Conteúdo editorial apoiado por
IM Trader

Viva de Bolsa: conheça 3 histórias de quem largou tudo para virar trader

Quem disse que só caçadores de pechinchas e investidores fundamentalistas ganham dinheiro na Bolsa? Conheça "traders" que vivem (com conforto) do lucro com operações de curto prazo

Thiago Salomão

Publicidade

O americano Warren Buffett, o maior investidor da história, tem como principal estratégia comprar ações de empresas sólidas por preços depreciados e aguardar, muitos anos se for preciso, até que as cotações voltem a se recuperar. No Brasil, Luiz Barsi, que tem cerca de R$ 1 bilhão na Bovespa, procura aplicar dinheiro em ações em momentos de crise, de olho, principalmente, nos dividendos que serão distribuídos ao longo do tempo. E entre os analistas técnicos, quem reconhecidamente ficou bilionário com esse tipo de estratégia? Existe “trader” rico do Brasil?

Como “traders” bem-sucedidos não costumam estampar páginas dos principais jornais e revistas do país, muita gente experiente no mercado acredita que, com operações de curto prazo, só ganha dinheiro quem promove cursos ou escreve livros sobre o assunto. Existe praticamente um consenso de que alguém até pode ganhar muito dinheiro durante algum tempo realizando dezenas ou centenas de operações em Bolsa em breves espaços de tempo, mas isso não é sustentável. Uma hora ou outra, as perdas que (certamente) virão serão suficientes não apenas para anular os ganhos obtidos no passado como também poderão transformar o resultado geral em prejuízo.

A Revista InfoMoney buscou encontrar “traders” de sucesso no mercado e, ainda que não tenha achado nenhum bilionário como Barsi ou Buffett, identificou gente que vive com conforto apenas com o lucro gerado por suas operações. São pessoas que abriram mão de ter um emprego formal com salário fixo para viver dos rendimentos obtidos com aplicações financeiras. A profissão tem algumas vantagens que saltam aos olhos, como horários mais flexíveis, inexistência de chefe e possibilidade de trabalhar por conta própria em qualquer lugar com um computador ligado à internet rápida e com ferramentas de informações financeiras.

Mas, em geral, a vida de “trader” está longe de ser uma moleza. Haverá momentos de estresse em que o profissional passará o dia com os olhos colados em diversos terminais de informação em busca de uma oportunidade, terá de encontrar formas de gerenciar os riscos do mercado de renda variável e vai aprender, na prática e da pior maneira possível, a lidar com a dor gerada por operações que deram prejuízo.

Após trabalhar por cinco anos como atuário em um grande banco, Rodrigo Santoro, de 35 anos, decidiu mergulhar na vida de “trader” no final de 2012 – até agora com ótimos resultados. “Mudei para o mercado financeiro porque buscava, acredite, uma melhor qualidade de vida.” No antigo emprego, a vida pessoal foi aos poucos sendo substituída pela profissional, algo que não acontece mais agora. Santoro diz que se desliga do trabalho enquanto o mercado está fechado.

Seu primeiro contato prático com a Bolsa foi pela análise técnica. Após pegar gosto, resolveu fazer um curso de formação de “traders” e, ao conhecer outras pessoas que “viviam de mercado”, começou a ficar cada vez mais interessado. Foi então que decidiu largar a carreira no banco para se dedicar à nova profissão. Ele ficou um ano no “centro de treinamento” da Interfloat – uma corretora especializada em atender investidores com perfil de “trader”. Há seis meses, opera por conta própria em uma mesa alugada na corretora. “Do momento em que eu comecei até hoje, tenho tido um retorno médio superior ao salário como atuário.” Mas não faltaram percalços e operações malsucedidas. Aprendi muito com os erros. Mantive a calma, revi minha estratégia para saber o que fiz de errado e corrigi.”

A principal armadilha foi o mercado de opções, conhecido cemitério de investidores que sonham em obter um lucro extraordinário em uma única operação, mas que acabam sem nada. “Hoje opero só ações. O ganho é menor, mas é muito mais seguro.” Precavido, o investidor também passou a direcionar em média 25% de seus lucros mensais a fundos de renda fixa e renda variável. Além disso, ele mantém em carteira algumas ações do Itaú e da Itaúsa (holding de investimentos do Itaú) como estratégia de longo prazo.

