As ações que ganharam e sofreram com a disparada recente do DI e do dólar

Embraer foi destaque de alta no último pregão após dólar bater R$ 2,30; já imobiliárias, Eletropaulo e Eletrobras despencaram com DI se aproximando de 12%

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – A deterioração das contas públicas brasileiras colocando a nota de crédito soberano do País em xeque, a perspectiva de uma Selic cada vez mais alta e os temores dos impactos que o início da retirada gradual dos estímulos nos EUA pelo Fed têm provocado uma reação enérgica nos mercados cambial e de juros futuros. E toda essa distorção tem se refletido na Bovespa.

Na última terça-feira (5), o dólar comercial subiu 1,98% e fechou a R$ 2,2893 na venda, voltando a se aproximar dos R$ 2,30 – patamar não atingido desde 11 de setembro deste ano. Enquanto isso, os contratos de juros futuros também disparam apoiados na expectativa de que o Copom (Comitê de Política Monetária) mantenha o ritmo de altas na Selic por um período maior: desde a última sexta-feira (1), a taxa dos contratos com vencimento em janeiro de 2016 saltou de 11,39% para 11,57%, enquanto aqueles com vencimento em janeiro de 2017 foram de 11,62% para 11,87%.

Nesta quarta-feira (6), tanto os contratos futuros de DI quanto o dólar iniciam o dia com leves altas.

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Impactos na bolsa
Um cenário de aversão ao risco por si só já teria grande impacto em ativos de maior risco – como o mercado acionário. Contudo, a precificação do cenário apontado acima tem gerado um toque a mais de volatilidade em algumas ações da Bovespa.

Do lado positivo, aparece a Embraer (EMBR3), que liderou os ganhos do Ibovespa ao subir 4,05%, atingindo R$ 17,20. A companhia possui boa parte da sua receita lastreada em dólares, tendo em vista que muitas de suas vendas vão para o exterior.

Do lado negativo, aparecem entre as principais prejudicadas as companhias com grande endividamento, tanto em dólares quanto em reais. É o caso da Marfrig (MRFG3), que despencou 6,67%, para R$ 4,48, e das elétricas Eletropaulo (ELPL4, R$ 9,35, -5,08%) e Eletrobras (ELET3, R$ 6,40, -5,19%; ELET6, R$ 11,06, -3,57%).

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Enquanto isso, a expectativa de mudança na taxa de juros, afeta fortemente as construtoras, que correm o risco de verem suas vendas caírem com o consumidor tendo mais dificuldade de financiamento. Na última sessão, Rossi (RSID3, R$ 2,54, -5,22%), Brookfield (BISA3, R$ 1,26, -4,55%), MRV Engenharia (MRVE3, R$ 8,98, -4,06%) e Gafisa (GFSA3, R$ 2,89, -2,69%) viram suas ações ocuparem as maiores quedas do Ibovespa.

Dólar a R$ 2,30 em 2013
Apesar da forte alta das últimas sessões, o dólar não deve atingir patamares muito acima dos atuais neste final de ano. Segundo Galhardo, a forte queda para R$ 2,15 da moeda norte-americana após o anúncio do programa de leilões de swap do BC foi exagerada e não tinha tanto fundamento devido ao cenário econômico nacional.

“O BC anunciou o programa mas a situação do País não mudou. Nós continuamos com um fluxo negativo e balança em déficit, não tinha porque o dólar cair tanto”, explica ele. Segundo o gerente, a autoridade monetária tem poder para realizar novas intervenções e impedir uma alta descontrolada da divisa. Com isso, a divisa deve encerrar o ano próxima do patamar atual, próxima de R$ 2,30.

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Para a equipe da Nomura, o dólar está testando uma resistência bastante importante e eles acreditam que as correções iniciais já estão precificadas. “Nós acreditamos que o BC irá aumentar o tom e, verbalmente, irá reforçar que o programa de leilões de swap está aberto e irá ocorrer até o final do ano”, completa a Nomura.

Cenário negativo no Brasil e Fed preocupam
Segundo o gerente de câmbio da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo, os recentes dados apresentados pelo governo brasileiro derrubaram a confiança dos investidores. “Fluxo cambial negativo, balança comercial deficitária e resultado fiscal ruim são fatores que trazem forte pessimismo para o mercado”, explica ele.

Reforçando esse cenário, na última segunda-feira, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, afirmou que a autoridade monetária tem de permanecer “especialmente vigilante” no combate à alta dos preços. Com isso, investidores e analistas passaram a entender que o ritmo de altas da taxa Selic deve se manter, o que pode levar a taxa de juros para 10% ao ano ainda em 2013.

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Galhardo lembra que a falta de sinalização do Federal Reserve em relação ao início da retirada dos estímulos nos EUA tem trazido mais aversão ao risco por parte dos investidores. Vale ressaltar que nos próximos dias o país divulga o seu PIB (Produto Interno Bruto) do terceiro trimestre e o relatório de emprego, que podem trazer uma confirmação do cenário de crescimento do país, o que aceleraria a retirada de estímulos.

Por outro lado, a equipe da Nomura Securities destaca que 2014 é ano de eleições, e que com o atual cenário, o PT não deve arriscar uma derrota e pode tomar certas decisões para que o partido se mantenha no poder, mesmo que isso levasse o Brasil à um downgrade em sua nota de crédito.

Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.