FT: novas bolhas estão se formando e geram preocupação, mas há motivo para pânico?

Colunista do FT ressalta que o mercado de crédito imobiliário nos EUA não está tão sujeito à crises como a de 2008, mas outros setores devem ser monitorados com atenção, uma vez que também podem causar estragos à economia

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Com o bom desempenho das bolsas norte-americanas, o mercado já vê indicações de que uma bolha está prestes a acontecer. Com grandes autoridades mundiais, como ex-presidente do Federal Reserve, Alan Greenspan, voltando a falar sobre o assunto, como em entrevista ao Market Watch, ao dizer que bolhas são parte da natureza humana e que não há fim delas sem dor, o assunto voltou novamente à tona.

Desta forma, o colunista do jornal britânico Financial Times, John Authers, destaca que, depois de todas as bolhas das duas últimas décadas, é tentador tentar encontrá-las em toda parte. Mas, mesmo com as ações em alta, é difícil chamar esse movimento de bolha. “As baixas taxas de juros empurram os investidores de ações, mas o entusiasmo selvagem que acompanhou as clássicas bolhas da história está ausente”. 

Por outro lado, as próximas bolhas parecem estar se formando no mercado de crédito, destaca Authers. A classe de ativos que levou à crise financeira em 2008, foi inflada novamente, pela mesma mistura inebriante de ingredientes.

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Porém, as repercussões para a economia devem ser muito menos grave do que eram após o estouro da bolha imobiliária dos EUA; em compensação, a tendência ainda é alarmante. 

“O lugar mais preocupante para procurar [bolhas] é no financiamento de automóveis dos Estados Unidos, diz Authers, citando o co-autor do livro House of Debt, Amir Sufi, da Universidade de Chicago. Ele mostrou como a Grande Recessão de 2008 e 2009 foi impulsionada por uma queda nos preços dos imóveis norte-americanos que infligiram perdas alavancados, e não pela crise bancária subsequente.

As perdas alavancadas foram impulsionadas por empréstimos excessivos em meio ao crédito subprime que, por sua vez foi incentivado pelo aumento da securitização e da necessidade de oferecer produtos de baixo risco, com um alto rendimento. Porém, para Sufi, não há a repetição da patologia observada no mercado imobiliário, mesmo com a alta dos preços das casas observada recentemente. 

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Os gastos com eletrodomésticos e móveis cresceram muito menos do que os gastos como um todo ao longo dos últimos cinco anos. E o uso de “casas como caixas eletrônicos” para segundas hipotecas é mínimo, em apenas um quinto da taxa observada antes da crise de crédito. Portanto, ao contrário do boom da década passada, o recente aumento dos preços das casas não tem estimulado o crédito em excesso. 

Porém, há um outro perigo de bolha nos EUA: no mercado de financiamento de veículos, em que parece que os credores estão encenando uma repetição da crise de crédito. As vendas através de empréstimos subprime foram maiores no ano passado do que em 2007. E estas vendas despencaram em 2009, para atingir o nível mais baixo em dez anos; desde então, a recuperação posterior tem sido fundamental para revigorar a economia, aponta Sufi.

O autor destaca que as vendas norte-americanas de carros novos nos primeiros quatro meses deste ano aumentou duas vezes mais rápido nos distritos com histórico pior de crédito do que nas áreas onde a população tem melhor histórico. Vale ressaltar que o boom de empréstimos para financiamentos de veículos pode não ter tanto impacto quanto a bolha imobiliária nos EUA, já que as somas envolvidas são muito menores e as pessoas não esperam que os preços dos carros aumentem de valor, pelo contrário. 

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Mas ainda há razão para temer que um estouro da bolha de automóveis teria consequências econômicas graves, uma vez que é um dos motores para o crescimento econômico. Os problemas de crédito não estão limitados a empréstimos de carro. Jan Loeys, estrategista-chefe de mercado do JPMorgan, sugere que futuras bolhas aparecem frequentemente em classes de ativos que têm se expandido muito rápido citando, por exemplo, a dívida dos emergentes. 

Tendo em vista este cenário, o colunista do Financial Times conclui o seu pensamento ao destacar que o crédito deve enfrentar um longo caminho até finalmente alcançar a dimensão do problema de 2007. “Mas alguns setores estão borbulhando e devem causar preocupação”, aponta. 

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.