A crise do setor automobilístico chegou na Bovespa: veja 5 ações prejudicadas

Apesar de Anfavea ver alguma melhora para o segundo semestre, analistas aconselham evitar a exposições em companhias ligadas ao setor

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – Os dados divulgados pela Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) para junho mostraram que o que era ruim para as montadoras ficou ainda pior. Se desde o começo do ano o setor já se mostrava bem fraco, no último mês o resultado atingiu o seu mais baixo nível em 2014.

Além das montadoras, algumas empresas da Bovespa também sofrem com este cenário, principalmente as de autopeças. Mas as siderúrgicas, que já passam por uma fase complicada, também precisam ficar atentas. Para piorar, nem as exportações, que normalmente são utilizadas pelas empresas como uma “válvula de escape” quando o mercado interno se mostra mais fraco, estão ajudando.

Em junho, as vendas para o exterior atingiram US$ 637,4 milhões, valor 43% menor que o registrado um ano antes. No semestre a queda é de quase 27% menor, com US$ 4,5 bilhões. Ou seja, não há por onde escapar.

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Para os analistas da Concórdia Investimentos, o que justifica este cenário é a combinação da crise econômica no principal mercado importador, a Argentina, em paralelo à alta dos juros e elevado nível de comprometimento de renda das famílias, pesou bastante, ainda mais quando comparado com 2013, que segundo eles foi um ano bem forte.

“Apesar dos recentes acordos com o país vizinho e da postergação do reduzido nível de IPI, entendemos que as razões que geram os fracos resultados são muitos mais estruturais e ligados ao fraco desempenho econômico brasileiro, nos fazendo encarar de forma ligeiramente cética para as projeções da Anfavea de expansão para o segundo semestre”, destacaram em relatório.

O impacto nas ações
Com todo o cenário negativo, 5 empresas acabam prejudicadas, mas duas em particular estão diretamente relacionadas com estas notícias: Marcopolo (POMO4) – que fabrica carroceria de caminhões e ônibus – e Randon (RAPT4) – produtora de autopeças. Além delas, as siderúrgicas CSN (CSNA3), Usiminas (USIM5) e Gerdau (GGBR4) também estão expostas a este segmento.

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Marcopolo e Randon acabam sendo as mais impactadas pela queda na indústria. Segundo os analistas da Concórdia, embora ambas ambas tenham notada qualidade operacional e de governança, os fatores externos acabam pesando. Enquanto isso, a equipe da Planner Corretora diz que vê um bom potencial de alta para a Randon, mas que este acaba sendo muito limitado pelo momento do setor. Diante disso, nenhum desses analistas indica exposição à essas ações.

Com a indústria automobilística mostrando fraco desempenho desde que o ano começou, essas empresas acabam refletindo este cenário na Bolsa. Neste ano as ações RAPT4 acumulam perdas de 31,56%, enquanto os papéis da Marcopolo têm queda de 16,39% em 2014. Apesar dos dados da indústria em junho serem os piores, as ações não tiveram quedas tão acentuadas. No caso da Randon os ativos caíram 3,79% em junho, enquanto as ações POMO4 recuaram 0,76%.

Enquanto isso, Usiminas e CSN, que já passam por dificuldades por outras razões, também ligam o alerta com o setor automobilístico. Com maior foco em produção de aços planos, as duas companhias têm um terço de suas vendas no mercado interno indo para este setor. No ano, Usiminas e CSN veem suas ações acumularem desvalorização de 41,31% e 27,40%, respectivamente.

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Vale destacar ainda a Gerdau, que apesar de ser mais focada no mercado externo, principalmente nos EUA, também tem certa exposição ao setor automobilístico, sendo que boa parte de suas vendas de aços especiais no Brasil vão para a produção de caminhões e ônibus. Em 2014, as ações GGBR4 acumulam perdas de 24,27%.

Pior resultado em 2014
Na segunda-feira, a Anfavea mostrou que a produção nacional de veículos em junho atingiu 205,2 mil unidades, volume 32,4% menor que no mesmo período de 2013. O pior desempenho do mês e semestre foi na produção de caminhões, que caiu 49,3% em junho e 18,8% no primeiro semestre. Em termos de vendas, medidas pelos licenciamentos de veículos nacionais, houve uma queda de 17,5% em junho e de 7,1% no semestre. A maior queda das vendas ocorreu nos ônibus, com redução de 20,5% no mês e 13,9% ente janeiro e junho.

Anfavea atribuiu a queda na produção em junho ao grande número de feriados provocados pela Copa do Mundo e também às férias coletivas concedidas por várias montadoras. Além disso, pesou para o setor o aumento do IPI, a maior seletividade dos bancos na concessão de crédito e as restrições de exportações para a Argentina, que é o maior comprador dos automóveis brasileiros (cerca de 3⁄4 da exportação brasileira).

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Com este ambiente negativo no primeiro semestre, a Anfavea revisou suas estimativas para o desempenho do setor no ano. A entidade prevê quedas de 5,4% nos licenciamentos, 10% na produção e redução 29,1% das exportações. Estas projeções, apesar de fortemente negativas, embutem uma expectativa bastante otimista para o segundo semestre.

Na segunda parte do ano, a Anfavea acredita que ocorra uma alta de 13,2% na produção e 14,3% nas vendas. Para os analistas da Planner, mesmo considerando um maior número de dias úteis no segundo semestre – 127 dias úteis contra 119 no primeiro semestre -, é difícil de acreditar numa melhora tão expressiva do setor, considerando o presente ambiente econômico.

Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.