Bolsa desaba e dólar dispara; o mercado já reelegeu Dilma?

Especialistas traçam o cenário para a Bolsa na segunda-feira, quando devemos ter o "maior call binário da história da Bovespa”: ou o Ibovespa dispara ou afunda

Thiago Salomão

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SÃO PAULO – Muita gente reclama que brasileiro não leva política a sério. Mas essa não é a realidade do mercado financeiro: desde que as primeiras pesquisas eleitorais começaram a ser divulgadas, na segunda metade de março, as ações negociadas na Bovespa começaram um movimento que ficou conhecido como “rali eleitoral”, com empresas estatais e bancos mostrando forte alta a cada levantamento que mostrava chances maiores de derrota de Dilma Rousseff (PT) – ou fortes quedas quando estas pesquisas mostravam um cenário favorável à reeleição. Com as eleições definindo o novo presidente para os próximos 4 anos neste domingo (26), essa “festa” na Bovespa está com as horas contadas.

Todo esse sobe e desce na Bolsa gerou ótimas oportunidades tanto na ponta compradora quanto na ponta vendedora (quando se aposta na queda do preço das ações para conseguir lucro). E a certeza de que a Bovespa subirá caso Aécio seja o vencedor das eleições ou irá ladeira abaixo com a reeleição de Dilma fez com que muitos operadores chamassem o momento do mercado de ações como o “maior call binário da história da Bovespa”. Mas será que a forte derrocada do Ibovespa nos últimos dias – entre terça e quinta-feira, o índice caiu 9% e bateu a mínima em 6 meses – já indica que o mercado reelegeu Dilma Rousseff? Ou ainda há espaço para apostar neste “trade binário”? 

De março até setembro, o Ibovespa subiu quase que 40% ao sair da faixa de 44 mil pontos para até 62.300 pontos, em um movimento que ganhou força principalmente na segunda metade de agosto – período marcado pela trágica morte de Eduardo Campos, que foi substituído por Marina Silva (PSB) e que em poucos dias abriu ampla vantagem sobre Dilma nas simulações do 2º turno. No começo do mês passado para cá, no entanto, a Bolsa começou a precificar um retorno do favoritismo de Dilma, o que tem ficado cada vez mais evidente nos últimos pregões: de 3 de setembro pra cá, o principal índice de ações da Bolsa caiu 18%, voltando aos 50.700 pontos – apenas nos últimos três dias, o Ibovespa afundou 9%.

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Bolsa cai 10% ou sobe 20%?
O analista gráfico Fernando Góes, da Clear Corretora, é um dos que acreditam no trade. Ele espera uma forte volatilidade na segunda-feira pós-eleição, trabalhando com uma possibilidade de mais de 70% de vitória de Dilma e, caso esse cenário se concretize, ele não descarta uma queda de até 10% do Ibovespa – fato que acionaria o “circuit breaker”, que é quando a Bolsa interrompe as negociações por conta de uma queda muito brusca. Se Aécio vencer, ele não descarta altas de 20%, principalmente por conta das quedas recentes do mercado.

Porém, o analista trabalha com um cenário que pode ser de alta ainda maior, de 20%, caso Aécio ganhe as eleições, uma vez que o Ibovespa já indica uma chance de 70% de Dilma ganhar e de somente 30% do tucano sair vencedor. Assim, o retorno aponta para ser maior caso o tucano ganhe as eleições. “O Ibovespa estava no patamar de 53 mil pontos antes do primeiro turno e, agora, está no patamar dos 50 mil pontos, o que indica um potencial de alta maior caso Aécio vença”, diz Góes.

Já Flávio Conde, analista da Gradual Investimentos, ressalta que uma parte da queda – caso Dilma vença – já está precificada, o que pode até limitar as perdas do índice na segunda-feira. “Os primeiros dias após a eleição podem ser de exageiros na Bolsa”, destaca ele, que ainda indica esperar para realizar qualquer movimento já no dia 27.

