Petrobras tem melhor mês desde 2007, “kit Marina” dispara e Vale cai 10%; veja mais

Rali eleitoral seguiu com força em agosto, puxando o Ibovespa para o melhor mês desde janeiro de 2012; apenas 11 das 71 ações do índice fecharam em queda

Paula Barra

Publicidade

SÃO PAULO – O rali eleitoral seguiu com força em agosto, quando o Ibovespa registrou seu melhor mês desde janeiro de 2012. O principal índice de ações da Bolsa marcou seu quinto mês no positivo em seis, puxado principalmente pelas ações das estatais e bancos, que vêm sendo as grandes beneficiadas pela arrancada do mercado desde março, em meio às pesquisas eleitorais.

Além delas, as ações do “kit Marina” – empresas que tendem a se beneficiar em eventual governo da candidata do PSB – sobem forte desde que iniciaram os rumores de que ela assumiria o posto de Eduardo Campos, cuja protagonista mais recente é a ação da Cosan (CSAN3), que sobe 25% no mês. 

Na ponta oposta do Ibovespa, figuraram as ações dos setores de mineração e siderúrgia, que vêm sendo penalizados por conta de dados fracos da economia chinesa e uma nova rodada de queda nos preços do minério de ferro.

Masterclass

As Ações mais Promissoras da Bolsa

Baixe uma lista de 10 ações de Small Caps que, na opinião dos especialistas, possuem potencial de valorização para os próximos meses e anos, e assista a uma aula gratuita

E-mail inválido!

Ao informar os dados, você concorda com a nossa Política de Privacidade.

Vale destacar ainda que no mês apenas 11 empresas das 71 ações do índice encerraram no negativo. Entre elas, liderou o movimento a MMX Mineração (MMXM3, R$ 0,82, -43,45%), que estará fora da Bolsa na próxima segunda-feira (1) com a divulgação da nova carteira teórica do Ibovespa, que vigorará de setembro a janeiro de 2015.

Confira os principais destaques da Bolsa:  

– Entre as altas

Continua depois da publicidade

1°) Estatais e bancos
Novamente, as ações das estatais e bancos roubaram a cena na Bolsa em meio ao rali eleitoral. Os papéis da Petrobras (PETR3, R$ 22,14, +23,07%; PETR4, R$ 23,35, +22,25%), que desde março já subiram mais de 80%, registraram seu melhor mês desde dezembro de 2007. A petrolífera seguiu o noticiário político, que contou com duas pesquisas eleitorais – Ibope e CNT/MDA -, que confirmaram especulações de que Marina Silva daria um salto na corrida presidencial, além da expectativa pelo Ibope, que deve ser revelado hoje à noite.

Com o cenário eleitoral ficando cada vez mais claro, investidores locais e estrangeiros têm marcado presença na Bolsa, puxando principalmente a arrancada das ações da estatais e setor financeiro, que tendem a ser as mais beneficiadas por uma mudança de governo. Além da Petrobras, subiram forte as ações do Banco do Brasil (BBAS3, R$ 34,99, +26,55%) – que registram a 12° alta em 13 pregões – e Eletrobras (ELET3, R$ 8,15, +30,40%; ELET6, R$ 12,35, +13,41%); assim como os principais bancos privados da Bolsa Itaú Unibanco – que sobe pela 10 vez em 12 sessões – e Bradesco (BBDC3, R$ 40,02, +13,17%; BBDC4, R$ 40,84, +18,07%). 

2°) Sucroalcooleiro
No mês de agosto, um setor que pouco vinha se movimentando desde o início do rali eleitoral, em março, começou a disparar. A principal questão foi a entrada de Marina Silva na corrida à presidência, o que elevou as apostas do mercado de que em um eventual governo da candidata essas companhias seriam uma das principais beneficiadas. A protagonista do setor foi a Cosan (CSAN3, R$ 46,50), que acumulou sua nona alta em dez pregões, registrando no período ganhos de 27% – mais do que a valorização apresentada no mês de agosto (+25,10%). No “kit Marina” ainda incluem as ações da São Martinho (SMTO3, R$ 45,39, +20,65%) e Tereos (TERI3, R$ 2,80, +14,29%). 

A gestora de recursos da Coinvalores Corretora, Tatiane Cruz, esclareceu que a alta dos papéis se deu por uma reação tardia do mercado ao “rali eleitoral”, já que os candidatos à presidência estão se aproximando cada vez mais do agronegócio. De acordo com a gestora, Marina Silva, que no último Ibope conseguiu fazer com que suas intenções de voto fossem acima das de Dilma para o segundo turno, possui uma agenda muito forte no ramo de sustentabilidade e, como o etanol é um tipo de combustível mais sustentável que a gasolina, isto pode indicar que o mercado está atento a um aumento de incentivo do etanol. Logo, estariam se antecipando a esse estímulo se posicionando em papéis da Cosan.

Outro sinalizador importante que beneficiou o setor de etanol e biocombustíveis foi um possível aumento no preço da gasolina nas refinarias, que pode subir entre 5,5% e 6% após as eleições de outubro, já que isto poderia incentivar o consumo de outro tipo de energia, como o etanol. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, inclusive falou no início deste mês que, como todos os anos, o preço da gasolina deverá subir, mas negou a possibilidade de um “tarifaço” no preço do combustível em outubro.