Mais experiente, o “trader” Bruno Lazzarato, de 30 anos, praticamente nasceu no mercado financeiro. Filho de um ex-operador de pregão com 45 anos de atividade, Lazzarato começou a operar com o pai aos 17 anos e, um ano depois, começou a fazer negociações por conta própria. Sua forma de operar é baseada apenas em acompanhar o livro de ofertas e o “times & trades”, uma ferramenta que monitora todas as operações com cada papel. Para ele entrar em uma operação, é necessário que o retorno esperado seja no mínimo igual ao dobro da perda que estaria disposto a ter. “Nunca perdi dinheiro na bolsa em um mês cheio. Às vezes fiquei muito perto do zero, mas nunca no negativo. Consigo pagar as minhas contas e viver bem”, afirma o “trader”.

Professor de “day trade” com ações, Lazzarato dá dicas bastante simples a quem sonha ingressar na profissão: sempre culpe a si mesmo pelos erros, e não o mercado; corrija a estratégia assim que identificar onde errou e coloque as mudanças em prática nas operações seguintes; e mantenha a calma. “Mercado tem todo dia, sempre dá para recuperar [uma perda]”, diz. Arrojado, ele mantém todo dinheiro que possui em renda variável. “Se é pra ganhar 1% ao mês deixando meu dinheiro imobilizado no banco, prefiro eu mesmo buscar esse retorno na Bolsa.” 

Já Andre Machado abandonou um cargo de executivo-sênior na Microsoft para viver o céu e o inferno no mercado. O investidor conta que já chegou a ganhar na Bolsa em um mês quatro vezes mais do que ganhava como executivo. Sua primeira experiência foi em 2002, quando recebeu um bônus gordo da Microsoft e aplicou tudo em ações do Itaú mesmo sem entender muito de mercado. Deu certo: os papéis do banco se valorizaram muito, assim como toda Bolsa naquela época. Logo ele foi atrás de cursos de análise técnica e, pouco tempo depois, largou o cargo na Microsoft. Durante um ano inteiro, operou com opções da Telemar (hoje Oi), até que, em 2005, simplesmente “quebrou” com esses papéis. “Foi um dos piores momentos da minha vida. Minha mulher estava grávida e fez todo o pré-natal no hospital Albert Einstein. Como eu não tinha mais nada, ela teve que dar à luz em um hospital público.”

Sem alternativa, ele teve que abandonar a Bolsa e voltou ao mercado de trabalho. Em 2008, com a situação financeira restabelecida, regressou à Bovespa, mas desta vez longe das opções. É curioso notar que enquanto milhares de brasileiros perdiam dinheiro na Bovespa em 2008 devido à crise do subprime, Machado alcançava a redenção. “Foi o ano em que mais ganhei dinheiro na vida. Peguei quase todos os ‘circuit breaks’ [as pausas automáticas do pregão quando o Ibovespa cai 10% em um dia] vendido em ações da Vale”, diz.

Machado, que hoje também dá aulas de análise técnica na BM&FBovespa, chegou a importantes conclusões. A primeira é que a análise técnica funciona, mas o grande problema muitas vezes está no próprio “trader”. “O lado emocional e a ansiedade de querer ganhar dinheiro e de operar o tempo todo são destrutivos.” Para que opere com mais tranquilidade em Bolsa, ele também concluiu que primeiro a família deve ter uma casa própria. “Ainda acho um péssimo investimento deixar imobilizado uma quantia enorme de dinheiro em um imóvel, quando você pode investir isso. Mas percebi que a certeza de que minha mulher e meus filhos têm um teto garantido faz minhas operações fluírem melhor.”

Rodrigo Santoro: 35 anos, 1 ano e meio operando na Bolsa. Foi atuário por cinco anos em um banco e migrou para o mercado financeiro em busca de qualidade de vida. “No meu trabalho antigo eu não tinha vida pessoal, ficava o tempo todo respondendo email fora do expediente e minhas férias eram tão trabalhosas quanto o período regular”.

Primeiro contato com o mercado: administrava reservas matemáticas de mega fundos do banco em que trabalhava, dividindo os percentuais que seriam usados para investir. “Comecei a perceber que os fundos de renda variável davam muito mais que a renda fixa, então fui atrás por curiosidade”.

Primeira prática: “conheci a análise técnica, fui brincando e gostei. Comecei a ver que era possível viver disso. Fiz o curso de formação de ‘traders’, daí comecei a conhecer pessoas que viviam de mercado. Fui aos poucos entrando no mercado – e saindo do banco. Deixei meu emprego e treinei por um ano. Depois disso, aluguei uma mesa na Interfloat, onde atualmente opero”.

Resultados: do momento em que eu começou até hoje, ele tem tido um retorno médio superior ao salário como atuário. 