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“Quem for comprado para o final de semana não deve vender no pânico na segunda-feira”, destaca. Segundo ele, a chance de uma pequena recuperação nos dias seguintes pode evitar uma perda maior caso Dilma vença. Por outro lado, ele destaca que esse pode ser um bom momento para compra: “segunda-feira pode ser o melhor dia para se comprar ações no ano”, afirma.

Por outro lado, ele destaca que o cenário de vitória de Aécio é “simples”. “Vai ser difícil encontrar uma ação que não suba na segunda-feira”, afirma, ressaltando, porém, que empresas como as exportadoras (que são favorecidas por um dólar alto) e companhias de varejo podem não ter um desempenho tão positivo. “Não estou dizendo que irão cair, mas empresas como Fibria e Suzano podem não acompanhar a disparada da Bolsa”, completa.

Para Conde, se a Bolsa pode ter uma alta de até 20%, o câmbio deve ter um reflexo tão forte quanto. Segundo ele, se o tucano for vitorioso o dólar deve abrir a sessão já com uma queda de R$ 0,10 no preço, voltando para R$ 2,40. Por outro lado, se Dilma for reeleita, a moeda norte-americana deve iniciar a segunda-feira com uma disparada entre R$ 0,10 e R$ 0,20, podendo bater em R$ 2,70.

Opções: bom para lucrar – ou se proteger
Para ganhar – ou se proteger – desse desta forte volatilidade, o analista recomenda estratégia com opções da Petrobras, que além de estar diretamente exposta às notícias eleitorais também possui forte liquidez no mercado de opções. Quando um investidor compra uma opção, ele está comprando o direito de comprar (call) ou vender (put) uma determinada ação a um preço já definido (preço de exercício, ou “strike”) até um vencimento já estabelecido. Sendo assim, esses “direitos” oscilam de preço à medida que eles começam a se mostrar vantajosos ou não em relação ao preço da ação. Quanto mais longe de ser exercido estiver um “strike”, maior a chance desta opção “virar pó” (definição usual para os contratos que chegaram ao vencimento sem valor).

“Um dos métodos é o straddle, que se consiste na compra de uma call (opção de compra) e de uma put (opção de venda) sobre o mesmo ativo objeto com preços de exercícios bastante fora do dinheiro”, explica Góes. Neste cenário, uma vitória de Aécio provocaria uma forte alta das ações: como as opções possuem um valor de face bem menor do que as ações, a valorização das call seria bem maior. Já na vitória de Dilma, disparariam os preços das puts, enquanto as calls caminhariam para virar pó.

Neste tipo de estratégia, o objetivo principal é apostar em um forte direcionamento, seja para cima ou para baixo. Concretizado um dos dois cenários, a expectativa é que a valorização da put ou da call compense a perda de valor do outro contrato. É preciso ter em mente que, devido à alta volatilidade das ações da Petrobras, o “prêmio” das opções ficou muito caro; na prática, isso significa que a call ou a put teriam que subir muito para compensar o contrato da outra ponta.

Outra operação traçada por Góes consiste em uma “trava de alta”: nesta operação, o investidor realiza a compra de uma quantidade de calls e a venda simultânea da mesma quantidade de outra call com preço de exercício maior. Assim, ele consegue “travar” tanto o prejuízo da operação – que ficaria na diferença entre o preço que você comprou uma call e vendeu a outra – quanto o retorno máximo do trade, que seria qualquer preço que a ação alcançar acima do strike da call vendida. 

“Temos uma alta de PETRK17 (opção para comprar uma ação PN da Petrobras a R$ 17,66 até 17 de novembro) com PETRK18 (call de Petrobras a R$ 18,16 no mesmo vencimento)”: a entrada na operação é R$ 0,10 por contrato, com a perda máxima de R$ 0,40/contrato, que é a diferença entre os dois strikes – R$ 17,66 e R$ 18,16 – e um potencial de ganho de 500% caso PETR4 chegue a R$ 18,16 ou mais”, explica o analista técnico da Clear.

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Thiago Salomão

Idealizador e apresentador do canal Stock Pickers