Resultados de 3 empresas, Petrobras e mais 2 notícias agitam a noite desta 3ª

Entre os destaques, a Moody's divulgou um relatório criticando o uso político da Petrobras; funcionários do Grupo Randon aprovaram flexibilização da jornada de trabalho

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – Em mais uma noite agitada, após o fechamento do pregão desta terça-feira (29), 3 empresas divulgaram seus resultados do segundo trimestre deste ano, sendo elas a Souza Cruz, Odontoprev e Cielo. Além disso, um relatório da Moody’s falando sobre o uso político da Petrobras também chamou atenção. Vejas os destaques da noite:

Petrobras
O uso político da Petrobras (PETR3; PETR4) para segurar a inflação, com o congelamento de preços de combustíveis, representa um forte obstáculo para a rentabilidade da companhia e um elevado risco aos investidores. O contundente alerta foi emitido nesta terça-feira, 29, pela agência de classificação de risco Moody’s, reforçando a desconfiança do mercado com a condução da estatal. O relatório também reforça a pressão pelo aumento da produção da companhia, condição para aliviar seu fluxo de caixa a partir de 2017 “na melhor das hipóteses”.

Após a divulgação do relatório, as ações da companhia fecharam em queda superior a 2% na Bolsa de Valores. A análise encaminhada aos investidores abordava a deterioração do crédito para as estatais de petróleo da América Latina. No cenário, a brasileira figura como a companhia com as menores margens de lucro operacional, o maior saldo devedor, os maiores custos de produção, além de “substanciais riscos políticos”.

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“O governo utiliza rotineiramente a empresa para ajudar a cumprir os seus objetivos políticos como, por exemplo, a construção de refinarias em regiões não econômicas, para estimular seu desenvolvimento, e o controle da inflação, mantendo os preços da gasolina e do diesel abaixo do valor de mercado”, indica o relatório assinado pelas analistas Nymia Almeida e Kijana Mack.

Para a Moody’s, a desaceleração econômica do País levou o governo a “depender mais pesadamente da Petrobras para controlar a política econômica”. A estatal estaria “cerceada” também em seu Conselho de Administração, formado majoritariamente por executivos indicados pelo governo.

Segundo o relatório, um pedido de reajuste dos combustíveis foi negado em junho. Fontes próximas ao conselho confirmaram o pedido, tema considerado `recorrente’ no colegiado.

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“Os preços domésticos para a gasolina e diesel, que variaram entre 10% a 20% abaixo do preço internacional (dependendo da taxa de câmbio), coloca um obstáculo significativo na rentabilidade da Petrobras”. A continuidade desta política, segundo o relatório, terá forte impacto sobre a área de refino e abastecimento, que já registrou perdas de R$ 4 bilhões no primeiro trimestre.

Na comparação com empresas da Venezuela, Argentina, México e Colômbia, a estatal brasileira também sai perdendo nos indicadores econômicos, como os níveis de endividamento e alavancagem, além do pagamento de lucros. “Todas as empresas que estudamos, exceto a Petrobras, têm fortes indicadores de lucros antes de impostos”, indica o relatório.

Para a Moody’s, os níveis de endividamento da Petrobras vão continuar a subir até 2016 e que uma melhora sustentável no fluxo de caixa da companhia ainda está “a alguns anos de distância, na melhor das hipóteses”. A situação não é pior pois a estatal possui bom caixa, com US$ 35 bilhões registrados em março, e assim consegue boa cobertura das dívidas.

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Ainda assim, a análise reforça a pressão sobre o aumento da produção, uma vez que condiciona um melhor fluxo de caixa e redução de indicadores de alavancagem ao sucesso do pré-sal. “A empresa continuará a gastar dinheiro e levantar quantias substanciais de dívida até que a produção do pré-sal comece a gerar significativo fluxo de caixa em 2016 e 2017.”

