Bovespa pode repetir 2013 e subir após derrocada? Não conte com isso, diz Citi

Condições técnicas de mercado - como a quantidade de posições vendidas - fazem com que as chances de uma forte virada parecem menores

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Na última sexta-feira, o Ibovespa teve o seu primeiro fechamento abaixo dos 45 mil pontos desde abril de 2009Na última vez que caiu tanto, em julho de 2013, o índice teve uma virada abrupta e subiu quase 20% até outubro. Conforme ressaltam os estrategistas do Citigroup, a alta foi interrompida apenas quando os números fiscais decepcionaram e a Petrobras (PETR3;PETR4) não cumpriu a promessa de adotar uma política pública permanente para atrelar os preços domésticos dos combustíveis aos preços internacionais do petróleo.

Nos dois pregões desta semana pós-renovação de mínima, no entanto, o principal índice da Bovespa comemorou ganhos, sendo que na última terça-feira (18) ele subiu 2,29% – seu 2º melhor pregão do ano. Será que o benchmark da bolsa brasileira pode apresentar um movimento de reversão altista, assim como no ano passado? Se depender dos analistas do Citi, é melhor não contar com isso.

Desta vez, as chances de uma forte virada parecem menores, a julgar pelas condições técnicas, como as posições vendidas”, afirmam os estrategistas Stephen Grahan e Fernando Siqueira, em relatório divulgado na segunda-feira (17) – antes da forte alta apresentada ontem.

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Eles destacam que o principal fator melhor do que em 2013 é que as valorações estão ainda menores enquanto o lucro, puxado pela moeda mais fraca, continua aumentando. Porém, além de um repique nos mercados emergentes internacionais, as definições políticas e ministeriais e o envio de sinais adequados sobre a política fiscal pós-eleitoral são provavelmente necessários para criar uma forte reação desta vez. Mas esses fatores não são efetivamente plausíveis até a segunda metade do ano.

Estrangeiro “apático”; câmbio não oferece suporte
O investidor externo 
adotou a posição de vendedor durante a correção de maio e junho de 2013 – com o medo da redução dos subsídios nos EUA afetando os emergentes – e a de comprador durante o repique de julho a setembro. Siqueira e Grahan destacam que não há mais o movimento temerário de venda por parte dos estrangeiros desta vez; mesmo assim, percebe-se uma certa apatia.

Essa falta de iniciativa por parte dos gringos é percebida no menor giro financeiro na Bovespa. Com o volume médio diário de negociações em R$ 5,7 bilhões até o momento em 2014, o volume está 15% abaixo da média de 2013 e 25% abaixo do observado no período de vendas exageradas de maio a junho de 2013, lembram os estrategistas. Ao mesmo tempo, as operações a descoberto estão abaixo da média. Após aumentarem de uma média de 5% para 7% em maio e junho de 2013, as operações atuais voltaram para o patamar de 5%. 

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Com relação ao câmbio, os estrategistas ressaltam que o real se desvalorizou durante a correção do mercado em 2013, caindo mais de 20% entre abril e agosto. Em contraste, o real tem permanecido praticamente estável em relação ao dólar durante esta correção mais recente, desde novembro de 2013. “Isso não ajuda a criar uma reação nas negociações do investidor estrangeiro, que acredita que o real já caiu o suficiente, ou que vê um novo impulso da moeda afetando o lucro dos exportadores e de outras empresas brasileiras”, afirmam.

Fundamentos dizem “compre”; gráficos dizem “espere”
Enquanto isso, outros indicadores técnicos mostram sinais mistos, com o percentual de ações sendo negociadas acima da média móvel de 50 dias – linha traçada no gráfico que calcula o preço médio dos últimos 50 pregões da ação – é de mais de 35%, mostrando que pelo menos um terço dos papéis acompanhados pelo Citi ainda estão sendo negociados a um preço acima da média. “Historicamente, um repique geralmente ocorre depois que esse indicador chega a menos de 20%”, afirma a dupla.

Por outro lado, o índice que calcula a relação entre o preço das ações e o lucro das companhias tem mostrado queda, sobretudo após os altos lucros divulgados pelas companhias no 4º trimestre de 2013, dando sinais de que os preços estão “descontados” em relação ao que as empresas têm dado de resultado. A relação do P/L (Preço/Lucro) do MSCI Brasil caiu de 9,4 vezes em junho de 2013 para os atuais 9,2 vezes, e pode cair ainda mais à medida que os dados sejam atualizados.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.