CPMI da Petrobras: empresário diz que pagou comissão a doleiro com nota fiscal

Youssef foi preso pela Polícia Federal (PF) na Operação Lava Jato, que apura lavagem de dinheiro, evasão de divisas e irregularidades em contratos com a petrolífera estatal

Equipe InfoMoney

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SÃO PAULO – O sócio-diretor da empresa Sanko-Sider, Marcio Andrade Bonilho, afirmou que pagou R$ 37 milhões como comissão ao doleiro Alberto Youssef por 12 contratos intermediados por ele junto a empreiteiras que trabalham para a Petrobras (PETR3; PETR4). Youssef foi preso pela Polícia Federal (PF) na Operação Lava Jato, que apura lavagem de dinheiro, evasão de divisas e irregularidades em contratos com a petrolífera estatal.

Segundo Bonilho, todos os pagamentos foram feitos dentro da lei. Os parlamentares da oposição contestaram a versão de Bonilho, que depôs nesta quinta-feira (27) em uma reunião esvaziada da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) da Petrobras.

“Eu pago comissão com nota fiscal. Eu devia a comissão, paguei e informei ao Estado o quanto paguei e como paguei. Esta foi a orientação dos meus advogados: agindo assim, eu estaria alinhado com a legislação”, disse o executivo. Inicialmente, Bonilho havia dito que o repasse teria sido de R$ 33 milhões, mas ao ser contestado por parlamentares, corrigiu o valor.

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O repasse era feito a empresas de Youssef, como a MO Consultoria e GFD Investimentos, a pedido do doleiro. Segundo a Polícia Federal, essas eram “empresas de fachada”. O empresário também afirmou que assinou contratos com as empresas caso Youssef quisesse cobrá-lo em caso de inadimplência.

Abreu e Lima
O maior dos contratos fechados com a ajuda de Youssef foi o do consórcio CNCC, liderado pela construtora Camargo Corrêa, para a obra da Refinaria de Abreu e Lima. Só nesse contrato, a Sanko recebeu R$ 198 milhões, com lucro de 6% a 8%, de acordo com Bonilho.

A comissão que Youssef recebia da Sanko variava entre 3% e 15% da margem de lucro, mais do que outros intermediadores, com comissão entre 3% a 5%. A Sanko-Sider realiza importação de tubos de aço para o setor de óleo e gás e é fornecedora da Petrobras.

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Do faturamento da Sanko, apenas 2% vieram de vendas diretas a Petrobras, feitas por pregão eletrônico da Petrobras (Petronet). O executivo não soube precisar quando teria conhecido Youssef. “Tive dois momentos que marcam o início do relacionamento comercial com ele: em uma feira de óleo e gás ou na entrada da empresa Engevix.”

Notas frias
Deputados da oposição criticaram a relação entre Bonilho e Youssef. Para o deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS), o executivo mentiu para a CPMI e ele sabia da emissão de notas frias pelas empresas de Youssef.

“O senhor contratou um doleiro ‘famosésimo’ no Brasil para ser seu vendedor. O mínimo que o senhor tinha de fazer era procurar na internet, ia aparecer a delação premiada anterior, e o caso do Banestado”, disse Lorenzoni.

O líder do PSDB, deputado Antônio Imbassahy (BA), também questionou a falta de análise do histórico de Youssef pela Sanko. “O senhor acha razoável procurar um doleiro para fazer negócio tendo 8 mil clientes e 18 anos de mercado?”, questionou.

Bonilho disse que se respaldou em seus advogados para manter contrato com Youssef. Ele ficou em dúvida se continuaria a parceria depois de ter sido alertado por um amigo sobre as ações anteriores do doleiro. “Fui me consultar com advogados. E eles disseram que, se as minhas operações estão corretas, que eu devo me responsabilizar pelas minhas operações”, disse Bonilho.

Segundo o empresário, a escolha de Youssef foi feita porque o doleiro tinha bom trânsito nas empreiteiras, conhecia diretores e tomadores de decisão. “Eu procurei as empresas diretamente e elas tinham relacionamento muito bom com ele. Quando você o vê fazendo o negócio, você não tem uma visão negativa”, disse.

Canal com empreiteiras
Para o deputado Afonso Florence (PT-BA), que substitui o relator acidentado, deputado Marco Maia (PT-RS), o executivo da Sanko buscou se isentar de culpa. “Ficou evidenciado que ele era um canal da relação do Youssef com empreiteiras. Apesar de ele reconhecer esses fatos com um conjunto de argumentos que buscam isentá-lo.”