3°) Hering e demais varejistas
Fora do radar eleitoral, ganhou destaque as ações da Cia Hering (HGTX3, R$ 27,99, +32,53%), que lideraram a ponta positiva do Ibovespa em agosto. Com a disparada iniciada desde a divulgação do resultado do segundo trimestre, em 24 de julho, os papéis da varejista atingem agora seu maior patamar desde janeiro de 2014. Somando a alta registrada no fim do mês passado com o balanço, as ações registram ganhos de mais de 38%. 

Embora o mercado tenha avaliado os números da varejista como fracos, mas em linha com o esperado, a surpresa veio com o anúncio, no mesmo dia, de um programa de recompra de 5 milhões de ações em um prazo de 365 dias, podendo ter sinalizado por resultados melhores nos próximos trimestre, apontou o Santander, na ocasião. 

Além dela, outras varejistas ganharam força neste mês, principalmente nos últimos dias por conta da forte correção para baixo nas taxas de juros, uma vez que dependem de linhas de financiamento para alavancar suas vendas. Destaque para os papéis da Le Lis Blanc (LLIS3, R$ 9,10, +27,27%), Lojas Marisa (AMAR3, R$ 18,51, +24,81%) e Grendene (GRND3, R$ 16,25, +23,57%), que subiram mais de 20% no mês. 

4°) Natura 
Também entre os ganhadores do Ibovespa neste mês estão os papéis da Natura (NATU3, R$ 41,01, +16,08%). No noticiário da companhia 
está o anúncio da saída do atual presidente da empresa, Alessandro Carlucci, e a entrada de Roberto Lima, que deve assumir o cargo em setembro – como divulgado ao mercado na terça-feira (19). O mercado pode ter interpretado a troca como positiva, já que Lima deve dar sequência ao trabalho deixado por Carlucci, explicou em entrevista exclusiva ao InfoMoney TV Moacir Salzstein, diretor de governança corporativa da Natura.

Em relatório divulgado na terça-feira (19), o Brasil Plural disse que acredita que a transição poderia resultar em uma empresa mais aberta para implementar mudanças importantes para que a empresa continue gerando valor no longo prazo. “Mais uma vez, acreditamos que a Natura está passando por um período difícil para defender sua posição de líder de mercado no Brasil e talvez tenha buscado alguém mais fresco para sua gestão, menos enraizado na empresa”, disseram os analistas Guilherme Assis, Ruben Couto e Victor Falzoni, do Brasil Plural. Para eles, a vasta experiência de Roberto Lima no conselho de administração da Natura e em várias outras empresas (tendo sido presidente da Vivo – antiga Telesp Celular) ressalta a sua capacidade de circular por várias áreas, o que poderia ser útil para a Natura.

5°) JBS e Marfrig
As ações do setor de frigoríficos subiram forte neste mês, tendo acumulado, só durante esta semana, ganhos de mais de 10%. As altas estão em meio à notícia de que o primeiro-ministro da Rússia, Dmitri Medvedev, assinou um decreto que pode viabilizar exportações adicionais de carnes bovina e de frango do Brasil para o país. A medida impulsionou as exportadoras de alimentos da Bovespa: é o caso da Marfrig (MRFG3, R$ 7,60, +14,80%) que acumulou a maior alta dentre as ações do Ibovespa no ano (+90%), e da JBS (JBSS3, R$ 10,12, +21,20%), que sobem quase 17% em 2014. Ontem os papéis MRFG3 estavam no seu maior patamar desde julho de 2013, enquanto os JBSS3, no maior patamar desde novembro de 2009.

A medida estabelece que os países atingidos pelo embargo – uma retaliação às sanções impostas à Rússia por causa do conflito na Ucrânia – têm até 1º de setembro para preencher suas cotas para vender ao mercado russo. Se não conseguirem, o governo russo passará então a fornecer licença de importação para outros países, não submetidos à retaliação imposta por Moscou. O Brasil atualmente já é o que mais exporta à Rússia, sendo responsável por 54% do fornecimento estrangeiro para o país. No começo deste mês, Moscou proibiu a importação de todas as carnes, pescado, lácteos, frutas e vegetais originários dos EUA, países da UE, Canadá e Austrália. Desde então, o governo vem bloqueando também tentativas de contornar o embargo.

– Entre as quedas

1°) Vale e siderúrgicas
As ações da mineradora Vale (VALE3, R$ 29,12, -10,54%; VALE5, R$ 25,97, -10,85%) sofreram neste mês com a queda nos preços do minério de ferro – principal produto da companhia. A commodity segue em queda, atingindo US$ 87,90 a tonelada, o que representa desvalorização de 35% no ano. Em relatório de ontem, a Planner Corretora comentou que a queda dos preços do minério vai impactar o resultado da Vale e, por isso, cortaram o preço justo dos papéis de R$ 36 para R$ 33, mas manteve a recomendação de compra.

