Mapa do tesouro: quem ganha e quem perde com uma vitória de Marina na Bolsa

InfoMoney compilou a opinião de diversos especialistas e apontou quais seriam a empresas e setores que mais "comemorariam" ou "chorariam" caso Marina se torne a nova presidente

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – Não faz nem um mês que Marina Silva assumiu como candidata oficial do PSB à presidência e muitos já colocam ela como favorita para vencer as eleições. Neste cenário, o mercado já começa a tentar prever quais seriam as ações ou os setores que seriam mais beneficiados ou mais prejudicados com um governo de Marina Silva.

Compilando análises de bancos e corretoras, além da opinião de diversos analistas, o InfoMoney montou o “mapa do tesouro” caso Marina se torne presidente. Estas análises se baseiam nas indicações apresentadas pelo plano de governo da candidata e também na postura que Marina já demonstrou sobre alguns setores. 

Desde março o mercado já mostrava sua vontade de ver uma mudança de governo, o que levou a Bolsa para um rali que já supera os 35% de alta. Ajudando a impulsionar ainda mais o mercado, a entrada de Marina após a morte de Eduardo Campos trouxe ainda ainda mais ânimo para os investidores com a ideia de que Dilma não será reeleita.

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Apesar da noite de ontem trazer duas pesquisas, Ibope e Datafolha, mostrando que a candidata do PSB deu uma “freada” em sua ascensão, ambas mantiveram Marina como a vencedora das eleições em uma disputa de segundo turno contra Dilma por 7 pontos. Todo o ânimo dos investidores é baseado na expectativa de que um novo governo mudaria a atual política intervencionista, principalmente nas empresas estatais, nos bancos e companhias elétricas. Mas outros setores também terão o que comemorar com uma vitória de Marina.

Veja o que esperar de cada ação caso Marina seja eleita:

Petrobras (positivo)
A empresa que mais tem chamado atenção no rali eleitoral, com valorização que já supera os 100%. Basicamente, a expectativa é que sem Dilma o governo iria intervir menos na companhia e em sua política de preços. Segundo os analistas do UBS, caso a peessebista vença, a Petrobras deixaria de ser usada como instrumento do governo para políticas macroeconômicas, fato que também ajuda a Eletrobras.

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O plano de governo da candidata diz especificamente que os preços da companhia precisam refletir “custos reais e as condições de mercado”, o que, segundo o UBS pode significar uma menor intervenção do governo na empresa. O plano ainda menciona que a agência reguladora precisa ser mais independente e que as regras locais precisam ser revistas para aumentar a competitividade da Petrobras.

Energia (positivo)
Marina já deixou claro em suas entrevistas e em seu plano de governo ela voltou a destacar sua vontade em mudar a matriz energética brasileira. A candidata defende um modelo de planejamento onde o CNPE (Conselho Nacional de Política Energética) teria mais poder. Além disso, ela também defende a expansão do mercado livre, para tornar o modelo brasileiro mais próximo de como ocorre na Europa.

Enquanto isso, a matriz energética do Brasil iria mudar drasticamente, focando mais em energia renovável, com aumento do uso de energia solar, eólica, da biomassa e qualquer outra forma de energia limpa, em detrimento do uso da termo energia. Empresas de energia já seriam naturalmente favorecidas pela mudança nas políticas, mas no geral, o mercado de energia renovável seria o grande vencedor em caso de vitória de Marina Silva, principalmente para empresas com um case voltado para energia eólica ou outras opções além da térmica.

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Bancos (positivo)
Entre as instituições financeiras, os bancos privados seriam os mais favorecidos com o que o plano de governo de Marina apresenta. Segundo os analistas do Credit Suisse, a candidata reforçou em seu programa o papel fundamental que o crédito desempenha no desenvolvimento sustentável do Brasil. “Ela propõe um conjunto de medidas para acelerar gradualmente o crédito no país, o que seria muito bem recebido pelos bancos e agentes do mercado em geral, especialmente tendo em conta o crescimento do crédito lento que temos visto ultimamente”, destacam os analistas.

Seus planos aborda duas questões principais: o aumento da participação dos bancos públicos no total do crédito nos últimos anos e as razões estruturais para o alto custo do crédito no Brasil. “Por isso, a proposta de Silva apela a uma maior participação dos bancos privados em operações de crédito, em especial aqueles em que os bancos públicos tiveram um grande papel e empregou recursos subsidiados do Tesouro Nacional”, disseram os analistas do Credit.