Apesar da ressalva, a Moody’s destaca o crescimento esperado para a produção da empresa, entre 5% e 10% anualmente, até 2017, atingindo um total de 3 milhões de barris de óleo equivalente por dia. O problema, segundo a Moody’s, são os riscos e os altos custos operacionais relacionados à exploração em águas profundas.

“A produção offshore da companhia pressiona suas margens, enquanto a depreciação do real, a inflação e os custos brasileiros de equipamentos, serviços e mão de obra restringem a rentabilidade”, indicam as analistas. “Mas esperamos que a taxa de aumento de custos desacelere com as iniciativas de cortes da empresa”, completa.

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Procurada, a estatal informou que não comenta avaliações de agências de classificação de risco. O relatório analisou a situação da Ecopetrol, sediada na Colômbia, da PDVSA, da Venezuela, a mexicana Pemex e ainda a YPF, da Argentina. Os destaques foram para a Colômbia, com estabilidade regulatória e boas condições fiscais, e para o México, que corre para abrir seu mercado a investidores estrangeiros.

A Moody’s ressalta que nos próximos dois anos, as cinco empresas estatais gastarão mais de US$ 100 bilhões anualmente para financiar seus projetos. “As companhias vão usar dívidas para financiar esses programas agressivos de investimento, colocando riscos adicionais aos seus investidores”, alerta a agência.

Souza Cruz
A fabricante de cigarros Souza Cruz (CRUZ3) teve lucro líquido de R$ 392,9 milhões no segundo trimestre, queda de 9,8% na comparação anual. A receita líquida caiu 4,9% na mesma base de comparação e encerrou junho em cerca de R$ 1,48 bilhão. O recuo foi pressionado pela diminuição de 30,7% na receita líquida de tabaco para exportação, disse a empresa.

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“A expectativa é de que haja desaceleração na queda de volume de tabaco exportado no segundo semestre de 2014 quando comparado com o primeiro semestre de 2014”, acrescentou a Souza Cruz.

Segundo a companhia, a queda no volume exportado ocorreu diante de alteração no plano de embarque da British American Tobacco, que tinha alertado anteriormente que iria acelerar volumes em 2013.

“Apesar da diferença temporária que impactou o embarque de tabaco esse ano, o volume comprometido de compra da safra de 2014 pelo grupo BAT é maior do que o ano anterior”, afirmou a Souza Cruz no balanço. A empresa acrescentou que fechamentos temporários dos principais portos no sul do Brasil (Itajaí/Navegantes) em junho também impactaram as vendas externas.

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O Ebitda (sigla em inglês para lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização) foi de R$ 637,3 milhões, queda de 6,9% sobre 2013. A empresa afirmou que a marca “premium” de cigarros Dunhill teve alta anual 1,2 ponto percentual em sua fatia de mercado, para 11,6 por cento em junho. Lucky Strike manteve-se estável, com 1,3%, Free recuou 0,2 ponto percentual, para 14,1%. Já a Hollywood teve queda de 0,5 p.p., para 12,6%.

Cielo
Outra empresa a prestar contas com seus investidores na noite desta terça foi a Cielo (CIEL3), que apresentou ao mercado seu balanço referente ao exercício do segundo trimestre de 2014. Conforme informou a companhia, a receita líquida obtida entre abril e junho foi de R$ 1,84 bilhões, o que equivale a uma alta de 13,6% em comparação com o mesmo período do ano passado.

Já o Ebitda (Lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização) marcou R$ 955,5 milhões no segundo trimestre, uma elevação de 9,3% em comparação com o mesmo período do ano passado. Enquanto isso, a margem (Ebitda/receita) caiu de 54% para 51,9% no mesmo comparativo.

O lucro líquido obtido pela companhia entre abril e junho de 2014 foi de R$ 796,8 milhões, cifra que equivale a um crescimento de 25,9% em comparação com o mesmo período do ano passado.

Odontoprev
Dando continuidade à temporada de resultados corporativos, a noite desta terça-feira (29) marcou a vez da Odontoprev (ODPV3) prestar contas com seus investidores. Conforme informou a companhia, a receita obtida no segundo trimestre foi de R$ 283,24 milhões, o que corresponde a uma alta de 7,7% em comparação com o mesmo período do ano passado. O lucro líquido, por sua vez, cresceu 21,4%, ao bater na cifra de R$ 47,78 milhões. 

“A expansão da receita é determinada principalmente pela disciplina de reajustes em todos os segmentos. A maior lucratividade acompanha efeito sazonal, intensificado pela Copa do Mundo, e evidencia os contínuos ganhos da unificação dos processos de gestão da rede de prestadores e eficaz controle de custos da empresa”, escreveu o CEO (Chief Executive Officer) da companhia, Mauro Figueiredo, em relatório que acompanha o balanço.

Já o Ebitda (Lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização) ajustado ficou em R$ 76,88 milhões entre abril e junho de 2014, 23,9% acima na comparação anual. Acompanhando este expressivo crescimento, a margem Ebitda (Ebitda/receita) também apresentou melhora ao saltar de 23,6% para 27,1% no mesmo comparativo.

Após a apresentação dos resultados, a companhia anunciou o pagamento de R$ 39,11 milhões, valor que equivale a R$ 0,073610904 por ação, a ser efetuado a partir de 3 de setembro. Os papeis serão negociados ex-dividendos (ou seja, não garantirão a remuneração do acionista que adquirir a ação a partir desta data) a partir de 30 de julho.

Indústrias Romi
A fabricante de máquinas e ferramentas Romi (ROMI3) anunciou nesta terça-feira programa de recompra de cerca de até 8 por cento de suas ações em circulação no mercado, ou cerca de 3 milhões de papéis.

A companhia também informou que encerrou o segundo trimestre com prejuízo líquido de R$ 722 mil ante resultado positivo um ano antes de R$ 5,13 milhões, em meio à fraca performance do setor industrial brasileiro que fez a receita da companhia cair abaixo da média histórica.

A Romi apurou faturamento líquido de R$ 143,6 milhões no segundo trimestre, queda anual de 5,2%. A geração de caixa medida pelo lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) somou R$ 10,1 milhões, 13,8% abaixo do obtido um ano antes.

Randon
Os funcionários de seis empresas do Grupo Randon (RAPT4), de Caxias do Sul, aprovaram a flexibilização da jornada de trabalho proposta pelo conglomerado como medida de adequação à retração do mercado, em votações feitas nesta terça-feira, 29. De agosto a outubro, cerca de 8 mil trabalhadores terão folgas de até quatro dias por mês, adicionais às regulares, de acordo com a necessidade de cada indústria. As empresas descontarão dos salários o equivalente a 50% do período parado e abonarão os 50% restantes.

A Randon divulgou nota na qual explica que a flexibilização está vinculada “à atual instabilidade do mercado nacional, que afeta diretamente a área de transporte de cargas e aquisição de caminhões e, em decorrência, o fornecimento de reboques e semirreboques, além da cadeia de autopeças dedicada ao setor”.

As empresas que adotarão a flexibilização são a Randon Implementos Caxias do Sul, Randon São Paulo, Suspensys, Castertech, Master e Jost Brasil. Como não enfrentaram queda de demanda, a Fras-Le e a Randon Veículos não recorreram à medida.

No primeiro semestre do ano, a receita líquida consolidada do Grupo Randon chegou a R$ 1,98 bilhão, valor 2,6% inferior ao do mesmo período de 2013. Dados consolidados pela Associação Nacional dos Fabricantes de Implementos Rodoviários (Anfir) indicam que, no Brasil, o emplacamento de reboques e semirreboques caiu 10% na comparação entre os mesmos períodos, de 32.010 para 28.633.

Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.