Grande demais para a Bolsa: saiba por que Stuhlberger vai devolver bilhões aos cotistas

Com pouco mais de R$ 14 bi em carteira, os fundos geridos por Luis Stuhlberger e sua equipe tornaram-se "inoperáveis" no mercado brasileiro, comenta Alberto Jacobsen, da Risk Office

Paula Barra

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SÃO PAULO – Um dos fundos mais aclamados do País anunciou na semana passada que vai devolver quase R$ 5 bilhões aos seus clientes. Com pouco mais de R$ 14 bilhões em carteira, os fundos geridos por Luis Stuhlberger e sua equipe tornaram-se num linguajar popular “inoperáveis” no mercado brasileiro. Eles superaram a “intransponível” barreira dos R$ 10 bilhões, disse Alberto Jacobsen, presidente do Risk Office, consultoria de avaliação de risco, com mais de R$ 380 bilhões em ativos.

“Empiricamente, não existe nenhuma ciência, mas parece que R$ 10 bilhões é uma barreira complicada para os fundos multimercados. Stuhlberger parece estar querendo associar sua gestão para algo mais próximo a esse montante”, comentou Jacobsen, em entrevista ao InfoMoney. Atualmente, a Risk Office possui uma carteira formada por 340 clientes e tem 5.000 carteiras sob consultoria, representando mais de 50 milhões de operações.

Hoje o Fundo Verde, gerido por Stuhlberger, é o maior do Brasil: até semana passada, possuía um patrimônio líquido de R$ 14,306 bilhões, contra uma média de R$ 314,9 milhões por fundo, conforme levantamento da Risk Office. Dentre os 280 fundos multimercados macro (que operam diversas classes de ativos) pesquisados pela consultoria, 95% possuem patrimônio inferior a R$ 1,5 bilhão. O levantamento exclui fundos exclusivos e espelho e considera apenas os fundos que possuem histórico mínimo de cotas maior do que 12 meses. 

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Devolução bilionária
Por mais estranho que possa parecer essa devolução bilionária, Jacobsen explica que isso ocorreu para que o fundo conseguisse seguir entregando bons resultados, evitando uma situação semelhante que ocorreu no passado com os fundos Advis. “Quando os fundos Advis atingiram um certo patrimônio, eles não conseguiram mais repetir os resultados passados”, comentou. 

No caso do Advis, eram dois fundos: o Advis Delta e Advis Enduro. Ambos tinham estratégia muito semelhante, portanto na prática funcionavam como um. Em março de 2013, eles atingiram aproximadamente R$ 8 bilhões, R$ 5,8 bilhões e R$ 2,1 bilhões cada, respectivamente, e a partir daí seus resultados não foram mais os mesmos. 

Para se ter uma ideia, comenta Jacobsen, na época, o fundo Verde possuía R$ 12 bilhões em ativos e o terceiro maior fundo multimercado macro era o SPX, que tinha um patrimônio de “apenas” R$ 2,6 bilhões.

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É interessante notar também que a maioria dos fundos fecha para captação acima de um certo patrimônio líquido, geralmente entre R$ 1,5 bilhões e R$ 2 bilhões. “Isso ocorre justamente porque os gestores sabem da dificuldade em operar com volumes maiores”, disse.

Para se ter uma ideia, menos de 20 ações das 72 que compõem o Ibovespa possuem uma média diária de negociação superior a R$ 100 milhões. Ou seja, se um fundo de R$ 10 bilhões aplicar 1%, um montante irresório para tal patrimônio, já seria suficiente para criar uma forte distorção no papel caso quisesse zerar sua posição em um dia, e isso para as ações mais líquidas da Bovespa. Dentro do próprio Ibovespa há papéis que negociam uma faixa de R$ 10 milhões por dia, ou seja, nesses casos o fundo levaria mais de 10 dias para conseguir se desfazer de uma posição semelhante. 

Confira os maiores fundos da época e suas respectivas rentabilidades:

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Fonte: Risk Office

Fundos de ações livres
Já em relação aos fundos de ações livres (onde o gestor não se compromete com um indicador específico), Jacobsen comentou que normalmente eles performam melhor com um patrimônio em torno de R$ 500 milhões. “Por isso, os fundos de assets independentes tendem a performar melhor do que os fundos de grandes bancos”, comenta. 

Segundo ele, fundos que são atrelados a um indicador específico normalmente têm mais facilidade de se movimentar no mercado, “eles fazem apostas óbvias”, o difícil mesmo são para aqueles que buscam superar o Ibovespa. Isso porque há falta de liquidez no nosso mercado.

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Nos últimos 15 meses, esses fundos têm sofrido com o resgate dos cotistas porque o dinheiro tem fluído em direção à renda fixa, disse. “A maior parte do dinheiro foi para LCA e LCI, que no momento são quase imbatíveis”, complementa.