Vale e siderúrgicas (negativo)
As questões envolvendo a Vale (VALE3; VALE5) e as companhias siderúrgicas são mais delicadas, mas o setor já vem sofrendo na Bolsa nas últimas semanas, já que o mercado vê essas empresas como as grandes prejudicadas por Marina. No caso da Vale, as dúvidas envolvem a natureza de seu negócio, que demanda licenças ambientais para grandes projetos, o que não condiz com os ideais da candidata.

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O Citi destacou que o programa do PSB para o comércio exterior prevê a revisão das políticas de conteúdo local para as indústrias automotiva e de petróleo, e o estabelecimento de datas claras para o término e revisão periódicas das barreiras à importação. Essas propostas poderiam ser negativas para algumas indústrias, como as siderúrgicas Gerdau (GGBR4), Usiminas (USIM5) e CSN (CSNA3), além da petroquímica Braskem (BRKM5), a empresa de materiais de construção Duratex (DTEX3) e a empresa de produtos farmacêuticos Hypermarcas (HYPE3).

Sucroalcooleiras (positivo)
Começa a entrar no radar dos investidores as empresas do setor, principalmente a Cosan (CSAN3). O plano de governo de Marina indica que ela deve ajudar no desenvolvimento do setor, sendo necessário a diplomacia para defender o uso global do etanol na mistura da gasolina. Os analistas do Citi destacam que o foco de Marina em um programa de biocombustíveis deve ajudar o setor como um todo. Neste cenário, a São Martinho (SMTO3) também deve ser favorecida.

Educacionais (positivo)
Assim como nos últimos anos, as perspectivas para o setor de educação continuam positivas. As propostas do programa de governo de Marina sinalizam o fortalecimento de programas como Fies e ProUni, além da continuidade dos programas do governo federal – programas estes que impulsionaram o crescimento do setor. O destaque maior fica por parte dos investimentos no ensino básico, o que favorece a companhia Abril educação, empresa com maior atuação segmento.

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O Programa Nacional de Educação (PNE) tem como meta, ter 33% dos jovens de 18 a 24 anos no ensino superior, atualmente, essa porcentagem é de aproximadamente 15%. O que sinaliza um potencial de crescimento para empresas desse setor – Kroton e Ser Educacional. O Presidente da Kroton, Educacional, Rodrigo Galindo afirmou ainda em evento realizado em São Paulo, que o crescimento deve continuar acelerado pelos próximos anos, devido a existência de uma demanda reprimida, além da demanda recorrente de alunos que se formam no Ensino Médio.

Imobiliárias (positivo)
Apesar dos riscos em relação aos juros, o setor deve ser favorecido pela promessa já feita por Marina de construir 4 milhões de moradias até 2018 no programa Minha Casa, Minha Vida, destacam os analistas do Citi. Essa notícia seria bastante positiva para a MRV Engenharia (MRVE3), Direcional Engenharia (DIRR3), Cyrela (CYRE3) e Gafisa (GFSA3).

Por outro lado, a equipe do Citi afirma que esta proposta “entra em conflito com a intenção de reduzir o déficit federal e tirar a ênfase do crédito via bancos públicos”. Além disso, um ajuste necessário na política econômica poderia elevar a taxa de juros no início do governo da candidata, o que pode pesar para o setor.

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Concessões rodoviárias e infraestrutura (positivo)
No setor de infraestrutura, concessionárias como CCR (CCRO3), Ecorodovias (ECOR3), Arteris (ARTR3), e ALL (ALLL3) são potenciais beneficiárias, uma vez que o programa de governo de Marina Silva prevê “recorrer mais fortemente a parcerias público-privadas (PPPs) e a licitações de concessões”.

Natura e Itaúsa (neutro)
Esses casos são exceções, já que não envolvem exatamente as propostas da candidata nem seu pensamento. De acordo com a Flavio Conde, analista da Gradual Investimentos, as ações da Natura (NATU3devem se beneficiar fortemente, visto que a campanha de Marina é apoiada por Guilherme Leal, sócio da companhia, enquanto a Itaúsa (ITSA4) e o Itaú Unibanco (ITUB4) poderiam se beneficiar por causa da participação de Neca Setúbal na campanha. Mas sua opinião não é unanimidade.

Marcelo Varejão, analista da Socopa, foi mais fundo no assunto. Para ele, seria uma contradição comemorar a chegada de Marina por conta de uma mudança de postura do governo, em termos de intervencionismo e transparência, e, ao mesmo tempo, apostar que as ações da Natura e da Itaúsa se beneficiariam pela participação de Leal e da Setúbal. “Isso seria algo equivocado, pois se tivermos mais transparência e menos intervenção, essas ações não serão beneficiadas individualmente”, explicou.

Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.