Por que o Brasil não cresce? André Esteves, do BTG Pactual, responde

Banqueiro atribui crescimento "medíocre" do ano passado e "pouco brilhante" neste ano a quatro fatores estruturais e duas razões conjunturais

João Sandrini

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(SÃO PAULO) – O banqueiro André Esteves, sócio controlador e principal executivo do BTG Pactual (BBTG11), o maior banco de investimento fora dos Estados Unidos, é um sujeito que gosta de ver o copo meio cheio e as oportunidades – independente do cenário econômico. Em palestra na Expert 2013, o congresso anual promovido pela XP Investimentos nos últimos três dias, o banqueiro admitiu que o noticiário econômico recente tem sido “muito negativo”. Ele avalia que o Brasil não é tão bom quanto aquele foguete ilustrado na capa da revista The Economist há alguns anos, mas também não é tão ruim quanto está sendo dito nos últimos meses.

A inflação está “teimosamente” acima da meta. O déficit em transações correntes se aproxima de 3% do PIB. O superávit primário deste ano deve vir pouco abaixo de 2% do PIB – o que é uma das justificativas para a Standard & Poor’s ter colocado o rating soberano do país em perspectiva negativa. Mas o Brasil segue em tendência de crescimento, a inflação é bem menor que no passado, os juros continuam em um patamar historicamente baixo e as reservas internacionais são muito maiores. O país tem ainda escala (devido à população de 200 milhões de habitantes), tem a maior extensão de terras aráveis, tem uma matriz energética limpa e renovável, abriga uma população jovem e com mobilidade social, recebeu imigrantes de diversas regiões e é líder em commodities agrícolas, carnes e minério de ferro.

Além disso, o governo tem tomado medidas corretas recentemente. “Eu gosto das últimas notícias. O Banco Central perdeu a vergonha de subir os juros. O governo removeu o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) para investimentos em renda fixa de estrangeiros. A próxima rodada de leilões de blocos de petróleo terá mais áreas que o previsto inicialmente. Mesmo com todo o atual negativismo, o Brasil fez o maior IPO [oferta inicial de ações] do mundo neste ano, o da BB Seguridade (BBSE3). O da Votorantim Cimentos pode ser ainda maior. E a Petrobras (PETR3, PETR4) fez a segunda maior emissão no mercado internacional de títulos de renda fixa neste ano.” Mas por que então o país não cresce? Para o banqueiro, há dois motivos conjunturais e quatros razões estruturais:

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Fatores estruturais:

1 ) O governo está na direção certa, mas está perdendo o jogo das expectativas – Muitos empresários não confiam no governo, o que dificulta uma forte retomada dos investimentos. O banqueiro acha que é “fácil de reverter” esse problema, já que o excesso de intervencionismo na economia não seria tão grande quanto se fala. Bastaria, diz ele, o governo tomar umas “15 decisões racionais”. 

2) Deficiências em infraestrutura – O Brasil tem uma carência de portos, aeroportos, rodovias e ferrovias, uma vez que o consumo, o comércio exterior e a economia cresceram muito sem que houvesse investimentos proporcionais na área de infraestrutura. Mas esse é outro problema que não preocupa André Esteves. Para um banco de investimentos como o BTG Pactual, o déficit de infraestrutura é uma grande oportunidade – para financiar projetos ou participar deles de forma ainda mais ativa. Falta ao governo, no entanto, endereçar o problema. Ele lembra que na China, que tem um governo centralizado, é muito mais fácil de levar adiante investimentos em infraestrutura do que no Brasil – ainda que a democracia seja um sistema político mais “legítimo e consistente”. 

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3) O custo-Brasil – Esse é um problema que preocupa o banqueiro de verdade. O fato de ser mais caro produzir no Brasil está ligado, entre outros fatores, à elevada carga tributária. Impostos, taxas e contribuições representam 36% do PIB brasileiro. Suécia, Noruega e Japão têm uma carga tributária parecida – mas “eles não são a nossa turma’, diz Esteves. Em outros países emergentes, os impostos e contribuições representam 20% a 25% do PIB. Se todo o resto for constante, portanto, fica mais caro produzir no Brasil. Mas há um consenso na sociedade que é preciso baixar impostos. O banqueiro lembra que a agenda atual é de redução, ainda que o processo esteja sendo tocado de maneira um “pouco desordenada”. O governo quer desonerar e fazer concessões, “não é uma agenda doida”. A estratégia é correta, falta a execução ser correta. Ele também defende a implementação de uma agenda de reformas microeconômicas, que “são simples de fazer, mas precisam ser feitas”. “A sociedade precisa pressionar” o governo a andar nesse caminho. 

4 – Educação – Falta gente qualificada para impulsionar a economia brasileira. Os governos FHC e Lula fizeram, segundo ele, um trabalho “razoável” nessa área. Mas é um problema que leva tempo para resolver. 

Fatores conjunturais: 

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1) O Brasil cresceu muito acima de seu potencial em 2010 e, aos poucos, está devolvendo esse ganho. O crescimento potencial do Brasil é de 4% enquanto a alta do PIB em 2010 alcançou 7,5%. Então será preciso devolver esses 3,5% adicionais. Esteves exemplifica esse processo com o crédito ao setor de veículos. O governo tomou medidas para incentivar a compra de automóveis nos últimos anos. Os bancos acompanharam esse movimento abrindo as torneiras do crédito para a compra de veículos. Quando veio o aumento da inadimplência no ano passado, os bancos decidiram apertar as condições para a concessão de crédito nesse segmento, o que teve impacto nas vendas nos últimos meses. 

2) A economia mundial desacelerou em relação à década passada. A Europa ainda não conseguiu sair do atoleiro. Os EUA se recuperam mais rápido que o imaginado, mas, ainda assim, a taxas menos vistosas que na década passada. E a China e outros emergentes vêm em desaceleração.