O estresse já passou? De acordo com o Citi, ainda não chegamos lá

Ainda é cedo para cantar vitória, avaliam os economistas do banco, ressaltando que as três principais ameaças para os emergentes ainda seguem no radar do mercado

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Diferente do movimento em janeiro e apesar da situação na Ucrânia, os países emergentes estão tendo dia mais calmos, pelo menos nos mercados financeiros. É o que avalia o Citi, que destaca que há alguns sinais de estabilização e questiona: o estresse passou?

Os economistas Guillermo Mondino, David Lubin e Johanna Chua fazem essa pergunta ressaltando que um elemento importante para a a tese de estabilização dos emergentes vem da ideia de que possa haver sinais de melhoria nos dados econômicos. Eles avaliam que, “no final de fevereiro, o índice de surpresa econômica do Citi ficou próximo de níveis que não víamos desde 2011, quando os emergentes foram inicialmente afetados pelo choque externo negativo – com a queda no crescimento das importações dos desenvolvidos – que tem tido tanta influência na desaceleração econômica dos emergentes e na deterioração do atual balanço de conta corrente desses mercados”, avalia. 

Eles avaliam que, olhando mais de perto, no entanto, é difícil defender uma tese forte de otimismo em torno do crescimento dos emergentes, uma vez que o nível atual do índice de surpresa do Citi se explica quase que inteiramente por dados melhores do que o esperado em somente quatro países: China – com um peso de 25,5% no índice -, Indonésia, Rússia e o Brasil. 

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E avaliam: na China, há dúvidas para duvidar da força das exportações, considerando as evidências de maior fluxo de entrada de capital especulativo o que, até certo ponto, reflete-se no superfaturamento das exportações. Prova disso são os dados negativos da balança comercial divulgado pelo gigante asiático no último final de semana, que mostrou uma forte queda das exportações e refletem temores de desaceleração

Além disso, no Brasil e na Rússia, as balanças comerciais surpreendentemente boas têm mais a ver com o crescimento fraco dos gastos no mercado doméstico do que com o fortalecimento das exportações, cujas evidências são poucas. 

Com isso, há razões para ser relativamente pessimista com as exportações dos emergentes. Nos EUA, há evidências sugerindo que o aumento das importações, excluindo produtos energéticos, o que tem sido consideravelmente mais fraco do que em estágios semelhantes do ciclo econômico do país em qualquer momento desde 1980. Além disso, a persistência do superávit de conta corrente na zona do euro sugere que as perspectivas de um forte aumento na demanda por importação sejam fracas. 

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Mais anti do que pró-crescimento
Desta forma, os eventos recentes sinalizam que os emergentes são mais anti do que pró-crescimento, ressaltando que as altas dos juros na Turquia e na África do Sul em janeiro e fevereiro indicam que o crescimento mais fraco dos gastos domésticos será o principal mecanismo usado por esses países para acompanhar a Índia e a Indonésia em direção ao ajuste de conta corrente. “Esperamos que a Turquia, cuja política de juros mudou mais decisivamente do que a sul-africana, se movimente mais rapidamente em direção a um processo de ajuste, particularmente considerando que a conta de importações da África do Sul seja mais persistente, graças à demanda por importações relacionadas à infraestrutura”, avaliam.

E avaliam ainda que os ajustes de conta corrente podem ser suficientes para estabilizar alguns mercados. Porém, há outras nações como o Brasil e a Rússia onde a causa do fluxo de saída de capital tem menos a ver com déficits de conta corrente não financiáveis e mais com a ausência de uma trajetória confiável de aceleração do crescimento econômico“E já que ainda vemos sinais das três principais ameaças à estabilidade dos emergentes – as perspectivas incertas para o fluxo de entrada de capital, o crescimento relativamente fraco das exportações e a continuidade das dúvidas em relação à China – nossa conclusão é, não, ainda não chegamos lá”, afirmam os economistas.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.