Lições: “aprendi muito com os erros. Percebi que muitas vezes você vai errar mais do que acertar, mas a lição é fazer com que os acertos valham muito mais a pena. Mantive a calma, revi minha estratégia para saber o que fiz de errado e corrigi; em momento algum pensei em largar essa vida de trader para voltar ao meu emprego antigo, eu gosto muito disso. Hoje opero praticamente só ações; de vez em quando faço algo com futuro”.

O que faz para proteger o capital? do lucro que eu tenho, eu distribuo cerca de 25% em algum fundo de renda fixa ou de ações. Também tenho ações do Itaú Unibanco e da Itaúsa em carteira com viés mais para o longo prazo; mas como todo trader, eu sempre dou uma verificada nelas para ver se não abriu um ponto de venda.

Dá pra ser rico vivendo de trade? Ainda não sou, mas acredito que chegarei lá. Com disciplina e dedicação, eu chegarei.

Bruno Lazzarato, 30 anos, trader faz 12 anos (nunca trabalhou). Seu pai trabalhou por 45 anos no pregão.

Primeiro contato com o mercado: Aos 17, começou a trabalhar com o pai e aos 18 começou a ser trader por meio da Lerosa Corretora. Em 2005, foi morar em Jacareí e passou a operar de casa. Em 2009 foi para a Interfloat. Aventurou-se como agente autônomo em 2011, mas começou a se atrapalhar nos trades e voltou o foco apenas em operar. Em 2013 foi chamado para dar aulas de day trade sobre ações. Hoje dá cursos e coaching de análise técnica.

Método: opera somente via book ou times & trades (ferramenta que monitora todas as operações com cada papel, bem como os maiores compradores e vendedores da ação). “Sempre opero buscando a razão 2:1, ou seja, só entro em um trade se o retorno esperado é o dobro da perda que eu estou disposto a ter”.

Resultados: “nunca perdi dinheiro na bolsa em um mês. Às vezes fiquei muito perto do zero, mas nunca no negativo. Consigo pagar as minhas contas e viver bem. Em 22 dias úteis por pregão, perco em média em 3 ou 4 dias, e sempre respeitando a razão 2:1”.

Lições: “quando perder, coloque em mente que a culpa nunca é do mercado. Você tem que saber o que fez de errado e mudar para os próximos trades. Mercado tem todo dia, sempre dá para recuperar”.

O que faz para proteger o capital? Nada. “Estou 100% em bolsa e tudo que eu ganho deixo a corretora. Assim, estou sempre líquido. Além disso, se é pra ganhar 1% ao mês deixando meu dinheiro imobilizado na mão do banco, prefiro eu mesmo buscar esse retorno na Bolsa”.

Dá pra ser rico vivendo de trade? Com certeza. Um dia eu chegarei lá!

Andre Machado, 46 anos, professor titular de Análise Técnica da BM&FBovespa:

Primeiro contato com o mercado: em 2002, era executivo-sênior da Microsoft e cuidava diretamente do Itaú. Apóg ganhar um bônus violento por conta de um negócio com o banco, colocou todo o dinheiro ganho em ações do Itaú: deu certo. Acertou logo depois outro trade “all win” com Copel.

De “quebrado” para o sucesso: Depois de uns cursos de análise técnica, começou a operar apenas opções da Telemar – na época uma das mais líquidas da Bolsa. Quebrou em 2005 com essas operações, o que o fez voltar a trabalhar. Voltou para a Bolsa anos depois e ganhou muito dinheiro em 2008. “Foi o ano que eu mais ganhei dinheiro na vida, operando vendido durante a crise do Subprime. Peguei quase todos os circuit breaks vendido em ações da Vale”.

Lições: “a análise técnica realmente funciona. O que não funciona muitas vezes é o trader. O lado emocional, a ansiedade de ganhar dinheiro e de operar o tempo todo são comportamentos naturalmente destrutivos no mercado. Seja muito rígido no gerenciamento de risco e não tenha pressa demais para ganhar”

Como protege capital? Desde 2011, 20% do lucro diário é usado para comprar ações da AmBev.

Resultados: “já cheguei a tirar em um mês 4 vezes o que ganhava na Microsoft. A lição que eu dou é: não tenha pressa.

Essa matéria foi publicada na edição 50 da revista InfoMoney, referente ao bimestre maior/junho de 2014. Para tornar-se um assinante da revista, clique aqui.

Thiago Salomão

Idealizador e apresentador do canal Stock Pickers