Os 11 motivos que fizeram o Credit rebaixar os emergentes agora – incluindo o Brasil

Dentre os que se "salvaram" da estratégia do banco, estiveram a Coreia do Sul, Taiwan e Índia, enquanto Brasil é underweight por sete motivos

Lara Rizério

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SÃO PAULO – O ano de 2015 está chegando e, para o Credit Suisse, ele não será nada bom para os mercados emergentes. De acordo com a equipe de análise do Credit Suisse, o ano que chega será complicado para o grupo de países, o que fez o banco suíço reduzir a recomendação para underweight (desempenho abaixo da média do mercado).

E, por que a equipe de estratégia está pessimista com os emergentes? Confira os 11 motivos (e os 7 para estarem underweight com o Brasil): 

1) Visão negativa sobre China: o gigante asiático é o risco-chave, avalia o Credit, avaliando que as pré-condições para um cenário complicado estão no lugar. Os problemas que estão em campo são a terceira maior bolha de crédito de todos os tempos, sendo que só a Tailândia e a Espanha experimentaram um aumento maior no setor de crédito privado em relação ao PIB durante um período de cinco anos. Além disso, o excesso de investimento em relação ao PIB está levando a uma sobrecapacidade da indústria e ocasionando deflação dos preços dos produtos. O renminbi não mais desvalorizado também é um sinal de preocupação.

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No lado mais positivo, os decisores políticos chineses parecem estar adotando uma postura modestamente mais estimulante. Em novembro de 2014, o Banco Chinês cortou as taxas e continuou a injetar liquidez nos mercados financeiros; o governo central tem também envolvida em sua primeira flexibilização da restrição de propriedade desde 2008. Porém, há limitações para estímulos.

2) O dólar mais forte: os analistas do Credit avaliam que o dólar terá um cenário mais altista em 2015 e, em dois terços das vezes, isso foi um problema para os mercados emergentes.

Os papéis dos emergentes tendem a ter uma melhor performance quando as suas moedas se valorizam ante o dólar, uma vez que reduz a inflação, a dívida externa líquida, bem como o custo dos subsídios denominados em dólar.

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3) Preços globais de commodities continuam a ter uma performance inferior: o desempenho das ações dos emergentes tem acompanhado de perto o desempenho das commodities. Isso porque 19% do valor de mercado deste grupo vem diretamente das commmodities e 41% dos exportadores de commodities, ante 7,3% dos desenvolvidos. Para alguns mercados emergentes, especialmente Brasil e México, as commodities são cruciais para as receitas e para o crescimento econômico. Para os mercados de petróleo, a questão fundamental é que a Arábia Saudita está à beira de perder a sua capacidade de ser um formador de preços.

4) Capacidade ociosa limitada: as taxas de desemprego estão em muitos casos nas suas mínimas históricas, o que sugere capacidade ociosa limitada. Isso é ruim para as políticas – limitando a flexibilização monetária – e também implica um maior poder dos trabalhadores.

5) Os mercados emergentes estão altamente alavancados em relação à sua tendência: no total, a alavancagem do setor privado em relação à tendência é alto em relação aos mercados desenvolvidos.

Este apresenta um desafio especial para os países em que a alavancagem está mais de 10% acima da tendência (com o BIS sugerindo que, quando há aumentos de alavancagem acima deste nível, tem sido historicamente associados a uma crise de crédito). China, Filipinas, Turquia e do Brasil apresentam um risco especial, enquanto a Hungria, Malásia, Coréia, África do Sul, Polônia e Índia estão entre os países menos alavancados.

(6) Os valuations não são particularmente atraentes: em relação aos mercados desenvolvidos, os emergentes estão com um ligeiro prêmio.

(7) As margens dos emergentes estão deprimidas: as margens são baixas em relação a seu histórico, mas não necessariamente em relação a outras regiões importantes. Por outro lado, os estrategistas avaliam que, em muitas áreas, boa parte do declínio da margem é devido à desregulamentação, emprego pleno e má alocação de capital.

(8) O impacto negativo para as ações dos emergentes em decorrência do aumento de taxas nos EUA que pode compensar o impulso de uma recuperação cíclica mundial.

(9) Os estrategistas do banco não veem potencial de valorização em termos relativos para os emergentes.

(10) O momentum macro dos emergentes não está melhorando em relação ao mundo desenvolvido: para as ações dos países emergentes, as novas encomendas medidas pelo PMI teriam que ficar três pontos acima das atuais, dada a relação histórica entre os indicadores e a performance dos ativos. Além disso, tem havido uma decepção em indicadores dos países emergentes piores do que nos desenvolvidos.

(11) Indicadores não estão atrativos: revisões de ganhos mostram estabilidade em relação aos mercados globais, mas não particularmente bons. Nos níveis regionais, as revisões de lucros na América Latina são particularmente fracas.

Brasil underweight
Entre os aspectos que podem ser positivos entre os emergentes, estão a maior flexibilização nas políticas que os países desenvolvidos, sinais de reforma na Índia e China, os valuations não estão caros. E há boas opções entre os emergentes, segundo o Credit: dentre eles, a Índia, a Coreia do Sul, Taiwan, México e Turquia, todos com recomendação overweight (desempenho acima da média do mercado).

Por outro lado, o Brasil e Rússia estão com recomendação underweight. No caso brasileiro, o real valorizado, que aumenta os custos de produção, e a expectativa de que o real possa se depreciar mais é o primeiro fator negativo. Em segundo lugar, o Brasil está próximo do pleno emprego, de 4,7%. Em terceiro, relação do crédito do setor privado está 13% acima da tendência.

O quarto ponto é que o déficit em conta corrente não está diminuindo, com o Brasil particularmente vulnerável se os preços do petróleo ou do minério de ferro caírem significativamente mais, com um terço das exportações provenientes destas matérias-primas.

Em quinto, o Brasil é pouco competitivo e tem pouca flexibilidade no mercado de trabalho e, em sexto, o Brasil ocupa a lanterna da estratégia dos mercados emergentes do Credit. Por fim, o valuation é desafiador. “Como nossa equipe de estratégia de ações dos emergentes aponta, os pesos pesados do índice Vale e Petrobras (tendo em conjunto 21% do MSCI Brasil) têm marcado o desempenho ea valorização relativa do Brasil ao longo dos últimos três anos”. Exclui-los leva a performance menor em relação aos emergentes de apenas 6% ante 34%. Da mesma forma, o mercado parece significativamente mais caro com a sua exclusão.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.