos privados e a Cielo. Mas o que esperar de 2015 para os maiores companhias da bolsa brasileira?

Além do maior valor de mercado, as grandes empresas costumam ter a maior base de acionistas, e a perspectiva para o futuro delas ajuda a identificar o sentimento dos investidores para o mercado brasileiro. E como elas têm as maiores participações na composição do Ibovespa, um cenário positivo ou negativo pode refletir em altas ou baixas para o principal índice da BM&FBovespa.

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Confira abaixo o que esperar das 10 maiores empresas da Bolsa em 2015:

1. Ambev (ABEV3, R$ 250,60 bilhões de valor de mercado)
Praticamente sem sair de lugar na Bolsa desde o final de 2012 – de lá pra cá, a ação da Ambev tem oscilado entre R$ 14,50 e R$ 17,80 -, a maior distribuidora de bebidas do Brasil encerra o ano com algumas questões a serem resolvidas e que causaram muitos temores aos investidores nos últimos meses, principalmente com o efeito abaixo do esperado da Copa do Mundo e a decisão sobre os novos impostos sobre bebidas frias.

Para a equipe do JP Morgan, a produtora de bebidas desapontou em seus resultados tanto no 2º quanto no 3º trimestre, levando a projeção para os três últimos meses do ano também para baixo, com a expectativa de queda no Ebitda (sigla em inglês para lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização). “O ano fiscal de 2015 também parece pior na medida em que o real mais fraco aumenta os custos de hedge para o quarto trimestre de 2015″, afirmam os analistas do banco, em relatório feito em 11 de novembro.

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Segundo o JP, a maior participação nos volumes via latas de alumínio é um problema estrutural e difícil de reverter, o que torna o cenário preocupante dado o provável aumento no preço do alumínio de mais de dois dígitos para o próximo ano. Além disso, os problemas de água e de energia no Brasil podem acabar prejudicando a companhia em 2015. Por fim, o banco não enxerga um catalisador de curto prazo que possa elevar o preço das ações do patamar atual.

2. Itaú Unibanco (ITUB4, R$ 181,50 bilhões)
3. Bradesco (BBDC4, R$ 147,78 bilhões)
6. Banco do Brasil (BBAS3, R$ 69,77 bilhões)
9. Itaúsa (ITSA4, R$ 58,95 bilhões)

2014 foi um ano atípico para o setor financeiro na Bolsa, principalmente por conta da volatilidade causada pelas eleições. Mas dentro dos fundamentos dessas empresas, o ano também teve seus destaques, principalmente com a elevação dos “spreads” (diferença entre a taxa cobrada para tomar dinheiro emprestado e para emprestar) em um cenário que não houve o aumento da inadimplência, o que favoreceu para melhores resultados, é o que destaca o analista da Ativa Corretora, Lenon Borges.

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Segundo ele, 2015 não deve ser um ano em que as carteiras de crédito apresentem muita melhora – lembrando que entre janeiro e outubro de 2014 as carteiras caíram de 14,8% para 2,9%. Borges afirma ainda que o próximo ano tenha nova alta dos spreads, mas que dessa vez ela venha acompanhada da volta da inadimplência.

No caso do Itaú, os analistas do Brasil Plural, após participarem de evento do banco, destacaram que a gestão da companhia está confiante de que estão preparados para enfrentar as dificuldades macroeconômicas. Segundo eles, a estratégia do Itaú para os próximos anos está baseada em um tripé, que envolve a concentração em um mix de produtos de menor inadimplência; a ênfase em produtos “asset-light” (como cartões por exemplo); e também um esforço constante para melhorar a eficiência e reduzir os custos. Por conta disso, o Brasil Plural reitera o Itaú como seu preferido no setor.

No caso da Itaúsa, o desempenho das ações é praticamente o mesmo do Itaú, já que a companhia é controladora do banco, que corresponde a maior parte do negócio dela. Dessa forma, o desempenho do Itaú acaba tendo grande impacto em sua holding, da mesma forma que as projeções acabam sendo as mesmas para as duas companhias.

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Enquanto isso, no grupo, é importante destacar que o Banco do Brasil nem sempre segue as mesmas regras, já que diferente dos outros, ele tem participação do governo.

Diante disso, Borges ressalta que o BB pode sofrer mais que o Itaú e o Bradesco, verificando um aumento maior da inadimplência em 2015. Além disso, segundo ele, por ser estatal, o banco tem menor liberdade para se ajustar aos cenários econômicos, não podendo tomar medidas de forma “independente”.

