Economista americano prevê fim do “milagre chinês” e colapso para mineradoras

Michael Pettis diz que modelo de crescimento baseado nos investimentos só poderá aguentar no máximo 4 anos antes de entrar em crise

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – Em cinco anos, a China não representará mais 60% de todo o consumo global de minério de ferro, afirmou o economista norte-americano e professor da Peking University’s Guanghua, Michael Pettis, durante o 8º Seminário Internacional da Acref (Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento). Na visão dele, o país inevitavelmente terá de passar por um período de ajustes nos próximos anos, que culminará em uma redução significativa no nível de consumo da segunda maior economia do mundo por matérias-primas.

De acordo com Pettis, a consequência da redução na demanda por minério por parte da China será um “colapso no preço das commodities”, o que deverá impactar significativamente no desempenho das mineradoras brasileiras nos próximos anos, como a Vale (VALE3, VALE5), que atualmente tem a China como seu maior destino de exportações. “Não haveria palavra melhor para descrever o que eu realmente acredito que vá acontecer com esses produtos nos próximos anos. Não há como as commodities se manterem nos preços atuais”, enfatiza o economista.

As projeções do professor são de que o modelo de crescimento do país, insustentável para ele, está com os dias contados para começar a travar e exigir mudanças. Pettis destacou ainda que o desenvolvimento chinês não é um tipo inédito, como antes se acreditava. “Depois de anos de estudo, percebi que não há nada de único no que está acontecendo com a China. O país está passando por um momento que podemos chamar de crescimento baseado em um boom dos investimentos, o mesmo que diversos casos na história, sendo muito bem-sucedido no começo, mas seguido por complicadíssimos momentos de ajustes posteriormente”, afirma.

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Na história, há diversos exemplos de crescimento baseado em uma alta desenfreada no setor dos investimentos, como o próprio “milagre econômico” brasileiro, que apresentou por uma década alta anual superior a 10% no PIB (Produto Interno Bruto). Também ilustram a possível aproximação de um “déjà vu” econômico, desta vez protagonizado pela China, os exemplos vividos nos últimos anos de existência União Soviética, além do momento de pujança da economia japonesa durante as décadas de 1970 e 1980.

Todo país que teve variação como esta no modelo de crescimento passaram por um período de ajustes como este que a China terá de passar nos próximos anos. Não é coincidência ou acidente”, argumentou Pettis, que também projeta um aumento sensível na instabilidade política do país no futuro próximo. “Quando Brasil e URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas) entraram no processo de ajustes, tiveram momentos difíceis na política. Podemos esperar o mesmo da China”, completa.

Os 3 motivos
O economista destacou três tópicos principais que justificam o necessário momento de ajustes na economia chinesa – os mesmos que, na história, acompanharam países que antes adotaram o modelo de crescimento baseado nos investimentos: o nível de desvalorização do yuan, o crescimento lento dos salários e os juros muito baixos. Como consequência disso, quem paga a conta são as famílias, que perdem cada vez mais relevância PIB, enquanto a participação das elites e do Estado aumentam.

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Os ajustes destacados como necessários para a adoção de um modelo sustentável para a segunda maior economia do mundo se relacionam com a diminuição dos investimentos e o aumento do estímulo ao consumo, com o aumento da participação das famílias na atividade econômica. Do lado político, na visão do economista, o país terá de sair de cima do muro, abandonando naturalmente atual modelo híbrido. “A economia chinesa só pode ser bem-sucedida se o país sair do meio e optar por um dos extremos: o governo centralizado ou a democracia”, aposta Pettis.

“O PIB vai cair, não tem outro caminho”
Com o país chegando ao limite do atual modelo de crescimento – o economista estima que o país ainda possa manter o modelo por, no máximo 3 ou 4 anos antes de entrar em uma grave crise se não tomar as medidas adequadas -, Pettis projeta queda no aumento da atividade econômica chinesa em breve. “O PIB vai cair, não tem outro caminho. O crescimento deve variar de 3% a 4% ou até menos após os ajustes, afirmou.

O professor da Peking University’s Guanghua encerrou a palestra traçando seu ideal para o sucesso das nações no plano econômico. “Países bem-sucedidos não são os países que conseguem administrar um período de rápido crescimento; são aqueles que conseguem lidar com o período de ajustes bem”, concluiu Michael Pettis.

Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.