Azar no jogo, sorte na Bolsa: estatais e bancos ganham R$ 25 bi com vexame do Brasil

Petrobras sobe mais de 5%, mas analistas divergem se efeito da eliminação do Brasil será sentido nas eleições em outubro

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – Apesar da revolta e da tristeza com a goleada sofrida pelo Brasil na última terça-feira (8) pela semifinal da Copa do Mundo, há quem esteja comemorando o resultado da partida. Mesmo com a Bolsa fechada, ontem os ADRs de empresas brasileiras listadas no exterior registraram fortes ganhos, cenário que se repetiu nesta quinta-feira no Ibovespa. Companhias estatais e bancos subiram forte e sustentaram a alta do índice neste pregão.

Apesar das diferentes opiniões, circula no mercado a tese de que essa forte alta dos ativos de estatais e bancos está diretamente relacionado com a queda da seleção, com alguns analistas afirmando que isso irá se refletir nas pesquisas eleitorais. Vale lembrar que o mercado tem mostrado grande “indisposição” com as políticas do atual governo, o que leva a Bolsa a registrar ganhos sempre que Dilma cai nas pesquisas.

Na última semana, o Datafolha mostrou alta de 4 pontos percentuais para a atual presidente seguindo exatamente o bom humor dos brasileiros com a Copa do Mundo. “A melhora da aprovação do governo Dilma nas últimas pesquisas, impulsionada pela performance da seleção em campo deve ser revertida”, afirmou a Nomura em nota.

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Ontem, os ADRs PBR, que representam as ações ordinárias da Petrobras (PETR3; PETR4), avançaram 3,52%, a US$ 14,98, enquanto os PBR.A, dos papéis preferenciais, subiram 3,54%, a US$ 16,09. Enquanto isso, os recibos EBR, que representam as ações ordinárias da Eletrobras (ELET3; ELET6), subiram 2,08%, a US$ 2,95. Entre os bancos, o destaque ficou com o Itaú Unibanco (ITUB4), +2,89%, a US$ 14,58, e Bradesco (BBDC4), +1,32%, a US$ 14,60.

Essa animação se seguiu nesta sessão. As ações ordinárias da Petrobras fecharam com alta de 5,20%, para R$ 16,98, enquanto os ativos ordinários avançaram 4,27%, a R$ 18,07. Essa forte valorização representa um ganho de R$ 10,62 bilhões em valor de mercado para a petrolífera.

Já a alta de 3,96%, para R$ 26,26, do Banco do Brasil (BBAS3) significou um ganho de R$ 2,86 bilhões de valor para o banco. Ainda dentro do setor, os papéis ITUB4 subiram 4,54%, para R$ 33,17, enquanto o Bradesco viu suas ações ordinárias e preferenciais avançarem 4,21% e 2,96%, respectivamente, para R$ 34,18 e R$ 33,00. Em valor de mercado, os ganhos de Itaú e Bradesco foram de R$ 6,18 bilhões e R$ 4,90 bilhões.

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Copa sem efeito
Apesar do mercado mostrar que acredita neste impacto negativo para Dilma nas pesquisas, muitos especialistas não acreditam neste cenário. “Nossa visão desde o início era de que Brasil ganhando efeito era nulo, perdendo poderia atrapalhar o sentimento do eleitor, ainda mais da forma que ocorreu. Semana que vem tem Ibope e assim, poderemos ver se houve impacto negativo mesmo”, destacou a equipe da XP Investimentos.

Já para Geoffrey Dennis, chefe de estratégia de mercados emergentes do UBS AG, que cobre o Brasil desde o início dos anos 1990, a derrota prejudicará sim as chances de reeleição de Dilma em outubro, mas o resultado desigual ao mesmo tempo pode desferir um golpe na confiança do investidor e do consumidor em um país obcecado por seu esporte nacional, disse ele.

“Trata-se de uma derrota tão humilhante que você fica imaginando se ela terá um impacto negativo sobre a psique dos brasileiros”, disse Dennis, em entrevista para a Bloomberg por telefone. “Isso confirmará para as pessoas que ‘nossa economia está mal, não conseguimos crescer e nem sequer temos uma seleção de futebol decente'”, ressalta.

Para o economista-chefe da Austin Ratings, Alex Agostini, o resultado do Brasil na Copa e o ambiente político podem ser relacionados, mas não diretamente e nem são determinantes para o cenário eleitoral. Segundo ele, ninguém faz uma relação direta entre a derrota do Brasil na Copa e a presidente e, por isso, não há nenhuma comprovação empírica sobre se haverá realmente um efeito.

Porém, os brasileiros devem voltar a recuperar o mau humor que havia no cenário antes da Copa, o que pode resgatar as reclamações sobre os altos gastos do evento em detrimento a investimentos em saúde e educação. “O mercado, obviamente, aproveita a oportunidade para relacionar os fatos”, avalia o economista.

Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.