4. Petrobras (PETR3; PETR4, R$ 125,32 bilhões)
Eleições, corrupção, escândalos e processos. Esse foi o conturbado ano de 2014 a Petrobras, que entra em 2015 lotada de problemas. Caminhando para fechar 2014 com perdas de 40%, o próximo ano deverá ser difícil para a companhia independente das políticas macroeconômicas a serem adotadas, mesmo com as boas notícias após a eleição, como o reajuste de 3% para a gasolina e de 5% para o diesel, escreveram os analistas Luiz Carvalho e Filipe Gouveia, do HSBC, em relatório de novembro.

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Talvez a Petrobras seja uma das empresas mais complicadas de se fazer alguma projeção, já que temos visto tantos processos, escândalos e o atraso da divulgação dos resultados. Mesmo assim, uma coisa é certa, a corrupção na estatal obrigará a empresa a republicar os balanços de 2014 e de anos anteriores, provavelmente gerando baixas contábeis. Segundo o Morgan Stanley, no cenário mais pessimista, a estatal pode lançar como prejuízo até R$ 21 bilhões em investimentos ruins. Dependendo do tamanho do rombo, os pagamentos futuros de dividendos podem ser comprometidos.

Outro possível problema é que, se não republicar os balanços com a aprovação da auditoria PwC, a estatal correrá o risco de perder a tradicional janela para captações de recursos no exterior, no início de cada ano. Segundo cálculos do Credit Suisse, a empresa precisará captar entre US$ 15 bilhões e US$ 20 bilhões em 2015 – metade disso costuma ser feito já em janeiro. A previsão de divulgação do balanço auditado é 30 de janeiro.

“Se você investe em Petrobras e quer se livrar dos papéis no curto prazo, alguma boa sinalização da nova equipe econômica pode levar a um rali e criar uma oportunidade para vendê-los. Mas o preço em que os ativos se encontram também pode representar uma ‘barganha’ se considerado um cenário mais longo – mas só se a companhia iniciar uma verdadeira ‘limpeza’, mudar os rumos de governança e adotar uma transparência maior. É um investimento altamente especulativo”, afirma Frederico Mesnik, sócio-gestor da Humaitá Investimentos.

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5. Vale (VALE3; VALE5, R$ 107,46 bilhões)
Com desvalorização de 40% em 2014 e chegando às suas mínimas na Bolsa desde 2009, a grande questão da Vale envolve o preço do minério do ferro, principal produto da companhia e que nos últimos meses despencou de valor. Para Luciano Siani, diretor de relações com investidores da Vale, a grande questão é como os preços vão se comportar daqui para frente. Segundo ele, enquanto o mercado não entrar em um acordo sobre esse ponto, as ações devem continuar sofrendo. 

 Boa parte dos analistas concorda com esse raciocínio, mas nem todos esperam uma alta representativa nos preços em breve. Entre as 20 casas de análise acompanhadas pela Bloomberg, a mediana das projeções indica uma leve melhora para o minério de ferro no próximo ano, com a cotação atingindo US$ 98, mas caindo para US$ 95 entre 2016 e 2018. A Vale também deve realizar mudanças importantes em seus negócios em 2015.

O analista Bruno Piagentini, da Coinvalores, destaca que a mineradora tenta reduzir sua alta exposição ao minério de ferro e aumentar a produção dos chamados “metais básicos” (cobre, níquel, alumínio, chumbo, zinco e estanho), o que deve ajudá-la a contornar os problemas do preço do minério. Mas, segundo Piagentini, o mais importante são os projetos em Carajás, no Pará. Dois grandes negócios estão sendo desenvolvidos na região, considerada a mais rica área mineral do mundo – a Vale começou a explorar Carajás na década de 1980. O primeiro projeto é o S11D, uma nova mina que vai aumentar significativamente a produção de minério na região. Segundo o diretor de RI da Vale, todas as licenças de implantação já foram obtidas e a expectativa é que a mina acrescente 90 milhões de toneladas à produção da Vale no final de 2016, chegando assim a 370 milhões de toneladas. Ao mesmo tempo, a Vale também irá ampliar sua atual mina em Carajás – a licença prévia já foi obtida.

Por outro lado, esses projetos farão com que a empresa precise apertar o cinto. “Serão anos de crescimento, mas os investimentos elevados trarão um grande desafio para nossa gestão”, explica o diretor. Segundo ele, o que mais deve consumir caixa é o projeto S11D, já que serão necessários elevados investimentos até que a mina opere a plena capacidade. Ou seja, 2015 pode ser um ano bastante desafiador para a Vale, mas a expectativa é que a partir de 2016 o cenário melhore bastante e os retornos sejam altos.

7. Cielo (CIEL3, R$ 63,52 bilhões)
Com alta de 27,51% em 2014, a Cielo segue como a “co-top pick” do Brasil Plural – juntamente com os papéis do BB Seguridade. “Continuamos entusiasmados com o potencial de investimento da Cielo, […] e continuamos otimistas sobre a criação de valor potencial da Joint Venture de processamento de cartão anunciado recentemente com o Banco do Brasil”, afirmaram os analistas. Apesar do otimismo, os analistas reduziram a expectativa de ganhos para ações, que agora tem um potencial de alta de R$ 5,50, ou cerca de 14%.

Como alerta, os especialistas destacam que o resultado de quarto trimestre pode não ser tão positivo, o que não deve ser tratado como preocupação. “Advertimos os investidores de curto prazo para não terem uma reação exagerada dado os múltiplos elevados e os fracos volumes de cartão no quarto trimestre deste ano. Não negligencie os benefícios a longo prazo da Joint Venture”, destacaram.

O título do relatório (“A 5000m Long-Distance Champ, Not a 50m Sprinter”, ou seja, “Uma maratona de 5000 metros e não uma corrida de 50 metros”) já deixa claro o que a corretora espera para a Cielo, ou seja, no momento este é um investimento a ser focado no longo prazo e não em um período curto. Exatamente por esta razão a Cielo ainda é considerada a principal escolha para os analistas, mesmo que neste fim de ano e início de 2015 ela ainda apresente números fracos.

8. BB Seguridade (BBSE3, R$ 62,20 bilhões)
Com o melhor desempenho em 2014 entre as maiores empresas da Bolsa – alta de mais de 32% no ano -, a BB Seguridade segue muito bem vista pelos analistas, apesar dos alertas de que o próximo ano pode marcar uma “freada” da ação. A equipe do JP Morgan vê boas perspectivas de crescimento para a companhia no curto prazo, mas também destacam que a recuperada nos balanços da empresa vistos em 2014 não deve se repetir no próximo ano.

Isso posto, eles mantêm a recomendação neutra para os papéis BBSE3, com uma leve redução em R$ 2,00 no preço-alvo para 2015, para R$ 35,00  – atualmente a ação é cotada na faixa de R$ 30. “Calculamos nosso modelo pressupondo um crescimento ligeiramente mais baixo para o primeiro semestre de 2015”, destacam os analistas. “Em nosso ponto de vista BB Seguridade ainda tem boa dinâmica de crescimento como resultado da baixa penetração da indústria de seguros no Brasil””, completam.

Apesar das boas perspectivas, eles destacam que o crescimento extraordinariamente rápido que a empresa postou recentemente, impulsionado pela baixa penetração do Banco do Brasil, deve desacelerar em 2015 e 2016.

10. BRF (BFRS3, R$ 56,19 bilhões)
Assim como a Cielo, a BRF é a única do “Top 10” da Bovespa que subiu 30% em 2014. Recentemente o Bank Of American Merrill Lynch rebaixou a recomendação para as ações da BRF de compra para neutra, após rali do papel nos últimos dois meses, o que reduziu o potencial de valorização da ações sobre o preço-alvo do banco, de R$ 70,00. Em relatório, os analistas avaliam que a relação risco/retorno do papel deixou de ser atrativa, sendo que eles destacam ainda que esperam que a oferta de frangos no mundo aumente no próximo ano, principalmente, nos Estados Unidos, o que deixa a equipe cautelosa.

Enquanto isso, a equipe da Citi Corretora destaca a apresentação da companhia ocorrida em novembro, onde o CFO da empresa, Augusto Ribeiro, sugeriu que normalização da margem Ebit de exportação para 2015 pode ser acima de 8%. “Em nosso ponto de vista, isso parece um pouco mais otimista do que o de mensagens que recebemos durante o BRF Day em NY”, destacaram os analistas.

“Embora a gestão tenha citado uma recente fraqueza nas exportações para a Rússia e um aumento sequencial nos preços do milho, o CFO ressaltou que a rentabilidade do negócio de exportação não deve cair de volta para a baixa margem de um dígito, como visto no quarto trimestre de 2013”, completaram os especialistas.

Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.