Sustentável ou “fogo de palha”? O que dois grandes bancos pensam do rali da Bovespa

HSBC espera que rali se estenda por mais um tempo, a não ser que perspectivas para as eleições mudem drasticamente; já para BTG, animação com Brasil ainda é precipitada

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Desde que o mercado brasileiro de ações chegou ao nível mínimo de 14 de março, foi registrada uma alta de 16% do Ibovespa em reais e de 24% em dólares.

Conforme apontam os estrategistas do HSBC, André Carvalho e Marina Valle, o rali se deveu praticamente à reclassificação da relação entre preço sobre lucro por ação, de 8,5 vezes para 10,2 vezes. E isto ocorreu, em grande parte devido a expectativas de melhoria em termos políticos após as eleições de outubro, ao passo que as previsões de lucros permaneceram bastante estáveis.

E, neste sentido, apontam os estrategistas, uma corrida eleitoral apertada e ajustes políticos esperados para depois das eleições resultariam na expansão desta relação de preço sobre lucro das empresas. Porém, as perspectivas de deterioração para os resultados, conforme o PIB desacelera e os riscos apontam para uma recessão após as eleições contrabalanceiam estas projeções.

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Assim, eles esperam que o momento positivo do mercado acionário brasileiro continue. Porém, a reclassificação adicional de múltiplos pode ser parcialmente neutralizada pelo corte nas projeções de resultados, o que leva a uma expectativa de queda do desempenho do índice MSCI Brasil.

Os fatores que contribuíram para alta e o que esperar
Carvalho e Valle ressaltam que os ralis recentes tanto do Ibovespa quanto do MSCI Brasil provavelmente refletiram catalisadores globais e domésticos. A grosso modo, avaliam, fatores globais contribuíram em 40% para o último rali, ao passo que os catalisadores locais foram responsáveis por 60%. 

Desde 14 de março, o MSCI Mercados Emergentes apresentou retorno de 7,6% refletindo os ventos favoráveis globais e, aplicando o beta ao retorno das ações brasileiras, chega-se a um valor de 40% dos fatores globais ao retorno do MSCI Brasil, avaliam.

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Assim, os catalisadores domésticos têm sido dominantes provavelmente relacionados à percepção de uma probabilidade crescente de um candidato mais ligado ao mercado – os candidatos da oposição ou o ex-presidente Lula –  ser eleito na corrida presidencial de outubro de 2014.

Eles apontam que o momento positivo poderia durar por um período mais prolongado, considerando que os investidores podem neutralizar o risco político. Com o índice de aprovação da administração Dilma em 35%, o HSBC acredita que o indicador risco-retorno favorece a manutenção no mercado acionário por enquanto. Por outro lado, pequenos desvios para baixo nos índices de aprovação podem aumentar substancialmente as chances de uma evolução na política macroeconômica após as eleições, enquanto que pequenos desvios para cima não alterariam muito a avaliação das eleições presidenciais como uma corrida apertada, afirmam os estrategistas. 

A leitura pode mudar, apontam Valle e Carvalho, caso o índice de aprovação de Dilma aumente muito –  para cerca de 45% – e/ou o risco negativo de racionamento de energia elétrica venha a neutralizar amplamente as notícias no âmbito político. “Contudo, não esperamos que nenhum desses eventos venha a ocorrer em um futuro próximo”, apontam.

Animação com Brasil ainda é precipitada, aponta BTG
Enquanto isso, a equipe de análise do BTG Pactual ressaltou em relatório que é ainda muito cedo para elevar as projeções acerca do desempenho acionário brasileiro após o rali eleitoral. Com isso, ainda é cedo para ficar otimista com o País, apontam os analistas do banco.

“Nós entendemos a excitação sobre o País e nós concordamos que o panorama eleitoral ainda está pouco claro. Porém, nós ainda pensamos que é muito cedo para termos uma posição overweight [exposição acima da média do mercado]”, avaliam os analistas.

Para eles, os fundamentos não estão melhorando, os lucros vêm registrando riscos de queda, as valorações parecem superestimadas e os prováveis programas de racionamento de energia devem afetar a economia negativamente, mesmo que depois das eleições de outubro. “Apesar de dois bons meses e pesquisas eleitorais mais favoráveis ao mercado, nós preferimos (ainda) não fazer nenhuma aposta no campo eleitoral”. 

Com isso, eles mantêm recomendação underweight (abaixo da média do mercado) em Brasil, enquanto as expectativas para os outros países não mudou, com recomendação overweight para o México, mas não de forma tão agressiva, dado o valuation. Os analistas ainda estão overweight em Colômbia e neutros em Chile e Peru.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.