Uma das empresas com maior participação no Ibovespa vivencia um momento completamente diferente do índice. Nesse cenário, fica a pergunta: o que acontece com a Vale na Bovespa? O analista da Ativa Corretora, Lenon Borges explica que é complicado afirmar que os investidores estão “trocando” a Vale por ativos mais expostos às ao noticiários eleitoral tentando buscar um retorno rápido de investimento. Embora ele argumente que não há como provar essa tese, ela mostra-se bem possível já que a Bolsa neste momento não está seguindo nenhum fundamento, apenas as especulações políticas – na prática: como o dinheiro não é infinito no mercado, os investidores posicionados em Vale estão se desfazendo dessa participação e migrando para as empresas mais expostas ao “rali eleitoral”.

Outras companhias do índice que seguiram o mesmo padrão de queda foram a Bradespar (BRAP4, R$ 20,45, -11,09%), holding que detém forte participação no capital da mineradora, e CSN (CSNA3, R$ 9,82, -14,24%). Gerdau Matalúrgica (GOAU4, R$ 15,86, -1,30%) e Gerdau (GGBR4, R$ 12,96, -2,48%) fecharam no negativo mas com queda bem mais amena.

2°) MMX 
Sem surpresas, a MMX (MMXM3) ficou como a pior ação do mês no Ibovespa, com forte queda de 43,45%. No radar da empresa está a divulgação da 3ª prévia do Ibovespa, realizada nesta sexta, que confirmou a saída da companhia do índice – o que já havia sendo indicado desde a segunda prévia.

Além disso, as ações seguem firme e forte como a pior ação de 2014, com perdas no ano de mais de 80%. A companhia vive um mau momento na Bolsa, com noticiário negativo envolvendo possível pedido de recuperação judicial, além de constantes tentativas do grupo de dar fôlego à empresa. Contribuem também para o período constante de queda da empresa a prolongada baixa do minério de ferro e restrições operacionais que a fizeram interromper suas atividades em Serra Azul nesta semana. Em meio à maré negativa, o mercado já espera que a mineradora tenha o mesmo desfecho de outras companhias de Eike Batista como a OGX Petróleo – que se tornou Óleo e Gás Participações (OGXP3).

Ainda no noticiário da empresa, a MMX informou na noite de ontem que Carlos Roberto de Castro Gonzalez renunciou aos cargos de Diretor Presidente e de Relações com Investidores e que o pedido foi aprovado pelo Conselho de Administração da companhia. Com isso, Ricardo Furquim Werneck Guimarães passa a exercer esses dois cargos, acumulando as atribuições do cargo de Diretor sem designação específica, responsável pelos Departamentos Financeiro e Comercial da empresa.

– No meio termo

1°) Teles
Entre poucos ganhos e perdas, o setor de telecomunicações também merece menção neste mês, que teve o noticiário corporativo bastante movimentado. No centro das atenções, a Telefónica, dona da Vivo (VIVT4, R$ 47,85, +5,57%), está prestes a comprar a GVT do grupo francês Vivendi, deixando para trás a proposta feita pela Telecom Italia, controladora da TIM (TIMP3, R$ 12,55, +4,41%), que entrou na disputa após uma oferta inicial da espanhola no começo de agosto.

Hoje, a Telefónica afirmou que a operação e integração da operadora de banda larga da GVT com negócios no Brasil será rentável desde o primeiro dia, em um acordo que pode proporcionar sinergias mínimas de 4,7 bilhões de euros. Segundo a companhia, a transação deve ser concluída em meados de 2015 e colocará a subsidiária brasileira da Telefónica como a principal operador integrado com a maior quota de mercado em termos de receitas e números de acessos no mercado brasileiro. A oferta da Telefónica pela GVT foi de 7,45 bilhões de euros, dos quais 4,66 bilhões serão pagos em dinheiro e o restante ao equivalente a 12% das ações da empresa combinada.  

Em meio a esse anúncio, apareceu também a Oi (OIBR4, R$ 1,45, -1,36%), que negocia vender 25% na Unitel Angola a acionistas por mais de US$ 2 bilhões, disse uma fonte com familiaridade no assunto à Bloomberg ontem, mencionando a Sonangol e a Isabel dos Santos, filha do presidente da Angola, como possíveis compradores. Em relatório, a equipe do Banco Espírito Santo apontou que a concretização da venda pode elevar o “valuation” da Oi em aproximadamente 6%, o que pode ter um impacto positivo de aproximadamente 12% nas ações.

Vale mencionar que a Oi está no radar dos investidores também por conta do anúncio feito na noite da última terça-feira de que estaria interessada em comprar a TIM da Telecom Italia. Ontem, no entanto, italiana disse que estava “completamente alheia sobre a iniciativa da Oi” em comprar a companhia e que não sabe nada sobre o assunto. Pelo comunicado enviado pela Oi ao mercado na terça-feira, o BTG Pactual atuará como comissário na operação, para, agindo em seu próprio nome e por conta e ordem da Oi, desenvolver essas alternativas para tornar viável sua proposta de compra, que passa por regras e restrições previstas em lei e nas normas e decisões expedidas pela Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) e pelo Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica).