Gaza, Ucrânia? Porque o mercado não se abalou com os conflitos espalhados pelo mundo

Conforme aponta colunista do Market Watch, conflitos já não representam uma ameaça tão grande quanto no período da Guerra Fria e mercado está mais de olho na atuação dos BCs

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Na semana passada, um avião que transportava cerca de 300 pessoas é abatido em uma das fronteiras mais sensíveis do mundo. Enquanto isso, Israel ataca Gaza, reacendendo as feridas mais profundas no Oriente Médio e provocando outro conflito regional. Por outro lado, outro conflito ameaça novamente o Iraque. 

Não faltaram fatos preocupantes no mundo inteiro sobre dramas ou conflitos geopolíticos. Mas, como os mercados financeiros reagiram? Conforme ressalta o Market Watch, os movimentos não foram tão expressivos, esboçando pouco qualquer reação. “É como se nada de significativo tivesse acontecido”, afirma o colunista Matthew Lynn. 

Para Lynn, há uma mensagem interessante nisso. “Os mercados não estão mais interessados ??no que acontece no resto do mundo. Os dias em que a geopolítica poderiam afetar os preços das ações, títulos, commodities ou moedas de forma significativa foram para o passado”. 

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Segundo ele, há dois motivos para isso. Em primeiro lugar, não existem quaisquer guerras ou revoluções que possam mudar drasticamente as perspectivas para a economia global. Segundo, porque os mercados estão, atualmente, muito mais de olho nas medidas de flexibilização monetária dos principais bancos centrais pelo mundo, como BCE (Banco Central Europeu) e Federal Reserve que qualquer outra coisa parece trivial. 

De qualquer maneira, aponta Lynn, os investidores estão se dando ao luxo de ignorar a guerra e a política no momento em que estão estruturando a carteira. O colunista ressalta que o declínio do interesse dos mercados financeiros no que está acontecendo ao redor do mundo tem se evidenciado faz algum tempo.

A Primavera Árabe, que viu cair os governos em todo o Oriente Médio foi, provavelmente, a última revolta a trazer qualquer impacto real. Por outro lado, também ficou restrita a índices menos expressivos, como no caso do Egito, “e eles não contam para muito para o cenário global”. 

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Descaso notável
Mas este “descaso” tem sido particularmente notável este ano. A anexação da Crimeia pela Rússia marca o primeiro grande redesenho das decisões nacionais no continente europeu em muitos anos, o que pode levar a um novo período de conflito entre a Rússia e a Europa Ocidental. 

Da mesma forma, afirma Lynn, as revoltas no Iraque poderiam facilmente resultar na criação de um estado islâmico terrorista em um país com as maiores reservas de petróleo do mundo e que, há apenas dez anos, foi considerado tão importante estrategicamente que fez os EUA invadir o país. 

Enquanto isso, a tensão entre israelenses e os palestinos não trouxe quase nada de novo: a invasão de Gaza é apenas a mais recente de uma história longa e amarga do conflito. Mesmo assim, continua a ser uma das regiões mais disputadas do mundo e uma ação militar ameaça um problema ainda maior à frente. 

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Mas, não muito tempo atrás, os eventos geopolíticos traziam fortes oscilações no mercado financeiro. Após os ataques de 11 de setembro de 2001 nos EUA, os mercados acionários caíram drasticamente. A invasão do Kuwait pelo Iraque provocou uma onda de venda, e os conflitos da década de 1970 do Oriente Médio levou o preço do petróleo a subir, enquanto o mercado de ações caiu.

Eventos como vimos na semana passada são vistos com suprema indiferença. No ápice dos temores internacionais, as bolsas norte-americanas chegaram a registrar perdas, mas logo se recuperaram na sessão seguinte. O índice de Moscou, por sua vez, teve vendas mais pesadas devido às sanções importas pelos EUA, mas não teve uma queda muito mais longa se levado em conta um prazo mais longo. 

As explicações
As duas explicações para isso é que, num mundo pós Guerra Fria, nenhum desses conflitos regionais locais realmente conta muito. Nada do que acontece na Ucrânia tem um impacto significativo sobre o comércio global, com uma economia pequena. “Se há caos ou guerra civil, as multinacionais não estarão fazendo menos dinheiro do que antes”, destacou Lynn.

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O mesmo vale para o Iraque e para os outros lugares de potencial conflito. Até mesmo o Oriente Médio vem perdendo a sua importância na economia global, sendo o petróleo o único produto que importa. Mas, com o desenvolvimento de novas fontes de energia, até ele está perdendo a importância.

A segunda razão apontada por ele é que os mercados se dissociaram do mundo real uma vez que, ao longo dos últimos cinco anos, os investidores foram guiados pelas decisões de juros e injeção de capital conduzidas pelos bancos centrais. “Enquanto o Fed e o BCE mantiver a alta liquidez, os mercados vão subir, independentemente do que acontece em outros lugares”. 

Nada do que acontece no mundo parece importar muito, a não ser que haja um conflito entre Japão e China ou um colapso da União Europeia. “Mas a menos que seja algo tão grande – e esses dois exemplos parecem muito improváveis – os investidores podem parar de se preocupar com as manchetes mundiais. Nenhum deles vai ter impacto em sua carteira”, afirmou.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.